Brasil mais distante de sua meta de desmatamento ilegal zero

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Na última Conferência da ONU sobre o Clima (COP26), no ano passado, o governo brasileiro prometeu que reduzirá o desmatamento ilegal em todo o país a zero até 2028. Não que essa promessa signifique muita coisa – afinal, precisamos reduzir todo e qualquer desmatamento a zero, especialmente na Amazônia, e não apenas o ilegal. Mas a sinalização foi vista no exterior como um esforço governamental para reforçar o combate à destruição florestal.

O problema é que, se os números mais recentes de desmate mostram alguma coisa, o Brasil não mudou sua trajetória. Pelo contrário: seguimos com as taxas de desmatamento crescendo a um ritmo preocupante. “O que vem acontecendo nos últimos oito anos é um aumento, e não uma diminuição do desmatamento”, comentou Cláudio Almeida, do INPE, para Amanda Magnani na Folha. “É preciso reverter a curva antes de pensar em baixar. Se nada mudar, não vamos atingir essa meta”.

Dados recentes do INPE mostram que a área total com alertas de desmatamento na Amazônia já supera os 5.460 km2, contando apenas os índices registrados pelo sistema DETER entre janeiro e julho de 2022. Essa área é 7,1% superior àquela registrada no mesmo período no ano passado. Já a somatória dos últimos 12 meses, de agosto de 2021 a julho de 2020, ficou em 8.579 km2, o 3º pior resultado da série histórica.

A omissão do governo federal é complementada por uma ação bastante limitada dos governos estaduais da Amazônia Legal. Nos últimos anos, os estados amazônicos intensificaram suas conversas e ações internas, inclusive como uma maneira de ocupar o vácuo deixado pela União na questão da proteção da floresta. Entretanto, como assinalado por Fabio Pontes no site ((o)) eco, os resultados desse esforço não são animadores. O Fórum dos Governadores da Amazônia Legal não conseguiu superar divisões político-partidárias entre os chefes do executivo desses estados, que na prática seguem se orientando mais pelos cálculos políticos de sua base política estadual, mesmo que ao custo da cooperação com seus vizinhos de floresta.

Enquanto isso, o candidato do PT à Presidência da República, o ex-presidente Lula, tentou se equilibrar entre um discurso de proteção da floresta amazônica e de promoção do desenvolvimento econômico para sua população. Em entrevista a uma rádio de Manaus (AM), o presidenciável disse que não quer transformar a Amazônia “em um santuário da humanidade” e defendeu investimentos internacionais não apenas na preservação ambiental, mas também em atividades econômicas que gerem renda sem derrubar a floresta. Agência Brasil, Correio Braziliense, Poder360 e Reuters repercutiram essas informações.

Em tempo: O colapso da fiscalização ambiental sob o atual governo federal foi destacado por Terrence McCoy no Washington Post. Falta tudo para os fiscais: dinheiro, proteção, mão de obra, infraestrutura. Para quem ficou nessa frente nos últimos quatro anos, a sensação diária é de que eles “secam gelo” – ou seja, eles trabalham muito mais do que no passado, muitas vezes sob sacrifícios financeiros e familiares, e, mesmo assim, a fiscalização não faz uma cócegas sequer nos infratores ambientais. “Ninguém vai para a cadeia. Por exemplo, em 2016, desmontamos um grande arco de desmatamento no sul do Pará, com 23 prisões. No final, ninguém está na cadeia”, lamentou Luciano Evaristo, ex-chefe de fiscalização do IBAMA.

Crédito: Claudio Angelo/OC

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