Encontro discute independência e democracia sob a ótica do movimento negro

Coalizão Negra por Direitos reúne intelectuais antirracistas e lança a plataforma do movimento para as eleições

Por Nicolau Soares, no Brasil de Fato

A Coalizão Negra por Direitos realiza nesta quarta-feira (7) o encontro “7 de Setembro: que democracia queremos?”. Com transmissão online, o evento vai reunir diversos nomes do movimento para discutir os conceitos de independência e democracia da perspectiva do povo negro, maioria da população e também sua parte mais sujeita a violências diversas.

Estão confirmadas as presenças de Cida Bento, psicóloga, ativista e diretora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (Ceert); Hélio Santos, professor e ativista da causa racial no país desde os anos 1970; Mônica Oliveira, ativista do movimento negro há mais de 30 anos, coordenadora de finanças da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e membro da Rede de Mulheres Negras do Nordeste; e a filósofa Sueli Carneiro, fundadora do Geledés — Instituto da Mulher Negra e uma das principais vozes do feminismo negro no Brasil.

Além deles, estarão presentes candidatos e candidatas nas eleições deste ano que fazem parte do Quilombo nos Parlamentos, iniciativa da Coalizão para apoiar candidaturas antirracistas e aumentar a presença de negros e negras nos espaços de poder do país.

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Eles participam do lançamento da Plataforma de Propostas de Políticas Públicas para as Eleições 2022, elaborada pela Coalizão para cobrar dos candidatos compromisso com ações concretas para a construção de um país menos racistas e mais justo.

Povo no centro da política

Sheila de Carvalho, Diretora Política do Instituto Peregum e integrante da Coalizão Negra por Direitos, lembra que o movimento lançou há um ano o manifesto Enquanto houver racismo, não haverá democracia. A partir desse texto e das elaborações mais recentes do movimento, a proposta é debater o que significam independência e democracia do ponto de vista do povo negro brasileiro.

“O que temos defendido é que a gente nunca viveu, nesses 200 anos de independência, uma plena democracia no Brasil. Sempre tivemos uma democracia colonialista, elitista, que não era pensada para todas e todos. Uma democracia que não colocava a representatividade do povo brasileiro dentro da centralidade do exercício da política”, afirma.

Nesse sentido, a Plataforma afirma a “necessidade e a urgência do combate radical ao racismo, pautado no reconhecimento da discriminação racial como estruturante das desigualdades vivenciadas pela população negra”.

“Estamos falando de algo que afeta diretamente a maioria do povo brasileiro, uma vez que indivíduos pretos e pardos representam 56% da população, segundo dados do IBGE. É correto, portanto, dizer que enquanto houver racismo não haverá democracia”, diz o documento.

Segundo Carvalho, a carta é “fundada na disputa de direitos” e na necessidade de políticas públicas para que “a gente consiga defender irredutivelmente a democracia, a igualdade racial, um futuro digno para a população negra, sem racismo, com distribuição de renda e com exercício do bem viver.”

O texto traz propostas e reivindicações do movimento nas áreas de saúde, educação, habitação, defesa dos direitos humanos e do meio ambiente, geração de emprego e renda e, especialmente, segurança pública.

“A gente não quer que ‘vidas negras importam’ seja apenas um slogan usado por poucos. Queremos que seja uma agenda central dentro das políticas de justiça e segurança pública do Brasil”, afirma Carvalho.

A verdadeira identidade nacional

Sheila destaca a necessidade de se disputar o significado do 7 de Setembro, aniversário de 200 anos da independência, mas marcado por manifestações da extrema-direita ligada ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Precisamos disputar essa identidade nacional dento de uma lógica representativa do que significa o Brasil hoje. A maior parte da população brasileira é negra, feminina, de mulheres”, afirma, defendendo o resgate e valorização das heranças negra e indígena como centrais para a identidade nacional.

“O crescimento da extrema-direita vem valorizar essa cultura colonialista, bem excludente do que é de fato a população brasileira”, afirma. “Então acreditamos que é importante, nesse 7 de Setembro, reafirmar qual é a verdadeira cara do Brasil, a verdadeira identidade do Brasil. E como a gente consegue fazer disso um impulsionamento para a gente discutir que Brasil pretendemos construir.”

Edição: Thalita Pires

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