A derrama de R$ 350 bi, por Bolsonaro, tornou a disputa ainda mais acirrada. Mas Lula segue favorito e é preciso garantir a vitória. Campanha precisa dar orientações claras e o candidato deveria rever ideia de não ir ao debate do SBT. Agora, cada minuto – e cada escolha – é decisiva
Por Gilberto Maringoni, em Outras Palavras
1. Há uma aproximação das curvas de intenções de votos entre Lula e seu oponente, mostram os levantamentos divulgados nos últimos dias. É preciso examinar com calma os números e o cenário político para buscar entender o que está acontecendo. Há mudanças, mas nada que tire a preferência do ex-presidente.
2. Faltando uma semana e meia para o segundo turno (30.10), o Datafolha divulga mais uma pesquisa, com dados recolhidos entre 17-19 de outubro. Lula alcançou 49% dos votos totais, ante 45% do oponente. O mesmo placar, na semana anterior, estava 49% a 44%. Lula está onde estava e o rival oscilou um ponto para cima.
3. Na sondagem Ipespe, publicada em 18 de outubro, o ex-presidente chegou a 49% dos votos totais contra 43% do adversário. Na semana anterior, o mesmo instituto apontava Lula com 50% e o candidato a reeleição exibia os mesmos 43%. O Ipec divulgou seu levantamento no dia anterior (17). O resultado: Lula teria 54% dos votos válidos, e o outro, 46%.
4. No final do primeiro turno, em 2 de outubro, Lula obteve 48,4% contra 43,2% do segundo colocado.
5. O levantamento do Datafolha é o único a captar o debate da Band e o episódio da pedofilia. Todos cobrem a baderna em Aparecida, o fiasco da extrema-direita no Círio de Nazaré e os gigantescos atos de Lula em várias capitais. Nenhum desses acontecimentos resulta em variações significativas na totalização das intenções de votos. Há variações nos números do Datafolha em regiões específicas (em especial em São Paulo) e em faixas de renda mais baixas. Em ambos os casos, o atual presidente aumenta sua vantagem.
6. Os três institutos mostram os efeitos da derrama de dinheiro público (mais de R$ 350 bilhões) em medidas demagógicas cometidas pelo governo. Entre outras estão a volta do auxílio Brasil, sua antecipação com vistas ao dia da votação, a parcela adicional em dezembro, o auxílio gás, os benefícios a taxistas e caminhoneiros, o empréstimo consignado, o programa de renegociação de dívidas na Caixa e a redução momentânea no preço dos combustíveis. Com tudo isso, o candidato a reeleição cresce um ponto.
7. Nem na República Velha (1889-1930) se tem notícia de tamanha patranha eleitoral com dinheiros públicos, com beneplácito do TSE e das altas instâncias da Justiça.
8. Diante deste quadro, não se deve estranhar a redução da diferença em um ponto entre os candidatos. O estranhamento é que o encurtamento da distância seja de APENAS um ponto, frente à verdadeira fraude em curso. O que impressiona não é a subida do miliciano, mas a muralha de intenções de votos mantida por Lula.
9. Neste momento, seria fundamental que a direção da campanha Lula – em especial a do PT – viesse a público orientar os apoiadores com análises e estratégias centralizadas de comunicação e mobilizações em busca de novos votos. É imprescindível que a direção se aproxime de sua base e aponte caminhos com firmeza e determinação, como têm feito André Janones, Felipe Neto, Manuela D’Avila e Guilherme Boulos. Cada minuto conta.
10. A eleição não está definida. A disputa se fará voto a voto, casa a casa e rua a rua. Estamos diante do mais importante enfrentamento eleitoral do mundo neste ano. No Brasil se pautará o avanço ou o recuo do fascismo em escala global. Mesmo tendo estabelecido governos da Hungria e na Polônia, de estar prestes a assumir o poder político na Itália e de ter avançado na Suécia, na Espanha e em Portugal, nenhum desses países tem o peso e a capacidade de articulação global do Brasil. Os resultados aqui terão repercussões em toda a América Latina e no Sul global. Internamente, em 30 de outubro será decidido o futuro de mais de uma geração de brasileiros e brasileiras. A regressão política e social gerada por um segundo governo do genocida pode ser irreversível por décadas.
11. Por fim, uma preocupação. Lula decidiu não comparecer ao debate do SBT, marcado para sexta (21). Um duelo televisivo desse tipo é assistido para muito além das bolhas. Num quadro de redução da diferença de intenções de voto, pode ser um risco mal calculado nesses dez dias que abalarão o mundo.