Produção de alimentos, flora, fauna e pessoas do Assentamento Lagoa do Junco e proximidades, em Tapes foram atingidas com deriva de agrotóxicos nos últimos dias
Por Maiara Rauber, na página do MST
“Mais uma vez estamos diante da ação criminosa do agronegócio, que insiste no uso de veneno em condições que desrespeitam os condicionantes ambientais, expõe a riscos as populações e comprometem a produção agroecológica desenvolvida por famílias que se dedicam a produção de alimentos livres de agrotóxicos e insumos químicos” expõe Álvaro Delatorre, do setor de produção e certificação orgânica do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra no RS.
O assentamento Lagoa do Junco, no Município de Tapes, na região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, é mais um assentamento da Reforma Agrária atingido por derivas aéreas de agrotóxicos. No último dia 27 de outubro, pela parte da manhã, entre às 8 horas e 20 minutos até as 11 horas houve pulverização aérea na lavoura de soja da fazenda próxima ao assentamento, de acordo com os Sem Terra do local.
Conforme constatado pelo anemômetro, equipamento que mede a velocidade do vento, de uma família, o vento se deslocava no sentido ao assentamento, a uma velocidade de 18 km/hora, atingindo uma Área de Preservação Permanente (APP) e a agrovila em que vivem mais de 26 famílias assentadas. “Essa ação assumiu o risco de contaminação ambiental (fauna e flora), das pessoas e dos cultivos orgânicos praticados pelos camponeses e camponesas na produção de hortaliças e arroz certificados pelo Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade (OPAC COCEARGS).
Por orientação do Setor de Direitos Humanos do MST, foi sugerido que as famílias atingidas realizassem um registro junto à Delegacia de Polícia Civil do município, conforme Boletim de Ocorrência – BO – Nº 1689.
Assim que o OPAC COCEARGS e o Setor de Direitos Humanos foram comunicados do fato, os encarregados notificaram o Ministério da Agricultura, através da Ouvidoria do Órgão, do Núcleo responsável pela garantia orgânica dos alimentos e o Setor de Fiscalização da Pulverização Aérea de Agrotóxicos. O Setor de Produção Orgânica do MAPA esteve no dia 01 de novembro no assentamento, na unidade de produção afetada pela deriva, para verificação dos danos e coleta de amostras para análise de agrotóxicos. Diante do fato o OPAC COCEARGS notificou o Grupo de Certificação (agricultores que trabalham em conjunto no processo de verificação da conformidade) para a não comercialização dos cultivos como produção orgânica, até a manifestação do setor dos orgânicos do Ministério.
De acordo com as famílias Sem Terra que comercializam suas produções orgânicas, desde que a deriva de agrotóxicos que os atingiu, os consumidores têm sido informados sobre o acontecido, para que os mesmos tenham consciência da problemática e se unam na luta contra os agrotóxicos.
De acordo com Álvaro Delatore, a partir de relato das famílias Sem Terra, uma nova pulverização ocorreu alguns dias após a primeira. No entanto, a pulverização de veneno foi por via terrestre, com o uso de trator pelo vizinho. “Isso acabou causando mais preocupação visto que a aplicação foi feita próxima à comunidade, divisa com a produção de arroz orgânico e a 200 metros da horta orgânica” afirma o técnico. Naquela data, 06 de novembro, a velocidade registrada pelo anemômetro foi de 14 km/hora, conforme apresentado pelos camponeses.
O MST e as famílias Sem Terra novamente denunciam a utilização e aplicação de veneno, provando seus malefícios contra a natureza e a vida humana. “É uma irracionalidade do ponto de vista ambiental, econômico e de saúde pública”, pontua Delatorre.
O OPAC Coceargs e as famílias camponesas do MST que produzem agroecologicamente seguirão denunciando a intransigência dos representantes do agronegócio, sendo que os mesmos não respeitam o direito das famílias de produzirem alimentação saudável e livre de veneno. “Concomitante a isso continuaremos exigindo que os Órgãos de controle municipal, estadual e federal cumpram com a função de fiscalizar a aplicação de veneno em nossos territórios, evitando riscos e danos à população, ao ambiente e a produção de alimentos agroecológicos”, finaliza Álvaro Delatorre.
*Editado por Fernanda Alcântara
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