O evento visa contribuir com o crescimento econômico, social e político de mulheres de diferentes povos indígenas e comunidades tradicionais, valorizando o bem estar e a saúde mental
Por Marina Oliveira e Maria Oliveira, Cimi
Mandioca, macaxeira ou aipim: cultivada desde sempre pelos povos originários, esse bem precioso que faz parte da culinária brasileira é muito mais do que um alimento. No Nordeste, por exemplo, a mandioca é fonte de renda de mulheres indígenas e contribui não só com o crescimento econômico delas, mas também com o desenvolvimento pessoal, social e político.
Justamente com o objetivo de empoderar e fortalecer uma rede de mulheres de diferentes povos indígenas e comunidades tradicionais é realizada, anualmente, a Farinhada das Mulheres. Neste ano, o evento ocorreu entre os dias 17 e 20 de novembro, na Aldeia Serra do Padeiro, no território Tupinambá de Olivença, no sul da Bahia. A data do evento é sempre escolhida conforme o período mais propício do plantio da mandioca.
Em meio a chuvas, alegria e fortes emoções, 150 pessoas se reuniram na 16ª edição da Farinhada. Entre os povos presentes, estavam os Tupinambá de Olivença, Pataxó, Kiriri, Tapuia, Maxakali e Aranã – povos da Bahia e de Minas Gerais. Além disso, pessoas de outras comunidades tradicionais, como Quilombolas, trabalhadoras rurais e mulheres em contexto urbano, entidades parceiras – Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e Movimento Unido dos Povos e Organizações Indígenas da Bahia (Mupoiba) – e universidades também marcaram presença no encontro.
Com 16 anos de atividades, a Farinhada das Mulheres é estruturada a partir de duas linhas de ações: o fortalecimento de uma atividade já existente – a produção de farinha; e a capacitação de mulheres Tupinambá da Serra do Padeiro, de outras aldeias do povo Tupinambá de Olivença e de outras indígenas, como as Pataxó HãHãHãe e Pataxó do extremo Sul da Bahia.
“O evento visa desenvolver e fortalecer a produção da farinha e dos produtos derivados da mandioca, bem como a realização de rodas de diálogos, oficinas de bio-joias e de cerâmica, no intuito de favorecer a auto-organização, a autonomia e a valorização do trabalho das mulheres envolvidas no projeto”, explicou Haroldo Heleno, coordenador do Cimi Regional Leste.
Durante a Farinhada das Mulheres, são abordadas temáticas diversas, focadas em atividades desenvolvidas por mulheres. Além disso, um dos principais objetivos do encontro é fortalecer a auto-organização das mulheres indígenas e assentadas, tornando-as vez mais autônomas.
Sem dúvidas, os dias de troca irão contribuir para o crescimento pessoal, social e político das mulheres que participaram do encontro, uma vez que se entende que, ao empoderar o individual se empodera também o coletivo.
Nesta edição da Farinhada, foram executadas oficinas de bio-joias, desenvolvida pelas mulheres Pataxó do extremo sul da Bahia, e de cerâmica, ministrada pelas mulheres Kiriri do Oeste da Bahia.
“Com participação de jovens, mulheres e crianças, o momento da oficina de cerâmica foi de muito aprendizado e resgate cultural dos povos presentes. Várias peças foram produzidas, acompanhadas de histórias de gerações familiares das mulheres Kiriri e dos demais participantes”, explicou Alda Maria Oliveira, missionária do Cimi Regional Leste.
Além disso, como parte da programação do encontro, foram realizados rituais, cantos, mesas de diálogos e conjuntura, rodas de conversas, oficinas práticas e temáticas, visitas às roças e à colheita da mandioca, raspagem e torragem da farinha, feituras de beijus, coletas de sementes de plantas e ervas e trocas de presentes.
O último dia foi fechado com a tão esperada celebração e com a feira de partilha dos produtos produzidos entre todas as participantes da Farinhada. Parte dos produtos será distribuída em algumas comunidades de povos tradicionais e em paróquias de cidades vizinhas, como São José da Vitória, Itabuna e Ilhéus, todas localizadas no estado da Bahia.
“Destacamos a importância destes momentos, não só para pensar em saídas econômicas e sociais, mas também sobre o valor e a importância na saúde mental e no cuidado do bem estar e da valorização psicossocial das mulheres quando participam destes movimentos”, finalizou o coordenador do Cimi Regional Leste.
Homenagem à Margarida Pataxó
Durante a Farinhada das Mulheres, também foram feitas homenagens à Margarida Pataxó Rocha de Oliveira, mãe, avó e liderança indígena conhecida pela forte atuação na área da educação. Margarida encantou no dia 16 de novembro de 2022, aos 55 anos de idade.
Saiba mais sobre os objetivos do evento:
Farinhada das Mulheres: principais objetivos
- Dar visibilidade ao trabalho das mulheres e suas demandas, bem como contribuir para o reconhecimento de sua participação na vida econômica local/territorial;
- A partir da Farinhada e das oficinas de bio-joias e cerâmica, ver a possibilidade de Ações de Sustentabilidade e Autonomia para as comunidades envolvidas nos seus respectivos territórios;
- Motivar, animar o processo de mobilização e organização das mulheres para Ações de partilha e garantia de direitos, bem como clareza das organizações quanto aos seus deveres;
- Retomar a Farinhada e a Feira da Partilha de maneira mais efetiva após a pandemia;
- Fortalecer a organização das mulheres indígenas, visando possibilidades de ampliação para mais mulheres do Regional Leste;
- Fortalecer a prática tradicional das comunidades no trabalho artesanal da argila, na criação de arte em cerâmica e joias.
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Imagem: Produção da farinha de mandioca durante a 16ª Farinhada das Mulheres, no território Tupinambá de Olivença, no extremo sul da Bahia. Foto: Alda Maria/Cimi Regional Leste