Marca recorde significa que miséria já atinge 8,4% da população do país
Redação, Brasil de Fato
O número de pessoas vivendo em situação de extrema pobreza aumentou 48,2% em 2021 na comparação com o ano anterior. Isso significa que 5,8 milhões de pessoas passaram a viver com uma renda mensal per capita de até R$ 168 por mês.
Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira (2), mostram ainda que o número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza aumentou 22,7% no mesmo período, ou seja, mais 11,6 milhões de brasileiros passaram a viver com R$ 486 mensais per capita.
Com o aumento, o país passou a ter 62,5 milhões de pessoas (29,4% da população) abaixo da linha da pobreza, incluindo 17,9 milhões de pessoas na pobreza extrema (8,4%). Em outras palavras, aproximadamente um a cada três brasileiros era pobre em 2021.
Foram os maiores números e os maiores percentuais de ambos os grupos, desde o início da série, em 2012.
Os dados do IBGE também mostram que a pobreza atinge desproporcionalmente crianças e jovens. 46,2% das crianças de até 14 anos viviam abaixo da linha da pobreza em 2021, recorde da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Entre os jovens de 15 a 29 anos, o percentual era de 33,2%, o triplo dos idosos (10,4%).
A pobreza brasileira também tem cor e gênero. Cerca de 62,8% das pessoas que vivem em domicílios chefiados por mulheres sem cônjuge e com filhos menores de 14 anos estavam abaixo da linha de pobreza. Além disso, a proporção de negros (pretos e pardos) abaixo da linha de pobreza foi de 37,7%, pouco mais que o dobro da proporção de brancos (18,6%).
Os dados sobre rendimento também mostram disparidades. O rendimento médio domiciliar per capita foi de R$ 1.353 em 2021, menor nível da série histórica. Na comparação com 2020, o valor caiu 6,9%.
Ao longo da série, pretos e pardos permanecem ganhando metade do rendimento dos brancos e em 2021 não foi diferente: respectivamente, R$ 949 contra R$ 1.866. Ambos os rendimentos recuaram frente a 2020, mas pretos e pardos (8,6%) perderam mais do que os brancos (6%).
Os homens (R$1.393) receberam 5,9% a mais que as mulheres (R$1.315). A queda nos rendimentos também foi maior para elas: 7,5% contra 6,4% dos homens.
“A recuperação do mercado de trabalho em 2021 não foi suficiente para reverter as perdas de 2020. Isso e a redução dos valores do Auxílio-Emergencial, podem ajudar a explicar esse resultado”, explica André Simões, analista da pesquisa.
Na média da população, o rendimento do trabalho representava 75,3% do total de rendimentos, enquanto os Benefícios de programas sociais representavam 2,6%. No entanto, entre os que recebiam até um quarto de salário-mínimo per capita, o rendimento do trabalho representava 53,8%, enquanto a parcela proveniente de programas sociais chegava a 34,7%.
“São domicílios mais vulneráveis e com acesso limitado ao mercado de trabalho. Por isso, os programas sociais acabam tendo maior impacto”, afirma Simões.
No recorte regional, Nordeste (48,7%) e Norte (44,9%) tinham as maiores proporções de pessoas pobres na sua população. O percentual cai para 20,6% no Sudeste e também no Centro-Oeste, e 14,2% no Sul.
Edição: Nicolau Soares
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Foto: PxHere