Abrea inaugura Memorial “Árvore-Pulmão”, em homenagem às vítimas do amianto

Foi inaugurado ontem, 10/12, o memorial “Árvore-Pulmão”, na Praça Expedicionário Mário Buratti, em Osasco. O local foi escolhido pela proximidade com o espaço onde se situava a maior das unidades da multinacional suíça Eternit, que permaneceu na cidade de 1939 a 1953.

Criada pelo artista plástico Wagner Hermusch, a pedido da Abrea (Associação Brasileira dos Exposto ao Amianto), a obra tem sete metros de altura e um painel com o nome de mais de 600 pessoas que morreram em virtude da exposição ao amianto entre nós.  Segundo declaração do artista à Abrea, é “uma referência estética às árvores-pulmões do planeta Terra, projetando um conceito de vida pulsante. O tronco com suas linhas retas representa as fibras do mineral, os galhos superiores simbolizam o macrocosmo e as folhagens os pulmões das milhares de vítimas da catástrofe do amianto, espalhadas pelo mundo”.

Engenheira, Auditora fiscal do trabalho e pioneira na luta contra o amianto, no Brasil e no mundo, Fernanda Giannasi fez o discurso de inauguração do memorial, que reproduzimos abaixo:

“Hoje é com imensa emoção e satisfação que estamos aqui inaugurando esta obra, que representa muito para todos nós do movimento anti-amianto. Ela é majestosa e cheia de significado, pois além de homenagear nossos amigos mortos, ela celebra a VIDA, que tanto nossos heróis buscaram em suas lutas diárias contra as terríveis doenças do amianto.

O artista plástico, Wagner Hermusche, com muita sensibilidade captou as nossas ideias de como seria erguido um Memorial às Vítimas do Amianto. Mas, mais do que um monumento fúnebre, ele buscou simbolizar metaforicamente a vida, que tanto nossos heróis aqui homenageados quiseram preservar, e projetou esta ÁRVORE-PULMÃO magnífica, que, além de nos abrigar, nos dar a sombra e alimentos, purifica o ar tão importante para nossa sobrevivência. O tronco simboliza as fibras do amianto, as folhas a árvore brônquica e os anéis, nossa comunicação com o universo e, para quem acredita, com as forças celestiais e divinas.

Foi esta a luta destes heróis que tombaram envenenados por esta fibra maldita que é o amianto, assassinados por empresas inescrupulosas que, quando se instalaram em nosso país, já sabiam de sua nocividade, aproveitando-se da boa fé de nossa gente e, mais ainda, contando que, pelo nosso atraso tecnológico, subserviência e dependência econômica, não iríamos nos contrapor à sua produção suja e perigosa.

O local escolhido para plantar esta ÁRVORE-PULMÃO foi em frente de onde se instalou a maior fábrica do grupo suíço-belga, ETERNIT, fora da Europa. Era sua galinha dos ovos de ouro! Numa área de 150 mil metros quadrados, explorando nossos fartos recursos naturais, instalaram-se em 1939 e por aqui ficaram 54 anos, deixando-nos uma herança maldita de doenças e rejeitos da produção de cimento-amianto espalhados por aí. Vira e mexe alguém nos traz pedaços de telhas quebradas encontradas nos cursos dos rios, em especial o Buçocaba, tão próximo de nós e que desagua no Tietê, depois de percorrer seus 5 km, e onde a ETERNIT despejava sem pruridos seus resíduos tóxicos a céu aberto, poluindo nossos cursos d´água como fazia
diuturnamente com o nosso ar, sem se preocupar se isto poderia causar impactos ao meio ambiente ou produzir doenças.

Hoje é o dia de falarmos menos e celebrarmos juntos aos familiares e ex-empregados da Eternit, Brasilit, Lonaflex, Thermoid e de tantas outras empresas que se utilizaram do cancerígeno amianto e que permanecem impunes, utilizando-se de todos os subterfúgios e da morosidade de nossa Justiça para fugir de suas responsabilidades de tratar e indenizar suas vítimas.

Agradecemos a presença de todos e todas nesta manhã histórica de congraçamento para reverenciarmos nossos amigos que partiram e agradecemos especialmente à Prefeitura de Osasco e todo seu Secretariado, que aqui comparecem, em nome do companheiro Gelso Lima que nos acolheu em seu gabinete tantas vezes e que abraçou conosco esta causa.

Lembramos que a data de hoje também não foi escolhida por acaso, pois se celebra em todo o mundo o Dia Internacional dos Direitos Humanos e nada melhor para marcar dia tão importante é a inauguração deste monumento, que a partir de hoje se insere na paisagem de Osasco, somando-se a outras tantas obras artísticas desta cidade, que aprendi a amar durante os anos que aqui estive no Ministério do Trabalho, e que passará a constar do mapa oficial do município, nos sites de busca, no google Maps e será o quinto MEMORIAL DAS VÍTIMAS DO AMIANTO em todo mundo, onde o nome de nossos heróis estarão eternizados nesta placa
inaugurada aqui hoje, onde deixarão definitivamente de ser meros números de estatísticas de doenças profissionais do INSS e nunca mais anônimos.”

 

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