Nos últimos quatro anos, a questão ambiental foi a “pedra no sapato” da política externa brasileira, motivada em grande parte pelo desleixo do atual governo no combate ao desmatamento na Amazônia.
A troca de governo, com o retorno de Lula à Presidência, ajuda a aliviar a pressão, mas o novo governo precisará mostrar serviço (leia-se diminuir o desmatamento) para a situação efetivamente melhorar.
Um dos desafios que Lula herdará de Bolsonaro está na União Europeia, que definiu restrições para a importação de commodities relacionadas com o desmatamento. A medida atinge em cheio o Brasil e pode criar problemas para o agronegócio brasileiro nos próximos anos.
Contestar as restrições da UE como “protecionismo” até pode fazer sentido na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas isso não elimina a motivação principal da medida. Assim, como bem destacou O Globo em editorial, o governo Lula pode usar essas regras europeias para impulsionar o combate ao desmatamento no Brasil.
“É do interesse do Brasil cumprir com toda regra que contribua para reduzir o desmatamento. É preferível explorar os milhões de hectares disponíveis no Brasil sem derrubar uma árvore a não poder entrar no mercado europeu. Preservar o meio ambiente é também mais importante para nosso futuro do que as denúncias de protecionismo velado.”
Pelo lado europeu, existe uma expectativa positiva em torno do novo governo brasileiro. Em entrevista à Janaína Figueiredo n’O Globo, o embaixador da UE no país, Ignácio Ibáñez, afirmou que o “momento é de esperança”.
Sobre a legislação antidesmatamento, Ibáñez ressaltou que ela não mira nenhum país em particular e que a UE definirá regras claras para justificar eventuais penalidades a produtores.
“A maioria dos que exportam para a UE já está cumprindo as normas, e a partir da vigência da norma terá uma grande vantagem. O Brasil é um grande exportador de muitos desses produtos para o mercado europeu, nós precisamos do Brasil, de um Brasil que cumpra os compromissos internacionais”, disse.