Secretário de estado Edison Prola deu detalhes de operação que tem como alvo retirar os garimpeiros da maior reserva indígena do Brasil. PSOL e Urihi Associação Yanomami registraram queixa-crime onde pedem que ele seja investigado por divulgar informação sigilosa.
Por g1 RR — Boa Vista
O coronel da Polícia Militar Edison Prola, que ocupa o cargo de secretário de Segurança Pública de Roraima, divulgou o plano de operação para retirada de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami e, agora, o PSOL e Urihi Associação Yanomami querem que ele seja investigado pelo Ministério Público Federal pelo crime de vazar informação sigilosa.
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas. Vivem no território cerca de 30 mil indígenas, ameaçados pelo garimpo predatório de invasores ilegais que exploram a reserva em busca de ouro e cassiterita. O garimpo ilegal avançou 3.350% entre 2016 a 2020, o que agrava, principalmente, a saúde dos indígenas que sofrem com malária e desnutrição severa nas comunidades.
A retirada dos garimpeiros da reserva é uma reivindicação feita há anos pelas organizações socioambientais, líderes indígenas locais e nacionais e até o MPF.
O plano foi divulgado pelo coronel em entrevista a um jornal local na última quarta-feira (15). Na ocasião, Prola deu detalhes de como seria a operação, falou teria participação de instituições como a Polícia Federal, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Exército.
O secretário disse ter participado de uma reunião com equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) onde foi definido um prazo de 90 dias para a retirada de garimpeiro da reserva.
“Eu participei de uma reunião com a equipe de transição do Governo Lula e o garimpo vai acabar, vai ser fechado no Governo Lula. É uma questão de prazo já, em 90 dias uma operação militar vai encerrar o garimpo aqui”, disse o secretário na entrevista ao jornal.
No dia seguinte à entrevista, o PSOL registrou uma queixa-crime no MPF pedindo que o secretário seja investigado por divulgar informação sigilosa, conforme crime previsto no artigo 325 do Código Penal, que é o de “Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação”.
“Ao divulgar que haverá uma operação militar em 90 dias contra o garimpo ilegal, o Sr. Edison Prola frusta a operação, permitindo que os criminosos ali não mais estejam quando ela ocorrer.”
“Não apenas isso, a atitude do Sr. Edison Prola incentiva o aumento da intensidade do garimpo ilegal antes que ocorra a operação militar e que se encerre o garimpo, de forma a que os garimpeiros ilegais possam tirar o máximo antes que sejam impedidos de continuarem na garimpagem ilegal”, cita trecho da queixa-crime contra ele.
A Urihi Associação Yanomami, representada pelo presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana, Junior Hekurari Yanomami, também protocolou uma queixa contra o secretário no MPF pedindo que ele seja investigado nos mesmos moldes da denúncia do PSOL.
Em nota, o MPF não informou se vai investigar Prola, mas disse que “todas as denúncias e informações repassadas ao MPF são processadas e analisadas e caso haja indícios de conduta ilegal, serão alvo de investigação e as medidas cabíveis serão tomadas.”
Procurado sobre a conduta do secretário, de divulgar operação, o governo do estado disse que “qualquer ação do futuro governo que tomará posse a partir do dia 1º de janeiro de 2023, está no campo das projeções, trazidas pela equipe de transição e por nomes já anunciados como ministros do novo governo.”
O secretário não atendeu as ligações do g1, nem respondeu as mensagens enviadas até a última atualização da reportagem.
O coronel Edison Prola está na PM de Roraima há 33 anos. Ele ocupa o cargo de secretário de Segurança na gestão de Denarium desde novembro de 2020.
–
Coronel Edison Prola, secretário de Segurança de Roraima. Foto: Rede Amazônica Roraima / Reprodução