No UOL
Oficialmente, a primeira viagem ao exterior do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocorrerá nos próximos dias e o destino é a América do Sul. Mas para diplomatas brasileiros e estrangeiros, a realidade é que sua “primeira visita de política externa” já está ocorrendo neste sábado em Roraima.
Ao visitar as terras Ianomâmis, o novo governo manda uma mensagem de que a questão indígenas não ficará apenas no anúncio da criação de uma nova burocracia, de imagens simbólicas ou de discursos de impacto. Não existem dúvidas de que a viagem, portanto, cumpre uma função doméstica de ruptura em relação ao governo de Jair Bolsonaro.
Mas, para observadores internacionais, a decisão de Lula de ir até terras indígenas manda pelo menos três fortes mensagens à comunidade internacional, justamente ao visitar comunidade com maior visibilidade entre as principais capitais do mundo:
1. O fim da Era Bolsonaro:
Ao criticar o descaso do governo anterior com os povos indígenas e anunciar planos para a região, Lula manda uma mensagem aos organismos internacionais, governos estrangeiros e ativistas de direitos humanos de que tal cenário de crise será respondido pelas autoridades brasileiras e que não haverá uma tentativa de se omitir diante de eventuais crimes.
2. Genocídio
Ao expôr a crise, Lula ainda reforça a tese de que a gestão Bolsonaro cometeu um genocídio contra os indígenas, queixa que tramita na procuradoria do Tribunal Penal Internacional em pelo menos três denúncias apresentadas por entidades nacionais e estrangeiras.
3. Soberania
Mas ao desembarcar em pleno sábado e poucas horas depois da eclosão das denúncias, Lula também manda um sinal para a comunidade estrangeira de que o governo está sob controle e que tem a capacidade para dar respostas. A mensagem, segundo diplomatas, é uma sinalização de que não existem espaços para questionar a soberania nessas regiões.
Questão Ianomâmi na geopolítica
Ao longo dos últimos quatro anos, a situação do povo Ianomâmi chamou a atenção internacional e, mesmo dentro da ala mais progressista do Itamaraty, a questão da preocupação de governos estrangeiros foi vista como “oportunista”.
Vivendo um sério embate diplomático com Bolsonaro, o presidente francês Emmanuel Macron recebeu de braços abertos a liderança Ianomâmi e, durante uma cúpula do G7, chegou a vazar imagens onde ele negociava amplos recursos para a comunidade indígena.
Naquele mesmo encontro, Macron insinuou que, diante do descaso de Bolsonaro com a Amazônia, a tese da internacionalização deveria ser estudada.
O cacique Raoní ainda passou a ser recebido como chefe de estado, enquanto fazia uma turnê por algumas das principais capitais europeias que em nenhum momento se abriram para receber uma visita oficial de Bolsonaro.
Para diplomatas estrangeiros, portanto, a visita de Lula sinaliza que a defesa dos interesses nacionais e da insistência sobre a soberania brasileira continuam na pauta. Mas, no lugar da omissão, a nova estratégia é de mostrar que o estado ocupará o espaço.
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Raoni e Macron. Foto: Thomas Samson / AFP