Um novo estudo publicado na revista Nature Climate Change estimou que a porção sudeste da floresta amazônica concentra sozinha 40% das perdas que podem ocorrer nos estoques de carbono em biomas tropicais devido à mudança do clima. Isso pode comprometer a capacidade da Amazônia de absorver mais carbono do que emitir, o que representaria um ponto de inflexão no processo de degradação da floresta e um petardo quase fatal às esperanças de conter o aquecimento global.
Em um cenário de aquecimento maior, a perda de capacidade de absorção de carbono por esses biomas tropicais seria de 20,1%. Já em um cenário mais ponderado, a redução estimada é de até 12%. Essas porcentagens podem parecer pequenas, mas os números absolutos e em escala são mais assustadores.
A cada 1oC de aumento da temperatura média global, o impacto na perda de fixação do carbono em biomas tropicais seria o equivalente a uma liberação 10 vezes maior que as emissões anuais do Brasil ou de quase metade das emissões globais anuais. Assim, de acordo com o estudo, a Amazônia pode estar à beira de um “precipício climático”, que ainda pode ser agravado com a continuidade do desmatamento.
“Compensa sim investir na conservação, porque as mudanças climáticas sozinhas não serão capazes de destruir os ecossistemas tropicais”, assinalou Paulo Brando, pesquisador do IPAM e professor da Universidade de Yale (EUA), um dos autores do estudo. “[Ao mesmo tempo] parte considerável das perdas irão ocorrer na Amazônia, em nível mais ou menos grave, afetando completamente a sociobiodiversidade. É urgente mitigar esse cenário de precipício climático com a redução das emissões globais e com o fortalecimento de medidas de conservação e adaptação”.
A revista Galileu e o site Um Só Planeta também abordaram os principais pontos do estudo.
Em tempo: A promessa do Brasil para atingir a neutralidade líquida de suas emissões de carbono depende fundamentalmente da eliminação do desmatamento ilegal no país até o final desta década. Essa é a conclusão de uma nova análise sobre os desafios da transição energética brasileira, conduzida pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais, a COPPE/UFRJ, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Valor deu mais detalhes.
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Christian Braga | Greenpeace