Júlio Pedrosa (Fiocruz Amazônia)
A notoriedade cada vez maior de feminicídios no Brasil e o restrito número de estudos com base em dados epidemiológicos sobre a questão da violência letal contra a mulher na região Norte levaram pesquisadores do Instituto Leônidas & Maria Deane (Fiocruz Amazônia), da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA) e da Escola Superior de Ciências Sociais (ESO), ambas pertencentes à Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a propor a realização do primeiro monitoramento epidemiológico e espaço-temporal dos feminicídios na Amazônia, tendo como referencial as potencialidades da vigilância da informação em saúde à equidade de gênero. Neste mês de março, o Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (Legepi) da Fiocruz Amazônia, em parceria com docentes da Universidade Federal de Rondônia (Unir) e UEA, realizarão a 1ª Oficina Ampliada AM/RO sobre Aplicações da Vigilância da Informação em Saúde à Avaliação do Feminicídio. O evento, que se inicia um dia após o Dia Internacional das Mulheres (8/3), reunirá especialistas e pesquisadores, nos dias 9 e 10 de março, no Laboratório de Tecnologia em Saúde e Educação da ESA/UEA.
De acordo com o epidemiologista Jesem Orellana, chefe do Legepi/Fiocruz Amazônia e coordenador do projeto, a oficina tem como objetivo explorar as potencialidades da vigilância da informação em saúde à equidade de gênero, em particular na estimação da ocorrência, caracterização epidemiológica e espaço-temporal dos feminicídios. “Serão apresentados e discutidos detalhes de inédita e promissora metodologia, progressos e protocolos, bem como haverá espaço ao planejamento das próximas etapas do projeto no Ano-1 e, sobretudo, no Ano-2, com enfoque em produtos esperados como a apresentação dos nossos resultados/estratégias, mediante trabalhos em eventos científico-tecnológicos, bem como na formação/qualificação de recursos humanos ou publicação de artigos metodológicos e originais, por exemplo”, explica.
De forma ampla, a oficina busca detalhar as diferentes iniciativas em curso no projeto, que é viabilizado pelo Programa Inova Fiocruz, por meio do edital Inovação Amazônia, com financiamento da Fiocruz, da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado do Amazonas (Fapeam) e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Rondônia (Fapero). Segundo Jesem, são componentes do projeto, a dimensão estatística, socioepidemiológica, de geografia da saúde, do Direito e da Tecnologia da Informação, assim como o entrelaçamento dessas expertises em uma iniciativa genuinamente interdisciplinar, típica da Saúde Coletiva. “Análises preliminares do projeto apontam para a possível invisibilidade dos feminicídios, sobretudo no campo da saúde, bem como a pouco explorada influência negativa da inserção direta das mulheres de Manaus com a criminalidade e o baixo número de mortes das mesmas em crimes caracterizados como latrocínio (roubo seguido de morte), por exemplo, sugerindo participação ativa cada vez maior dessas mulheres em atividades ilícitas”, afirma o epidemiologista.
A oficina contará com as presenças de docentes do curso de Enfermagem da Universidade de Rondônia (Unir), entre os quais Nathalia Halax Orfão, Cristiano Lucas de Menezes Alves e Marcuce Antonio Miranda dos Santos, vice-líder do Observatório de Violência, Suicídio e Políticas Públicas (OBSAT). Além dos convidados de Rondônia, o evento contará com a participação de Paula Dias Bevilacqua, do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas), do Núcleo Interdisciplinar de Estudos de Gênero, onde coordena a linha de pesquisa da subárea Corpo, Saúde e Reprodução. Como palestrantes, participarão Edinilza Santos (ESA/UEA), Jesem Orellana (Fiocruz Amazônia), Elielza Menezes (ESA/UEA), Márcia Medina (ESA/UEA), Gabriel Leão (bolsista da Fiocruz Amazônia), André Moraes (colaborador do projeto na Fiocruz Amazônia), Stephanie Dias (bolsista da Fiocruz Amazônia) e Carlos Rafael (Fiocruz Amazônia).
Temas
Os temas a serem abordados durante os dois dias são: Projeto: objeto, métodos, progressos, protocolos (codebook, banco de dados e trabalho interdisciplinar; Coleta de dados: sociodemográficos, geográficos, epidemiológicos e relato de casos; Captura de dados oficiais de mortalidade (FVS-RCP): finalidade e desafios; Controle de qualidade no banco de dados e Linkage: finalidade e potencialidades; Classificação jurídica de mortes em prováveis feminicídios ou não: estratégia e aspectos operacionais; Monitoramento digital de notícias sobre mortes de mulheres por agressão: etapas do desenvolvimento de um robô de busca e sua contribuição à captura de dados sobre mortes por agressão de mulheres; e Resultados esperados: manuscritos, divulgação em eventos, observatório. O evento também contará com propostas e avaliação da viabilidade de extensão do projeto à realidade de Porto Velho (RO) e Belo Horizonte (MG).
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Ilustração Carol Teixeira