Financiadores de Ricardo Salles somam fortuna de mais de R$ 20 bilhões

Usineiro, madeireiro, produtor de fertilizantes e dono de haras, todos os quatro bilionários, doaram para o deputado do PL “passar a boiada”; ex-ministro do Ambiente de Bolsonaro foi financiado por outros 20 usineiros e 20 especuladores imobiliários

Por Luís Indriunas, em De Olho nos Ruralistas

Eles são bilionários e dirigem empresas que adotam a “sustentabilidade” como marketing, mas não têm qualquer pudor em apostar abertamente no candidato que prometeu “passar a boiada”. Ao todo, o ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro Ricardo Salles (PL-SP), hoje deputado federal, recebeu R$ 2,4 milhões em doações de campanha para as eleições de outubro de 2022. Desse total, 76% – isto é, R$ 1,84 milhões – vieram de pessoas físicas, todos eles empresários, de diversos ramos.

Entre os bilionários que apoiam a política de destruição de Salles estão Marcos Ermírio de Moraes, do Grupo Votorantim; Rubens Ometto, da sucroenergética Cosan; Hélio Siebel, da Leo Madeiras e do Grupo Klabin; e José Salim Mattar Júnior, dono da Localiza Hertz e do Haras Sahara. Três deles já haviam doado para Salles, em 2018, quando ele alcançou a suplência de deputado, mas aumentaram suas apostas em 2022.

A rede de financiadores de Ricardo Salles foi tema do último vídeo do especial De Olho no Congresso, que mostrou os rostos de quem dita o discurso do deputado bolsonarista. Confira abaixo:

Em outras palavras: Ricardo Salles não representa somente Ricardo Salles. Quem são seus fiadores?

BILIONÁRIOS MULTIPLICARAM VALORES DOADOS A SALLES

Candidato à segunda suplência do Senado na chapa de Marconi Perillo (PSDB-GO), Marcos Ermírio de Moraes foi o candidato mais rico das eleições de 2022, declarando ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma fortuna de R$ 1,3 bilhão. Para Salles, o bilionário reservou R$ 250 mil, valor 25 vezes maior ao que doou para o ex-ministro bolsonarista na eleição anterior. Para a campanha não vitoriosa de Perillo, que teve R$ 4,5 milhão do fundo partidário, Moraes não doou.

Um dos herdeiros do Grupo Votorantim, Marcos é filho de Ermírio Pereira de Moraes, dono de um patrimônio de R$ 20,65 bilhões, segundo o ranking da revista Forbes. Com um passado de produção de eucalipto para celulose, o grupo, tradicional na produção de cimento, abriu em 2020 seu braço do agronegócio, a Viter, que produz e comercializa fertilizantes e corretivos de solo e lançou em 2022 um protetor solar para plantas. Segundo o site da empresa, foi lançado por uma preocupação com a “sustentabilidade e o ecossistema”. Além dos negócios e da política, a grande paixão de Marcos de Moraes são os rallies: ele é patrocinador do Rally dos Sertões.

O mesmo valor doado por Moraes (R$ 250 mil) foi dado pelo o bilionário José Salim Mattar Júnior, dono da Localiza Hertz, a gigante de aluguel de carros e jatinhos, que possui um patrimônio de R$ 2,18 bilhões, segundo a Forbes. Dono do Haras Sahara, em Matozinhos (MG), Mattar foi ministro da Desestatização e Privatização do governo Bolsonaro. Para Salles, ele doou, em 2022, R$ 50 mil a mais que na campanha de 2018. A Localiza está em primeiro lugar no ranking do Radar ESG, um ranking corporativo elaborado a partir de parâmetros próprios para questões ambientais (Enviromental), sociais (Social) e de governança corporativa (Governance).

Hélio Seibel, por sua vez, representa a indústria da celulose. Com um patrimônio de R$ 2,6 bilhões, Hélio e seu irmão Salo Davi são os controladores do Grupo Ligna, que tem diversas participações acionárias, entre elas, na Leo Madeiras, na Klabin e na Duratex – nesta última, dividindo a sociedade com o Banco Itaú. Em 2022, Hélio doou R$ 100 mil para Salles, quadruplicando a oferta anterior de R$ 25 mil feita na campanha de 2018. Tanto a Klabin quanto a Duratex possuem departamentos de ESG.

Outro bilionário financiador de Salles vem da indústria sucroenergética, setor com maior número de doações para o deputado. Controlador da Cosan, maior processadora de cana de açúcar do mundo, Rubens Ometto descende de uma das mais antigas famílias canavieiras do país, com uma fortuna calculada em R$ 14,5 bilhões pela Forbes. Em 2005, ele foi o primeiro usineiro brasileiro a lançar ações na Bovespa. Dois anos depois, tornou-se o primeiro bilionário de etanol do mundo.

Em 2010, sua empresa se associou à holandesa Shell, criando outra gigante do setor, a Raízen. Ometto também tem negócios no transporte ferroviário com a Rumo, além de ser sócio da Comgás e de ter um grande números de propriedades rurais arrendadas. Na onda da “sustentabilidade”, a Cosan de Ometto também aposta no ESG.

A relação de Salles com Ometto é muito próxima. Ainda ministro, o atual deputado participou, junto com Bolsonaro, da inauguração de uma estação de biogás da Raízen e fez questão de chamá-lo de “meu amigo Binho”. Uma amizade que floresceu na última eleição: Rubens Ometto não havia doado para Salles em 2018, mas contribuiu com R$ 50 mil em 2022.

USINEIROS SÃO RESPONSÁVEIS POR 42% DAS DOAÇÕES INDIVIDUAIS PARA SALLES

Além de Rubens Ometto, outros vinte usineiros – a maioria com colégio eleitoral em São Paulo – doaram para Salles em 2022. Ao todo, o setor sucroenergético deu R$ 775.856,72 para sua campanha de 2022, 42% do total recebido por pessoas físicas.

Do mesmo clã que Rubens, seu primo Marcelo Campos Ometto, dono da Usina São Martinho, doou R$ 100 mil para o deputado, quatro vezes mais do que o valor repassado em 2018. Conselheiro da União das Indústria de Cana-de-Acúcar (Unica), Marcelo é hoje o terceiro vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), depois da destituição de Josué Gomes da Silva da presidência — após ele assinar uma carta de empresários pela democracia durante as eleições.

Antonio Eduardo Toniello, dono da Copersucar, também doou R$ 100 mil para Salles. Outro sócio da empresa, Luiz Roberto Kaysel Cruz, deu pouco mais de R$ 32 mil. Gastão de Souza Mesquita, da Melhoramentos Norte do Paraná, dobrou o financiamento a Salles: de R$ 50 mil em 2018 para R$ 100 mil em 2022. Seu filho, Gastão de Souza Mesquita Filho, é um dos idealizadores do movimento Endireita Brasil, fundado pelo próprio Salles.

Outra família tradicional de canavieiros que regou a campanha de Salles foram os Biagi, com cinco integrantes doando ao todo mais de R$ 65 mil. Houve também aporte do usineiro Ismael Perina Júnior, que morreu neste ano; ele já foi vice-presidente do Instituto Pensar Agro (IPA), o braço ideológico da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). A face mais organizada da bancada ruralista.

O setor sucroalcooleiro só tem a agradecer a Salles. No seu primeiro ano como ministro, Salles revogou a proibição de produzir cana no Pantanal e na Amazônia. Durante o governo Bolsonaro, a Unica se reuniu pelo menos sete vezes com representantes do Ministério, segundo o relatório Meio Ambiente S/A, produzido por este observatório. Ao todo, foram mais de 700 reuniões com representantes do agronegócio que tiveram portas abertas do ministério e órgãos ambientais no governo Bolsonaro.

Outro grupo que ajuda Salles em peso são as incorporadoras e os especuladores imobiliários. Ao todo, vinte empresários deram R$ 238.400,00. Cerca de R$ 100 mil vieram de empresários ligados a três construtoras da Riviera de São Lourenço, em Bertioga (SP). Entre eles, os empresários Luiz Augusto Pereira de Almeida, Luiz Carlos Pereira de Almeida e Mario Najm Filho, sócios da Sobloco Construtora, responsável pelo condomínio de luxo à beira-mar em Bertioga, litoral paulista, que é alvo de ações judiciais que tenta evitar mais ainda a destruição da Mata Atlântica.

Imagem principal (De Olho nos Ruralistas): financiamento corporativo a Ricardo Salles é tema de vídeo do especial De Olho no Congresso

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