Mudanças climáticas e desmatamento são as causas, explica Isabel Figueiredo, da organização responsável pelo estudo
O cerrado brasileiro pode perder até 35% da água de seus rios até 2050. A conclusão é de um estudo apoiado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). As maiores causas são as mudanças climáticas e o avanço do agronegócio sobre o bioma, causando alterações no ciclo das águas que já afetam as diversas regiões do país.
O estudo faz parte da tese de doutorado do pesquisador Yuri Salmona, que coletou dados sobre a vazão dos rios e a cobertura vegetal de 85 bacias hidrográficas do cerrado de 1985 até 2021. A constatação é que os biomas mais desmatados demonstram a maior queda na quantidade de água no período, apontando para riscos caso as tendências não sejam revertidas.
“São sistemas que vão se retroalimentando”, afirma Isabel Figueiredo, coordenadora do Programa Cerrado e Caatinga do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), em entrevista ao Central do Brasil neste Dia Mundial da Água.
Ela explica que o processo de mudanças climáticas tornou as chuvas mais concentradas no tempo, dificultando o fluxo de absorção da água pelo solo – o volume de chuvas que antes caía ao longo de alguns meses, agora desaba em poucos dias na forma de chuvas torrenciais. Em paralelo, a expansão do agronegócio leva ao aumento de áreas de monocultivo, como pastos e campos de soja e algodão, que também diminuem a capacidade de absorção do solo.
“O cerrado tem papel muito importante de absorver a água da chuva e propiciar a infiltração lenta e gradual até as camadas mais profundas, por conta da estrutura de sua vegetação, que tem raízes muito profundas”, explica Isabel. “Então, se a gente aliar a intensificação das chuvas, essas chuvas mais torrenciais, com a mudança no solo, a gente vai ter um agravamento dessa situação de interrupção ou de estar afetado o ciclo da água.”
Mudar essa situação é complexo, mas há formas conhecidas de diminuir os impactos das atividades humanas como o agronegócio, começando pelo cumprimento de legislações ambientais de preservação de vegetação nativa e cobertura de áreas de nascentes.
“A gente também precisa ter áreas protegidas no cerrado. E também a gente precisa respeitar territórios de comunidades tradicionais, povos indígenas, agricultores familiares, pois elas têm papel muito importante na proteção da vegetação nativa e, portanto, nos ajudam a que a gente adie esse fim do mundo”, defende.
A entrevista completa com Isabel Figueiredo você acompanha na edição desta quarta-feira do programa Central do Brasil.
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Monocultivo de soja altera capacidade de absorção do solo do cerrado – Silvio Avila/ AFP