A retirada de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami segue acontecendo em Roraima. Com o prazo final para o fechamento integral do espaço aéreo sobre o território se aproximando, até mesmo apoiadores do garimpo na região estão reforçando o pedido das autoridades federais para que os invasores deixem a reserva.
A Folha de Boa Vista informou que um grupo pró-garimpo em RR intensificou os apelos pela saída voluntária dos garimpeiros antes de 6 de abril. “Há muitas desinformações. Pessoas maldosas dizem que a operação já vai acabar e que as forças federais vão embora. Isso é grave, pois quem estiver lá depois do dia 6, corre risco de vida”, afirmou Jailson Mesquita, porta-voz do grupo.
O fim do garimpo – ou, ao menos, sua diminuição significativa – na Terra Yanomami já parece evidente para aqueles que vivem em seu entorno. Pela Agência Pública, Rubens Valente e Evilene Paixão conversaram com moradores de três vilarejos nas proximidades do território indígena. Para eles, a economia garimpeira até gerou alguma renda, mas foi para poucos e quase nada ficou na região.
“O dinheiro do garimpo não trouxe benefício para a população daqui, como posto de saúde, escola, asfalto, rede de esgoto. Não aconteceu nada na vila”, lamentou Laurício Oliveira Chaves, servidor da Prefeitura de Mucajaí. “As pessoas estavam trabalhando, tirando o recurso daí de dentro, o minério, essas coisas, e indo pra fora. Não fica nada aqui no nosso estado.”
A situação do garimpo na Terra Yanomami ainda está distante de ser resolvida. Mesmo com a saída da maior parte dos cerca de 20 mil garimpeiros que invadiram o território na última década, bolsões de atividade garimpeiras persistem no interior da reserva, desafiando as forças federais que atuam na região desde o começo de fevereiro.
O New York Times publicou uma reportagem especial sobre o combate ao garimpo no território, destacando as dificuldades enfrentadas pelos agentes do IBAMA e da Polícia Federal e os reflexos da atividade garimpeira nas comunidades indígenas que ainda sofrem com uma grave crise humanitária.
O texto ressaltou o impacto da omissão do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro no combate a ilegalidades no local. “Nos últimos quatro anos, vimos apatia, talvez intencional. Eles [governo Bolsonaro] falharam em agir, cientes de que estavam permitindo que uma crise humanitária acontecesse”, explicou o procurador da República Alisson Marugal, que investiga as responsabilidades da antiga gestão federal na crise Yanomami.
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Bruno Kelly