Fiocruz e instituição chinesa assinam acordo para criação de centro de prevenção de doenças

Cristina Azevedo, Agência Fiocruz de Notícias

A Fiocruz e o Centro de Excelência CAS-TWAS para Doenças Infecciosas Emergentes (CEEID, na sigla em inglês), por meio do Instituto de Microbiologia da Academia Chinesa de Ciências (CAS), assinaram neste 13 de abril (noite do dia 12 no Brasil), em Pequim, um Memorando de Entendimento para a criação do Centro Sino-Brasileiro de Pesquisa e Prevenção de Doenças Infecciosas (IDRPC). O acordo ocorre por ocasião da primeira visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à China depois da posse, ressaltando a reaproximação entre os dois países. O centro, que terá uma sede em Pequim e outra no Campus Manguinhos da Fiocruz, no Rio de Janeiro, atuará para fortalecer a cooperação na área de ciência e tecnologia relacionada à saúde, com foco na prevenção e controle de pandemias e epidemias, tais como, Covid-19, influenza, chikungunya, zika, dengue, febre amarela, oropouche e outras doenças infecciosas, como a tuberculose. Além disso, buscará desenvolver bens públicos de saúde global, como testes de diagnósticos rápidos, terapias, vacinas e fármacos.

O acordo já vinha se delineando desde antes da pandemia, mas sofreu atrasos devido à emergência sanitária e por questões políticas. Com a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a reaproximação de Brasil e China, o Memorando de Entendimento (MdE) tomou novo impulso, mostrando que as relações dos dois países podem se aprofundar também na área de saúde. Na cerimônia de assinatura, a CAS destacou que a visita de Lula e a assinatura do acordo mostram a importância de uma parceria ampla e de alto nível para os dois países.

“A cooperação sino-brasileira em ciência e saúde alcança outro patamar com esse acordo. A pesquisa conjunta em doenças infecciosas nos laboratórios chineses e brasileiros, a troca permanente de experiências e conhecimentos, a qualificação ainda maior da vigilância epidemiológica ganham com o fortalecimento da nossa ciência e capacitam mais os países na preparação para novas emergências sanitárias, cada vez mais comuns”, disse o presidente da Fiocruz, Mario Moreira. “Compartilhamos com a Academia Chinesa de Ciências (CAS) e a Academia Mundial de Ciências (TWAS) a visão dos bens de saúde como bens públicos, tais como vacinas, medicamentos e testes diagnósticos. O desenvolvimento e produção desses bens precisa se descentralizar e servir ao fortalecimento dos sistemas de saúde para diminuir a vulnerabilidade global. Vamos caminhar juntos nessa direção que fortalece a posição internacional da Fiocruz”.

O acordo prevê a formação de um grupo de trabalho para implementar o centro nos dois países. Cada sede funcionará com pesquisadores das duas nacionalidades. Nelas serão desenvolvidos trabalhos de pesquisa básica e translacional, pesquisa clínica, treinamento e investigação, comunicação internacional e intercâmbio de pesquisadores. Serão realizados projetos de pesquisa conjunta; formação e desenvolvimento de recursos humanos em diferentes níveis (como técnico, mestrado, doutorado e pós-doutorado); intercâmbio de informações, tecnologia e materiais; organização de seminários e conferências; publicações conjuntas de artigos científicos; desenvolvimento tecnológico de novas vacinas, anticorpos terapêuticos e medicamentos para doenças infecciosas agudas e crônicas; e colaborações em medicina tropical. “Este acordo reforça a cooperação em saúde pública”, comentou Shi Yi, diretor-executivo do CEEID que mediou a série de seminários entre Fiocruz e a Academia Chinesa de Ciências no ano passado.

Em Pequim, o centro funcionará no Instituto de Microbiologia. No Brasil, ele ficará no prédio do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), que está sendo construído em Manguinhos. O prédio tem previsão de conclusão para o final de 2024, com o centro devendo começar a funcionar no início de 2025. Até lá, haverá tempo para selecionar os pesquisadores que irão e os que virão.

“A importância maior desse memorando é que pela primeira vez vamos estabelecer dois centros físicos, que serão usados por pesquisadores brasileiros e chineses. Estamos transformando eventos que eram de curta duração, como as visitas de pesquisadores, em atividades permanentes. A ideia é ter aqui cientistas chineses por longos períodos, um mês, um ano, dois anos”, afirmou o coordenador do CDTS, Carlos Morel, que participou da elaboração do memorando. “Vamos abrir programas de intercâmbio, de treinamento e recrutamento de pessoas. Há muitos pesquisadores chineses querendo vir para cá. Mas não é tão fácil encontrar brasileiros querendo ir. Primeiro, é preciso algum tempo para estudar a língua, apoio para arrumar apartamento. Tudo isso a gente vai discutir até a inauguração”. Durante esse período os dois lados vão buscar também apoio público e privado.

Entre as doenças que serão estudadas, algumas atingem os dois países, como a Covid-19. Outras, mais o Brasil, como a febre amarela, mas que vem atraído o interesse chinês. Com o aumento de obras chinesas de infraestrutura na África, alguns de seus trabalhadores têm contraído febre amarela – uma enfermidade para a qual a Fiocruz tem know-how, já que produz a vacina. Por outro lado, China e Índia produzem grande parte do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) usado no mundo. E o Brasil pode aprender com eles.

Parceria

A cooperação entre Brasil e China na saúde não é nova, mas ganhou força nos últimos anos. Na Fiocruz, ela começou a ser impulsionada a partir da visita da delegação liderada pelo cientista George Fu Gao, então diretor do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/China), em junho de 2017. Naquele mesmo ano, em 1º de novembro, Gao e Nísia Trindade Lima, que era presidente da Fiocruz, assinaram um Memorando de Entendimento para o desenvolvimento de projetos conjuntos de pesquisa e tecnologia, diante do ministro da Saúde no Brasil, Ricardo Barros, e do vice-ministro chinês, Guoqiang Wang. A partir daí, cientistas e especialistas da Academia Chinesa de Ciências e da Fiocruz têm mantido comunicações constantes, realizando seminários conjuntos, intercâmbios acadêmicos e artigos em coautoria.

Cerimônia

O Memorando de Entendimento para a criação do Centro Sino-Brasileiro de Pesquisa e Prevenção de Doenças Infecciosas foi assinado no Instituto de Microbiologia, em Pequim, pelo seu diretor Wei Qian e pelo presidente da Fiocruz, Mario Moreira. Participaram ainda autoridades como George Fu Gao e Yi Shi, diretores do Centro de Excelência CAS-TWAS para Doenças Infecciosas Emergentes; Bolun Ning e Zhenyu Wang, do Escritório de Cooperação Internacional da Academia Chinesa de Ciências; e Victor Tibau, chefe do setor de Ciência, Tecnologia e Inovação da embaixada brasileira em Pequim.

Imagem: O presidente da Fiocruz, Mario Moreira, e o diretor do Instituto de Microbiologia, Wei Qian, na cerimônia em Pequim

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