O agro é Aldo: o ex-comunista e ex-ministro de governos do PT articula na Amazônia cruzada contra a agenda ambiental de Lula

Aldo Rebelo, parlamentar por mais de duas décadas pelo PCdoB, ex-aliado de Lula e Dilma, circula agora ao lado de bolsonaristas e grileiros, em defesa de um projeto político agromilitar que organiza a partir da cidade de Altamira, um dos epicentros da destruição da floresta amazônica

por CLAUDIA ANTUNES, em Sumaúma

Deputado por 24 anos pelo PCdoB e quatro vezes ministro nos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, Aldo Rebelo conquistou os grileiros e fazendeiros de Altamira, que até o ano passado formavam uma sólida base bolsonarista. Essa cidade do Pará, no arco do desmatamento, na rota da rodovia Transamazônica e centro de conflitos agrários e ambientais, tem sido desde janeiro o segundo domicílio do ex-comunista, que mora em São Paulo. A partir da sede do município, à margem do rio Xingu, onde Jair Bolsonaro teve 62% dos votos no segundo turno da eleição de 2022, Aldo tem percorrido a Amazônia com seu chapéu-panamá para promover um “projeto político” em que disputa a agenda do clima e do meio ambiente com o governo Lula. Apesar da expectativa de apoiadores de que ele se lance como uma alternativa a Jair Bolsonaro, Aldo nega ter ambições eleitorais e diz que seu horizonte é a conferência climática da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2025, a COP 30, que Lula pretende realizar em Belém, a capital do Pará.

Em Altamira e outras cidades do norte do Brasil, o ex-ministro da Secretaria de Coordenação Política, no primeiro governo Lula, do Esporte, da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Defesa, nos dois mandatos de Dilma, faz palestras, participa de debates e dá entrevistas em que defende os garimpeiros e a regulamentação da mineração em terras indígenas. Ele compara os garimpeiros aos bandeirantes, que chama de “dilatadores” das fronteiras do Brasil, e diz lutar para destravar o potencial de desenvolvimento da região, contra uma “agenda negativa” de desmatamento e tragédias que envolvem os povos originários. Aldo alega que esses fatos monopolizam o noticiário por causa da influência de organizações não governamentais (ONGs) que representariam “interesses estrangeiros” e estariam mancomunadas com órgãos de controle e fiscalização como o Ministério Público e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Ele raramente critica o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas não poupa ataques às ministras Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, e Sonia Guajajara, dos Povos Indígenas, que chama de “agentes” dos governos dos Estados Unidos e de países europeus.

Os alvos que o ex-ministro elegeu e o tom muitas vezes conspiratório com que enquadra os embates políticos o aproximam dos ruralistas e também dos militares, dois setores que cultiva há bastante tempo e que considera vitais na defesa do “interesse nacional”. O próprio Bolsonaro e o general Eduardo Villas Bôas – o ex-comandante do Exército que pavimentou o caminho do capitão reformado para o Planalto – elogiam Aldo nas redes sociais. A presidenta do Sindicato dos Produtores Rurais de Altamira (Siralta), Maria Augusta da Silva Neta, conta que os fazendeiros da região estabeleceram com ele um “vínculo de proposta de trabalho”, segundo ela não remunerado, “para mudar a visão das pessoas que estão lá fora, para que nos vejam diferente”. Edward Luz, conhecido como “antropólogo dos ruralistas”, diz ver no ex-comunista “um nome que consegue agregar setores da direita e da esquerda” e também um futuro candidato a “algum cargo na República”.

Dize-me com quem andas, e eu te direi quem és

Que Aldo Rebelo virou uma referência para a elite agrária de Altamira, parte dela ligada à grilagem e ao assassinato de camponeses e seus apoiadores, ficou explícito no dia 23 de março passado, quando os senadores bolsonaristas Zequinha Marinho (PL-PA) e Damares Alves (Republicanos-DF) foram à cidade de jatinho para uma reunião pública convocada a pedido do Siralta. O objetivo principal do encontro, no Centro de Convenções e Cursos de Altamira, era discutir como bloquear a criação do Território Ribeirinho, pendente desde 2019 e uma das exigências do Ibama para renovar a licença de operação da hidrelétrica de Belo Monte. O território abrigará cerca de 300 famílias expulsas das margens e das ilhas do Xingu quando o curso do rio foi alterado para a construção do reservatório da usina. Para isso, terras terão que ser desapropriadas.

A certa altura, Zequinha chamou ao palco Silvério Fernandes, coordenador do núcleo Transamazônica da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa). Silvério, que já foi vice-prefeito de Altamira, representa uma das famílias mais poderosas dessa região, no sudoeste do Pará, reivindicando milhares de hectares de terras sem titulação definitiva. Em 2018, quando presidia o sindicato rural da cidade de Anapu, ele liderou acusações de associação criminosa e invasão de propriedade que levaram à prisão do padre José Amaro Lopes de Souza, da prelazia do Xingu, por três meses. O padre, que só foi solto quando seu caso chegou ao Supremo Tribunal Federal, havia trabalhado com a missionária Dorothy Stang, defensora da reforma agrária assassinada em 2005. Na época, Délio Fernandes, irmão de Silvério, admitiu ter recebido em sua fazenda, logo depois do crime, um dos mandantes do assassinato, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura.

No palco, Silvério se colocou entre Zequinha e Damares. Disse brevemente que não apoiava o Território Ribeirinho “sem diálogo” e marcou posição também contra a homologação de Ituna/Itatá e a remoção de invasores de Cachoeira Seca, duas terras indígenas que ficam na região e que nos últimos anos registraram recordes de desmatamento. Depois, dando tapinhas no ombro da senadora, elogiou o político que militou por 40 anos, até 2017, no partido que durante a ditadura empresarial-militar (1964-1985) lançou na Amazônia a Guerrilha do Araguaia: “Quero dizer para a senhora que nos últimos meses fiquei conhecendo uma pessoa que eu fiquei admirado com o posicionamento dele – é o ex-ministro Aldo Rebelo. Ele tinha que estar no nosso time, Zequinha, porque aquele é o verdadeiro amazônida. Eu passei a admirá-lo apesar de em tempos passados ter estado em um partido totalmente de esquerda, mas o pensamento dele não condiz com o partido em que ele estava”.

A reunião sobre o Território Ribeirinho havia sido convocada inicialmente para 2 de março, e a presença de Aldo Rebelo chegou a ser anunciada. Com o adiamento, o ex-ministro não pôde comparecer. No dia 23 de março, data em que o encontro finalmente aconteceu, ele estava em Manaus. Na capital amazonense, lançou, num evento paralelo ao Fórum Norte e Nordeste da Indústria da Construção Civil, um livro que publicou em 2021 e que é também o manifesto do seu projeto político atual: O Quinto Movimento – Propostas para uma construção inacabada (Já Editores). Porém, assim como os senadores Hamilton Mourão (Republicanos-RS), general da reserva que foi vice-presidente de Bolsonaro, e Tereza Cristina (PP-MS), ministra da Agricultura do governo passado, Aldo Rebelo mandou uma mensagem por vídeo para os fazendeiros e grileiros de Altamira. O ex-ministro não citou diretamente o Território Ribeirinho – a SUMAÚMA, ele disse que não conhece o projeto –, mas centrou fogo nas ONGs.

“A Amazônia entrou definitivamente na agenda do mundo não apenas em função do clima, do aquecimento global, mas pela grande promessa que guarda para os seus. Não é por acaso que centenas de organizações não governamentais estrangeiras ou financiadas do exterior estão presentes na Amazônia, inclusive em Altamira. Não é apenas pelo meio ambiente, pela proteção dos índios, que são causas justas e humanitárias, não é apenas em busca de nosso bem, é também em busca de nossos bens”, discursou.

Em seguida, o ex-comunista fez coro com os ataques de Zequinha Marinho, que se esforça para disseminar dúvidas sobre a ação do Ministério Público Federal. “Quando se avizinha a conferência do clima que será realizada na Amazônia em 2025, é importante que o Senado Federal olhe para os produtores e para os criadores da Amazônia, submetidos a uma pressão muito dura, muitas vezes das agências governamentais, muitas vezes do Ministério Público Federal, que se nega a receber produtores rurais, mas muitas vezes comunga com as organizações não governamentais estrangeiras”, reforçou Aldo.

Imitando Bolsonaro na demonização das ONGs

O foco do ex-ministro coincidiu com o de Edward Luz, que estava presente na reunião. Consultor de produtores e sindicatos rurais, o antropólogo foi detido duas vezes, em 2020 e 2022, sob a acusação de tentar impedir ações de fiscalização da Polícia Federal e do Ibama em Ituna/Itatá. Luz contesta a presença na área de indígenas isolados, cujos vestígios foram confirmados em 2011 por uma equipe da Funai, a Fundação Nacional dos Povos Indígenas. Ele declarou que é a favor da demarcação de terras indígenas, mas não do que chama de “territorialização étnica artificial”, que “transforma qualquer pessoa que se declara indígena, quilombola ou ribeirinho em uma população étnica artificial”. A autodeclaração é a norma internacional e é adotada no Brasil pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Antes da reunião, Luz postou em suas redes que aquele encontro seria o “pontapé inicial da campanha cívica em prol da abertura da CPI das ONGs”. Tal Comissão Parlamentar de Inquérito é proposta desde 2019 pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM), que em seu requerimento cita denúncias de desvio e “desvirtuamento” do uso de recursos públicos, além de “suspeitas” de atividades irregulares, “inclusive a serviços de empresas com sede no exterior e a interesses de potências estrangeiras”. A instalação da CPI acabou sendo autorizada no dia 4 de abril, com a assinatura de 37 senadores, todos da oposição, entre eles Zequinha Marinho, Mourão, Tereza Cristina e Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Já houve duas CPIs das ONGs no Senado, a primeira entre 2001 e 2002 e a segunda entre 2007 e 2010. Apesar das tentativas de criminalizar essas organizações, uma estratégia da extrema direita nos últimos anos, os fatos comprovam outro cenário. Em 2019, estudo de Aline Gonçalves de Souza e Eduardo Pannunzio, da Fundação Getulio Vargas (FGV), concluiu que as comissões haviam constatado um “número ínfimo de irregularidades” – dez casos na primeira e sete na segunda –, “comparado ao universo de organizações e à intensidade das investigações”. O principal resultado dessas CPIs foi a aprovação, em 2014, de uma lei conhecida como Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC), que estabeleceu regras mais rigorosas para as parcerias entre o setor público e organizações sem fins lucrativos.

Edward Luz chamou o ex-ministro de “nosso futuro candidato a presidente do Brasil”. “O Aldo demonstra sensibilidade, nós tivemos várias conversas com ele, e para mim ele é um nome que consegue agregar setores da direita e da esquerda”, justificou. Contou ter ficado decepcionado com Bolsonaro quando ele não aceitou sugestões para comemorar em grande estilo os 50 anos da Transamazônica, em 2022, e enviou militares para ações de repressão a crimes ambientais na Amazônia: “Ele achou que ia agradar gregos e troianos e não agradou nem uns nem outros”.

Quatro dias depois da reunião, Aldo Rebelo já estava de novo em Altamira – o ex-ministro disse que se hospeda em um hotel na cidade e que sua temporada local deverá durar ao menos mais um mês. Tudo indica que tanto Aldo quanto apoiadores ficaram preocupados que uma reportagem que anunciasse o ex-ministro como potencial candidato às próximas eleições presidenciais, nesta altura precoce do jogo eleitoral, pudesse ter o efeito de sepultar a estratégia. Luz mandou uma mensagem a SUMAÚMA, dizendo que precisava esclarecer suas posições sobre o ex-comunista. “Eu e outros cidadãos amazônidas do Norte do país admiramos sua preocupação com nossa região. Sim, nós gostaríamos de tê-lo representando nossa região em algum cargo da República. Mas é preciso enfatizar: não há qualquer ação ou movimento político nesse sentido confirmado ainda”, escreveu. “Na ânsia de nos vermos representados por alguém, devemos nos preocupar com a aceitação que este candidato tem de seu eleitorado. O que temos é uma admiração pelo seu amor ao Brasil e seu nacionalismo. Uma admiração pela visão de Brasil que tem. Nada mais concreto ou efetivo do que isto”, acrescentou.

Indagado se uma candidatura de Aldo Rebelo à Presidência ainda esbarraria em resistências, Luz disse que “provavelmente, de ambos os lados”: “Tanto Aldo como eu somos muito críticos a algumas posturas de Bolsonaro, e isto seria uma potencial barreira para uma parcela mais bolsonarista na região”. Em entrevista a SUMAÚMA, Aldo Rebelo quis jogar água fria na fervura. Disse que não quer se meter em “confusão de política” porque isso atrapalharia o debate sobre a Amazônia: “Eu fui seis vezes deputado federal por São Paulo, fui presidente da Câmara, quatro vezes ministro de Estado. O que eu aspiro mais, que cargo? Acho que minha missão política é mais essa do pregador do que propriamente do candidato”.

O ex-ministro procurou se distanciar dos elogios de Silvério Fernandes e Edward Luz. Também minimizou suas relações com ambos. “O Silvério é dirigente da Federação da Agricultura do Pará. Eu já fiz reuniões e palestras na federação e o encontrei”, afirmou. Sobre Luz, disse que não o conhece “direito”, que o conheceu em uma audiência na Câmara “há uns 15 anos”, reencontrou-o numa palestra em Santarém e voltou a encontrá-lo em Altamira. “Mas não tenho uma relação pessoal.”

A curiosa dança dos partidos

Foi no início de dezembro do ano passado que Aldo Rebelo anunciou sua intenção de passar alguns meses em Altamira, dizendo que lá escreveria um novo livro, chamado “A maldição de Tordesilhas”. Nele, pretende descrever uma tese que recebe particular apreço das cúpulas militares: “a crônica da cobiça internacional sobre a Amazônia”. Aldo quer contar “por que nós herdamos essa região [dos portugueses, segundo ele] e não demos conta de proteger essa herança”. Além disso, o livro incluirá um inventário das riquezas da região e um “esboço de projeto” para a Amazônia, da qual Altamira, o município mais extenso do Brasil, é uma “cidade-símbolo”.

Na época, o ex-ministro havia acabado de ser derrotado na disputa pelo Senado em São Paulo. Ficou em sétimo lugar, com 230.833 votos, 1,07% do total, atrás de Vivian Mendes, da Unidade Popular, que o superou por quase 50 mil votos. A candidatura foi pelo PDT, o terceiro partido a que se filiou depois de deixar o PCdoB, em 2017, por “divergências programáticas e políticas”, segundo nota divulgada na ocasião pela sigla, que participou de todos os governos petistas, desde 2003. Aldo também teve uma breve passagem pelo PSB e, em 2018, articulou uma candidatura à Presidência pelo Solidariedade que não se concretizou.

No partido fundado por Leonel Brizola, Aldo foi acolhido com fervor pelo setor mais antipetista, que inclui ativistas da chamada Nova Resistência. Esse grupo se inspira nas ideias de Alexander Dugin, filósofo anti-iluminista russo defensor de um mundo multipolar em que a Rússia teria lugar como portadora de uma civilização ancestral. A rejeição da modernidade e a recuperação de um passado mítico aproximam Dugin do ideólogo do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, que morreu em 2022. A evocação, por Aldo, dos mitos fundadores da nacionalidade brasileira, tal como estabelecidos no início do século passado, e seu professado combate aos “avanços imperialistas” sobre as riquezas do país explicam a atração que ele exerce sobre esse grupo.

É difícil saber o alcance da mensagem de Aldo Rebelo, mas ela repercute em meios especializados na agroindústria. Ele, que afirma não ter hoje outra atividade profissional que não a de jornalista, é colunista do jornal O Liberal, de Belém, e do canal AgroMais, da rede Bandeirantes. É ouvido com frequência no Canal Rural – que pertence à J&F, de Joesley Batista, e é transmitido nacionalmente por serviços de satélite e cabo – e em sites como o Agro em Dia, especializado em agronegócio e com sede em Brasília, e o Notícias Agrícolas, que se apresenta como um portal que faz a comunicação direta com os produtores rurais do Brasil. Tem relativamente poucos seguidores no Twitter (56,7 mil) e no Instagram (12 mil), e também usa nas redes sociais os perfis Quinto Movimento e Questão Nacional. Aldo costuma dar longas entrevistas na internet, sendo convidado frequente de youtubers que se identificam como “nacionalistas” e da produtora de filmes Brasil Paralelo, alinhada ao bolsonarismo, que nasceu do movimento da autointitulada “nova direita” para derrubar Dilma Rousseff e foi acusada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de divulgar fake news durante a última campanha eleitoral.

A extrema direita busca novos líderes

O ex-ministro foi uma das poucas pessoas sem ligação direta com a extrema direita bolsonarista a ser entrevistadas para a série A Direita no Brasil, lançada pela Brasil Paralelo em março deste ano com a intenção de discutir um novo rumo para o grupo depois da derrota de Bolsonaro. A série, em três episódios, ignora o peso dos militares no governo passado, elogia as políticas do ex-ministro Paulo Guedes na economia e dá amplo espaço ao ex-juiz, ex-ministro e atual senador paranaense Sergio Moro para se defender das ilegalidades da Operação Lava Jato. A série responsabiliza sobretudo Bolsonaro pela vitória de Lula em 2022, com suas bravatas, seus filhos trapalhões e sua falta de compaixão pelas vítimas da covid-19, e deixa claro que esse campo político está em busca de novos líderes.

Nos trechos em que aparece na série, Aldo se mostra equidistante de Bolsonaro e Lula. “Os antagonistas devem respeitar as regras do jogo, e o que está acontecendo é o uso das regras do jogo pelos antagonistas para tentar destruir um ao outro”, diz ele. A SUMAÚMA, o ex-ministro afirmou que não pretende se colocar como uma terceira via, “porque ela já está engarrafada”, e que não escolhe falar para a extrema direita: “Eu dou entrevista para quem me procura”. Alegou que nem sabia o que era a Brasil Paralelo – “Pensei que era até uma instituição ligada à universidade” – e que só teria se dado conta quando a entrevista foi atacada pela direita e pela esquerda.

Aldo, porém, por vezes usa códigos discursivos caros à extrema direita que situam o Brasil em um caos moral e social que demanda um salvador. É o caso de um vídeo assinado pelo Quinto Movimento – nome tanto do seu livro quanto do projeto político que divulga virtualmente – que ele compartilhou em suas redes sociais no dia 12 de março. Ao som de Bones, da banda americana Imagine Dragons, cuja letra fala em perder a paciência, perder o controle e brincar com um cartucho de dinamite, o clipe de 51 segundos mistura cenas de traficantes armados, do esculacho de um professor em sala de aula, de golpistas em Brasília em 8 de janeiro, de black blocs, de fome e desastres. A primeira parte termina com o desenho de um meme conhecido como Wojak, associado a sentimentos de solidão e impotência e à cultura dos celibatários involuntários. A sigla em inglês Incel (Involuntary Celibates) foi gestada em fóruns digitais da ultradireita. Nos 21 segundos finais do clipe, sucedem-se imagens do próprio Aldo, a cavalo, de jaqueta de couro e chapéu-panamá, passando militares em revista, acompanhado de crianças.

Aldo Rebelo, de novo, quis se desvincular do vídeo. “São jovens que eu mal conheço, que colaboram com esse debate, que produzem esses vídeos, inclusive com uma linguagem que eu não domino, uma linguagem muito contemporânea, muito jovem, muitas vezes usando um fundo musical que eu nem conheço. Eles produzem e colocam na internet, são pessoas que querem participar do debate. Às vezes eu reproduzo quando acho interessante”, alegou.

Críticos e admiradores avaliam que as posições atuais do ex-ministro demonstram sua intenção de articular um bloco agromilitar, dois setores hoje órfãos de Bolsonaro. O jornalista Luis Nassif, coeditor do Jornal GGN, por exemplo, escreveu em setembro de 2022: “Agora, ficou nítido que todos os movimentos dele [Aldo Rebelo], ainda no governo Dilma, visavam boicotar o governo e consolidar aliança com dois segmentos: os ruralistas e os militares”. Já Gustavo Castañon, professor de filosofia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e ponta de lança da tropa de choque de Ciro Gomes (PDT) nas redes sociais, anotou, já em janeiro do ano passado, numa resenha do livro de Aldo: “Uma união nesse momento entre Aldo e o PDT e Ciro Gomes traria muito do que falta a Ciro para ser esse governante que o Brasil precisa: uma articulação construtiva do trabalhismo com as Forças Armadas e o que ainda existe de direita com interesse nacional no Brasil, o agronegócio”.

Em entrevista em janeiro ao site Brasil 247, ligado à esquerda petista, Aldo disse, ao ser pressionado a se pronunciar sobre o papel dos militares na invasão das sedes dos três poderes em Brasília e do agronegócio no financiamento dos golpistas: “Espero que o presidente Lula não ouça esses conselheiros, não escolha fazer uma guerra agora contra a agricultura nem contra os militares”. Nessa entrevista, afirmou que os “baderneiros” devem ser punidos “exemplarmente”, no caso de policiais e militares que têm o monopólio legal do uso da força. Mas em nenhum momento condenou a cúpula militar do governo bolsonarista, que divulgou nota afirmando que as aglomerações pró-golpe na porta dos quartéis eram “legítimas”.

Aldo Rebelo tem uma amizade antiga com o general Eduardo Villas Bôas, cuja mulher visitou o acampamento em frente ao quartel-general do Exército em Brasília, onde bolsonaristas protestavam contra o resultado da eleição presidencial. Como é sabido, o gesto mais notório do general foi pressionar o Supremo Tribunal Federal a não conceder a Lula um habeas corpus para que o petista pudesse recorrer de sua condenação em liberdade, em 2018, o que o deixou fora da disputa presidencial. Depois, o general foi assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional de Bolsonaro, comandado pelo colega de farda Augusto Heleno. Ele e o ex-comunista se conhecem desde os anos 1990, quando Villas Bôas, então coronel, foi chefe da assessoria parlamentar do Exército. Quando Villas Bôas era comandante do Exército, Aldo chefiava o Ministério da Defesa. No ano passado, o general declarou apoio à candidatura do político ao Senado: chamou-o de o “único estadista brasileiro” que conheceu. O ex-ministro disse que conhece “o valor da amizade” e por isso não critica o general: “Não é uma coisa simples criticar um amigo. Isso não significa que os amigos não tenham defeitos, que os amigos não errem”.

Uma cruzada contra o ativismo climático

Apesar de suas relações com os militares e o agronegócio, Aldo sustenta que a articulação que tenta fazer é “muito mais ampla”. “Ela tem como objetivo, em primeiro lugar, o movimento dos trabalhadores e, ao lado dos trabalhadores, os militares, porque têm uma tradição nacionalista no Brasil, são construtores importantes do nosso país, uma instituição que guarda nossa memória, a nossa história. E a agricultura, porque é parte da formação do Brasil. Desde que você estuda os ciclos econômicos, você tem a presença do campo. No Brasil, é preciso uma aliança que envolva os trabalhadores, os agricultores, os militares, a classe média, para construir um caminho para o desenvolvimento com equilíbrio social, com redução de desigualdades e com democracia”, argumenta. Embora Aldo use a palavra “agricultores”, em Altamira e região seus apoiadores são principalmente grileiros e latifundiários, alguns deles suspeitos de crimes ambientais e com forte antagonismo com agricultores familiares em assentamentos.

Desde meados de janeiro, Aldo Rebelo tem percorrido universidades, entidades empresariais e feiras do agronegócio em toda a região amazônica. Esteve no Sindicato dos Produtores Rurais de Marabá e com dirigentes sindicais em Belém; falou a alunos de escolas técnicas de Paragominas; deu uma aula magna, por vídeo, a alunos do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal e Recursos Pesqueiros da Universidade Federal do Amazonas; e prestigiou a Abertura Nacional da Colheita da Soja, em Santarém. No início de março, foi alvo de um protesto de alunos indígenas da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, em Marabá, cidade da rota Transamazônica. Suas declarações rendem notícias na imprensa local e especializada, como quando disse aos sojicultores que “o Brasil produzir grãos na Amazônia incomoda os países que já desmataram seus territórios”.

Em entrevista, em fevereiro, ao canal do YouTube Politizando, comandado por William Jacob, que foi candidato a deputado federal pelo PDT em Minas Gerais, Aldo disse que quer evitar que a conferência do clima, prevista para 2025 em Belém, se torne uma reunião de “guardadores de florestas”: “Ninguém fala dos 26 milhões de brasileiros abandonados na Amazônia. Os 600 mil que estudam nas universidades da Amazônia vão virar guardas-florestais, vão se formar em gás e petróleo para abraçar castanheira ou seringueira?”. Ele afirmou que “estimula” a organização local em torno de quatro pontos, os mesmos do “projeto para a Amazônia” que pretende desenvolver em seu livro: “soberania”; “direito ao desenvolvimento”; “retirar indígenas da tutela das ONGs e lhes prover serviços essenciais”; e “cuidar do meio ambiente”.

Na mesma entrevista, Aldo criticou as ministras Marina Silva e Sonia Guajajara, às quais dá especial protagonismo em sua visão conspiratória. “Marina é ministra terceirizada, a serviço da agenda dos EUA. A área da Amazônia [no governo Lula] chega muito perto da traição nacional. Marina, com sua equipe, e Guajajara são gente de lá, mais do Partido Democrata do que do governo brasileiro. O ministro de Direitos Humanos [Silvio Almeida, intelectual negro e um dos mais respeitados juristas do Brasil] também veio de lá”, disse o ex-comunista.

O ataque, pela violência, ecoa as falas de Bolsonaro contra organizações que denunciavam o desmatamento na Amazônia e o desmonte das políticas ambientais e de proteção aos povos indígenas – “Não consigo matar esse câncer chamado ONGs que tem na Amazônia”, disse o então presidente em 2020. Questionado sobre essa virulência, Aldo se voltou contra Lula: disse que as duas ministras foram nomeadas devido a um suposto “compromisso” assumido pelo atual presidente na campanha eleitoral com “setores ambientalistas” de países europeus como Alemanha, França e Noruega e do partido do presidente americano Joe Biden.

Há histórias que se repetem nas falas de Aldo, como a da visita de quatro dias do rei Harald V, da Noruega, a uma aldeia Yanomami, a convite do xamã e líder Davi Kopenawa, em 2013. A pedido do rei, a visita só foi divulgada quando já havia acabado, mas o Itamaraty, a Funai e a Polícia Federal foram informados dela com antecedência. O ex-comunista, porém, dá ao episódio ares de conspiração ao narrá-lo – emulando o general Villas Bôas, que em 2017, em entrevista ao programa Conversa com Bial, da TV Globo, disse que na visita do rei ficara demonstrado um “déficit de soberania” brasileiro sobre a Amazônia.

Para reforçar seu argumento, Aldo Rebelo costuma citar o livro Imperialismo, Ambientalismo e ONGs na Amazônia, de Nazira Camely, professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), em Niterói. “Essa professora demonstra na tese de doutorado dela que esse Sistema Nacional de Unidades de Conservação é copiado de uma agência americana, que é a Usaid [Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional]”, disse.

O livro da geógrafa e economista, que se define como marxista, é fruto de uma pesquisa de campo na Reserva Extrativista Chico Mendes e no Parque Nacional da Serra do Divisor, ambos no Acre, estado onde nasceu. Nazira tem uma visão muito crítica da atuação de ONGs ambientalistas estrangeiras e da associação de organizações brasileiras a elas, porque, como disse a SUMAÚMA, “é muito complicado a gente delegar a organizações não governamentais a gestão do nosso território, seja uma ONG boa ou má”.

A professora, cujas posições são contrárias às de Aldo em muitos sentidos, se revolta contra a apropriação do seu livro “pela extrema direita, que tem uma visão anticientífica do processo, da teoria da conspiração”. Nazira é contra o garimpo “em todas as suas formas, mesmo o dito sustentável”, e diz que a grande questão nacional continua sendo, depois de mais de cinco séculos, a concentração da propriedade da terra. “É um país onde domina o latifúndio, basta olhar o Congresso Nacional. O devastador da Amazônia não é o pequeno. É o grande latifúndio pecuarista”, afirma.

Garimpeiros, os “novos bandeirantes”

Depois que Aldo chegou a Altamira, sua primeira declaração que teve repercussão nacional está relacionada à defesa do garimpo. Na época, no fim de janeiro, SUMAÚMA acabara de denunciar que pelo menos 570 crianças Yanomami com menos de 5 anos tinham morrido de causas evitáveis durante os quatro anos do governo Bolsonaro. Numa palestra na própria cidade, promovida por três entidades do agronegócio, o ex-ministro disse que a tragédia desse povo “não é novidade” e reclamou de que os garimpeiros estavam sendo tratados como “a escória do mundo”. Dias depois da palestra, Bolsonaro – que franqueou a entrada do garimpo no território indígena – compartilhou no Twitter um vídeo postado no TikTok em que o ex-comunista dizia que os garimpeiros eram os próprios indígenas “que vivem nas reservas”, e não aquele “que vive na França ou na Itália”.

Nas declarações em defesa dos garimpeiros, Aldo se refere a eles como “novos bandeirantes”. “Os garimpeiros historicamente definiram as fronteiras do Brasil, romperam os limites de Tordesilhas (…) O garimpeiro traduz a ocupação de fato do Brasil, por isso é alvo de campanha sórdida e criminosa. Que os criminosos sejam punidos, mas outra coisa é a campanha para demonizar o garimpeiro”, disse ao canal Politizando. O ex-ministro tem como mote a defesa da regulamentação dos artigos 231, 174 e 176 da Constituição, que tratam, respectivamente, dos direitos dos povos indígenas e da possibilidade de mineração em suas terras; da organização dos garimpeiros em cooperativas; e da concessão, pela União, de direitos de mineração e exploração da energia hidráulica.

Embora o artigo 174 diga que o governo deve favorecer a organização dos garimpeiros em cooperativas, ele não se aplica a terras dos povos originários, como explica a advogada Juliana de Paula Batista, do Instituto Socioambiental (ISA). “Pela Constituição, a exploração dos recursos minerais e hídricos em terras indígenas é passível de regulamentação, mas não é possível a regulamentação do garimpo porque o artigo 231, no parágrafo 7º, exclui todo o regime de garimpo das terras indígenas. Ele diz taxativamente que o regime de garimpagem não se aplica ali”, afirma ela.

Saudade do mito da democracia racial

Não existe exatamente um corte entre o Aldo Rebelo de hoje e o político histórico. Quando ainda estava no PCdoB, Aldo ficou conhecido por um nacionalismo que enfatizava uma espécie de “síntese benigna” dos grupos que conquistaram e povoaram o território do país. Ele queria regulamentar o uso de “estrangeirismos” na língua portuguesa e chegou a apresentar um projeto sobre isso que foi barrado no Senado. Natural de Viçosa, em Alagoas, Aldo foi o autor da lei que estabeleceu o 20 de novembro de 1995, quando se comemoravam os 300 anos da morte de Zumbi, como data nacional – outra lei, proposta pela então senadora Serys Slhessarenko e aprovada em 2011, instituiu o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra como feriado em todo o país.

Agora, quando é questionado sobre por que deixou o PCdoB e se afastou da esquerda, ele diz que foi por causa do “identitarismo”, um termo controvertido usado pela direita e pela esquerda para retratar de forma caricata os movimentos por maior igualdade e representatividade de grupos historicamente discriminados. A esquerda “desorienta” quando “substitui a centralidade da questão nacional pelas questões de raça, de gênero”, disse Aldo à Brasil Paralelo. Com isso, acrescentou, “subtrai energias” do conflito principal, que é “entre as nações imperiais e as emergentes, que buscam a emancipação econômica e tecnológica”.

A discussão sobre o tema não acontece só no Brasil. Para um setor da esquerda, o protagonismo dos movimentos de mulheres, negros, indígenas e das comunidades LGBTQIA+ desviaria o foco do combate aos males do capitalismo. Na extrema direita, o assunto é explorado nas chamadas “guerras culturais”, sob a perspectiva da religião e dos costumes, e ganha um contorno mais claro de disputa de poder: proclama-se uma suposta intenção de substituição do homem branco heterossexual e cristão por pessoas de cor de pele, gênero e religião diferentes. “O que acontece é que a esquerda deixou no ar a ideia de que ela não defende a família, a religião, não defende os valores nacionais. Nós sabemos que isso não é verdade, mas, quando setores da esquerda atacam a família, a religião ou os valores nacionais e a esquerda silencia, ela legitima os ataques do setor conservador e da direita”, justifica Aldo.

O ex-ministro costuma afirmar que há uma “guerra híbrida” contra o Brasil. Diz que é “difícil localizar” quem a conduz, mas aponta quase sempre para os Estados Unidos e países europeus, sem mencionar as associações entre a extrema direita brasileira e a global. Ele vê uma continuidade do objetivo de “fragilizar o Brasil”, que vai dos protestos contra Dilma Rousseff, em 2013, a Bolsonaro. “Acho que [o movimento de 2013] ocorreria com qualquer governo, porque era preciso conter o Brasil como ameaça ao equilíbrio geopolítico global. E acho que essa guerra híbrida prosseguiu inclusive em parte do governo do Bolsonaro. Eu vi as pressões que os Estados Unidos e a União Europeia exerciam sobre o governo em determinados momentos, quando ele resolveu visitar a Rússia por conta de um acordo para insumos para a agricultura”, afirma.

Toda a base – e até as histórias contadas – para as posições recentes que Aldo Rebelo assumiu está no livro O Quinto Movimento. A publicação, de 252 páginas, falha em oferecer um caminho para o que seria essa nova etapa da história do Brasil, mas a cronologia dos quatro movimentos anteriores dá pistas sobre o pensamento do ex-ministro. O primeiro é a “formação da base física” do Brasil; o segundo, a Independência; o terceiro, a “consolidação da independência e da unidade territorial”; e o quarto, a “República e a Era Vargas, Deodoro, Floriano e a Revolução de 1930”. Os anos do governo de Getúlio Vargas – que incluíram a ditadura do Estado Novo, com ampla perseguição aos opositores, e um forte nacionalismo – são descritos como “os mais criativos e transformadores da história” do Brasil. Já a Constituição de 1988, que consagrou direitos sociais e políticos, inaugurando a chamada “Nova República”, é ignorada.

No livro, que lembra o conteúdo das aulas de moral e cívica que existiam na ditadura, Aldo Rebelo se diz contra o “cosmopolitismo de esquerda e de direita” e a divisão da “nação em linhas raciais”. Ele exalta a miscigenação, sem mencionar as cotas que mudaram a cara das universidades – afirmou a SUMAÚMA que não é contra a política pública, desde que os mestiços não sejam excluídos “na hora da distribuição” das vagas e que as cotas sociais, para os mais pobres, sejam valorizadas. Lamenta ainda, em sua obra, que “a hierarquia e a disciplina” tenham sido “varridas” das escolas e defende uma reforma curricular que traga uma “interpretação crítica, mas otimista de formação social brasileira”. Sugere “campanhas de valorização da maternidade”, já que “toda mulher deve poder exercer esse direito sagrado”.

No relato de Aldo, os indígenas que se aliaram aos portugueses são exaltados e os bandeirantes assumem lugar de honra por terem ocupado territórios que o Tratado de Tordesilhas atribuiu aos espanhóis, uma “das maiores conquistas da história da humanidade, tamanho o território incorporado, maior do que a Europa Ocidental de nossos dias”. As bandeiras, diz, foram “um projeto conjunto de colonos e nativos”, pois a “penetração no território uniu conhecimento da geografia dos índios e tecnologias portuguesas”. Admirador de José Bonifácio – ele também faz parte de um instituto que leva o nome do “patriarca da Independência” –, o ex-ministro destaca o papel dos militares contra as revoltas regionais republicanas ou separatistas no século 19 e diz que eles estão “acima dos regionalismos e são portadores da consciência nacional”.

O agronegócio, segundo escreve o ex-ministro, é alvo de uma “difamação orquestrada por agentes” de seus concorrentes internacionais. Nessa análise, ignora que a atuação política dos setores do agronegócio, com grande influência no Congresso brasileiro, está intimamente relacionada às corporações transnacionais. “Superados os gargalos de logística e a sabotagem a pretexto de questões ambientais, o Brasil será o único no mundo a possuir a cadeia completa da futura indústria de alimentos com alta tecnologia”, prevê. Embora afirme que os crimes ambientais devem ser punidos, lamenta a sua exposição. “Nossas escolas alimentam falsas notícias e reforçam difamações contra a agricultura, a pecuária e a Amazônia”, escreve. O ex-deputado foi relator do novo Código Florestal, aprovado em 2012. Na época de sua tramitação no Congresso, ele se aproximou dos ruralistas e acabou criticado por ambientalistas por anistiar o desmate ocorrido antes da promulgação da lei.

Em O Quinto Movimento, Aldo se declara contra o “ambientalismo neomalthusiano” – que pretenderia, segundo ele, expulsar a população da Amazônia. Agora, ele diz que as operações de fiscalização que voltaram a ser feitas pelo Ibama para conter o desmatamento visariam “desentropizar” a região. Sua mensagem calou fundo entre os grileiros e fazendeiros de Altamira. “Não podemos tirar esse povo daqui mais. Nós precisamos esclarecer como temos que produzir na Amazônia e aproveitar quem está fazendo certo, e quando chega fiscalização joga tudo no mesmo balaio”, afirmou Maria Augusta, a presidente do sindicato local de ruralistas.

Maria Augusta pede uma “força-tarefa” de regularização fundiária e ambiental na Amazônia, e Aldo Rebelo diz concordar que esse é o “grande desafio” da região. “Eu acho que há o óbice da estrutura do Estado, que não tem meios, não tem gente, e o outro é que acho que há setores que não querem porque a regularização consolida a atividade econômica da área, consolida a presença, a agricultura, a pecuária, o extrativismo”, afirma ele, sugerindo, de novo, uma conspiração.

Há um déficit de realidade nessas queixas. O governo Bolsonaro, que muitos dos fazendeiros de Altamira apoiaram e Aldo Rebelo evita criticar, desestruturou e reduziu as verbas de todo o sistema de regularização fundiária na Amazônia. O número de títulos concedidos diretamente pelo governo federal passou de 9.819 no seu auge, em 2014, para apenas um em 2019 e 753 em 2021, de acordo com estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) publicado no ano passado.

De chapéu-panamá na cabeça, Aldo Rebelo grava seus comentários no Canal Rural e seus vídeos na orla de Altamira, com o reservatório de Belo Monte às suas costas. Apesar de sua cautelosa negativa de político experiente, ele já é reconhecido como um potencial nome para representar a extrema direita desgostosa com Bolsonaro nas próximas eleições presidenciais. A vitória apertada de Lula e as imensas dificuldades de um Brasil polarizado deram início à corrida eleitoral muito mais cedo. Aldo percebeu que a Amazônia hoje é central e como paladino do Brasil iniciou uma campanha de ideologia agromilitar que afirma não ser eleitoral. “Se as pessoas defendem ou simpatizam com as ideias, propostas ou coisas que eu defendo, aí é uma opção das pessoas”, desconversa, diante da expectativa de seus apoiadores. Aldo, como o “agro”, quer ser pop – e está conseguindo.

O ENTÃO MINISTRO DA DEFESA ALDO REBELO PARTICIPA DE AUDIÊNCIA PÚBLICA JUNTO AO GENERAL VILLAS BOAS NA CÂMARA DOS DEPUTADOS, EM 2015. FOTO: LUCIO BERNARDO

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