Elas assumiram a linha de frente do movimento indígena e ocupam, hoje, cargos centrais no governo federal. Para as guerreiras da ancestralidade, defender seus territórios é defender a vida e o próprio corpo. No Acampamento Terra Livre de 2023, elas exigiram do governo uma política nacional de combate à violência contra mulheres indígenas e começaram a organizar a marcha nacional que farão em setembro
em Sumaúma
Território, vida, corpo. As palavras se interligam quando as mulheres indígenas discutem seus direitos. Elas se chamam de mulheres-terra, mulheres-semente, guerreiras da ancestralidade. Defensoras da vida, do meio ambiente e de seus territórios, estão cada vez mais organizadas para reivindicar seus direitos também a políticas públicas que protejam seus corpos de inúmeras violências. Hoje, todos os cargos centrais ocupados por indígenas no governo federal estão nas mãos de mulheres. Durante o 19º Acampamento Terra Livre (ATL), realizado entre os dias 24 e 28 de abril, em Brasília, capital federal, as indígenas organizaram plenárias específicas para discutir o papel da mulher no movimento e suas reivindicações.
Muitas lideranças, de diferentes povos, já iniciaram os debates também sobre candidaturas indígenas femininas nas disputas eleitorais de 2024 e 2026. Como lembrou a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, a criação da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), em 2021, foi crucial para unificar e “demarcar” a luta dessas guerreiras ancestrais. Em plena pandemia de covid-19, foram as mulheres, com sua marcha, que conseguiram deter o julgamento do marco temporal no Supremo Tribunal Federal (STF). As mulheres indígenas permaneceram sete dias acampadas em Brasília em protesto contra o julgamento, em 2021. A tese do marco temporal considera que somente podem ter direito a territórios os indígenas que os ocupavam no momento da promulgação da Constituição de 1988. Neste ano, a marcha está programada para setembro. O julgamento do marco temporal será retomado pelo STF possivelmente em junho.
–
“Nós não recuamos nenhum passo, e nem vamos recuar. É um momento histórico, onde nós, mulheres indígenas, por meio da Bancada do Cocar, estamos hoje dentro do poder Executivo, dentro do Congresso e estamos lutando também para ocupar o Judiciário. Isso é aldear a política. Precisamos romper o machismo instalado em nosso país. Precisamos romper com a violência que segue estuprando e matando as nossas meninas.”
Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, durante a plenária ‘Mulheres Indígenas’, no ATL 2023
“Temos potencial e capacidade de dizer como queremos caminhar, abrindo a porta para as outras mulheres. Fui a primeira mulher indígena advogada e a primeira mulher indígena a ser deputada federal. As mulheres indígenas estão fazendo história no Brasil.”
Joenia Wapichana, presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), ex-deputada federal
“A primeira pessoa que o governo Bolsonaro atacou foi uma mulher. E as pessoas perguntam: quem foi essa mulher? Foi a terra. Se a terra sofre injustiça, nós, mulheres, também sofremos.”
Célia Xakriabá (PSOL-MG), deputada federal e presidenta da Comissão da Amazônia e dos Povos Originários e Tradicionais, na Câmara dos Deputados
“A comunicação indígena é uma ferramenta de luta e resistência, importante meio de desmistificação, desconstrução, descolonização e denúncia da pauta indígena e ambiental.”
Samela Sateré Mawé, da equipe de comunicação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que organizou a realização do ATL 2023, e colaboradora de SUMAÚMA
“Venho no ATL há 13 anos. Se 13 anos atrás me falassem que nós teríamos uma ministra, uma deputada, que teríamos a presidência da Funai e secretários estaduais indígenas, muitos de nós estaríamos descrentes. Mas tudo isso está acontecendo, diante de nossos olhos.”
Narubia Werreria, secretária dos Povos Originários e Tradicionais do estado do Tocantins
–
A DEPUTADA FEDERAL CÉLIA XAKRIABÁ (DE VERDE) E MULHERES INDÍGENAS DE DIFERENTES POVOS OCUPAM A RAMPA EM FRENTE AO CONGRESSO NACIONAL, EM BRASÍLIA, APÓS PARTICIPAREM DE SESSÃO SOLENE EM HOMENAGEM À 19ª EDIÇÃO DO ACAMPAMENTO TERRA LIVRE. FOTO: MATHEUS ALVES/SUMAÚMA