Criminalizar atos contra população LGBTQIA+ é importante, mas mudar cultura homotransfóbica no Brasil é urgente, defende MPF

Coordenador do GT-LGBTQIA+ da PFDC participou de audiência pública que debateu projeto de lei que criminaliza a LGBTQIAfobia

MPF/AC

No Dia Internacional Contra a Homofobia, o procurador regional dos Direitos do Cidadão no Acre e coordenador do Grupo de Trabalho LGBTQIA+ da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), Lucas Costa Almeida Dias, apontou a urgência da necessidade da criminalização de atos de violência cometidos contra a população LGBTQIA+. O procurador da República participou de audiência pública na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira (17) na qual foi discutido o Projeto de Lei 7.292/2017, mais conhecido como Lei Dandara, em referência ao assassinato da travesti Dandara dos Santos, em 2017, em Fortaleza (CE).

Há mais de seis anos em tramitação no Legislativo, o projeto quer mudar o artigo 121 do Código Penal (Decreto-Lei 2.848/1940) e o artigo 1º da Lei dos Crimes Hediondos (Lei 8.072/1990). Com a alteração, o LGBTcídio – homicídio cometido contra homossexuais e transexuais por conta dessas condições – será incluído no rol dos crimes hediondos. Há 14 anos consecutivos, o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo.

Lucas Dias destacou, no entanto, que somente a criminalização não resolverá o problema. “A gente precisa pensar, sim, na criminalização, mas não podemos esquecer de ações educativas a respeito dessa mudança, e dessa cultura homotransfóbica”, explicou. De acordo com o procurador regional dos Direitos do Cidadão, o sistema da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão no Ministério Público Federal entende que a criminalização de condutas também é um instrumento de direitos humanos, no entanto, classificou o papel da educação em direitos humanos como imprescindível. Ele citou a Lei Maria da Penha e a Lei do Racismo para explicar que a criminalização sozinha não resolve a situação de violência. Na sua avaliação, essas leis não reduziram o número de crimes praticados, mas continuam sendo importantes pois transmitem a mensagem de que haverá consequência para determinadas condutas.

O procurador da República mencionou, ainda, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão 26, de 2019, que determinou o enquadramento das práticas de “homofobia e de transfobia” no conceito de racismo. Lucas Dias afirmou que, no âmbito do 3º Ciclo da Revisão Periódica Universal da ONU (2017-2022), o Brasil recebeu 11 recomendações relativas à proteção dos direitos da população LGBTQIA+, porém, dessas recomendações, seis foram consideradas “não cumpridas” e duas foram classificadas pelos demais países como “em retrocesso” no Brasil.

A audiência pública contou com a participação de representantes da sociedade civil, movimentos sociais e agentes públicos.

Lançamento Cartilha – O coordenador do GT LGBTQIA+ da PFDC aproveitou a oportunidade para informar sobre o lançamento do Guia Ministério Público e a Igualdade de Direitos para LGBTQIA+, que abordará novos conceitos e os direitos das pessoas LGBT. O lançamento será durante o Seminário Diversidade e Igualdade de Direitos, organizado pela PFDC e o Ministério Público no Ceará (MP/CE). As inscrições para o seminário já estão abertas.

Serviço – Seminário Diversidade e Igualdade de Direitos (evento híbrido)
Data: 19 de junho de 2023, das 8h30 às 12h
Inscrições: https://www.sympla.com.br/pfdcmpf (obrigatória a inscrição para emissão de certificado)
Local: Auditório da Procuradoria-Geral de Justiça no Estado do Ceará- MP/CE
Av. Gen. Afonso Albuquerque Lima, 130 – Cambeba – Fortaleza/CE

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