De Olho na Resistência mostra quem faz a reforma agrária no Brasil

Na semana da abertura da CPI do MST, o programa do De Olho nos Ruralistas ouve camponeses de Norte a Sul do Brasil, que contam suas histórias e falam sobre a importância da reforma agrária para suas vidas e para o país

Por Luís Indriunas e Luma Prado, em De Olho nos Ruralistas

— A reforma agrária é isso: acampar, conseguir a terra, conquistá-la, produzir, alimentar e trazer todo esse processo bonito e dizer pra sociedade: ‘Estamos aqui lutando por um ideal. Está na lei, nós temos o direito de sermos felizes, né?’.

Camponesa e coordenadora política do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná, Sandra Ferrer, conhecida como Flor, foi uma das entrevistadas pela equipe do De Olho nos Ruralistas durante a IV Feira Nacional da Reforma Agrária, que ocorreu de 11 a 14 de maio, no Parque da Água Branca, em São Paulo (SP).

O programa especial, com imagens da editora de vídeo Vanessa Nicolav, traz depoimentos de cinco assentados de Norte a Sul do Brasil, que contam suas histórias, o que trouxeram para feira e, principalmente, o que significa a reforma agrária para eles.

Lançado na quinta (18/05), o último programa De Olho na Resistência aponta uma realidade muito diferente da que pretendem desenhar os integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, instalada um dia antes. Composta majoritariamente por membros da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), a CPI tem como objetivo criminalizar as ocupações de terra feitas pelos povos do campo fica claro com a nomeação do ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles (PL-SP), para a relatoria. O deputado, eleito em 2022, já foi tema de um dossiê no especial De Olho no Congresso.

Assista aos depoimentos dos assentados no episódio do programa De Olho na Resistência:

ASSENTADOS DESTACAM A IMPORTÂNCIA DA TERRA PARA UMA VIDA DIGNA E SAUDÁVEL

Irismar Oliveira dos Reis é militante da Frente de Massas do MST e do setor de produção do Maranhão. Além de farinha, arroz e diversos produtos da Amazônia, ela trouxe a vontade de divulgar sua luta. “Que a gente possa estar divulgando o nosso projeto, que queremos construir, um projeto da classe trabalhadora, onde a gente possa produzir alimentos saudáveis, onde a gente possa ter acesso à terra e lutar pela dignidade do ser humano”, destaca Irismar.

Integrante da juventude do MST de Goiás, Tainara Viana França vive no Assentamento Canudos, em Campestre (GO), desde os dois anos de idade. “Eu produzo lá, eu vivo de lá”, conta a jovem. “Toda a minha vida social, a minha comunidade está toda estabelecida em cima daquela terra. Isso é a minha vida, né. A terra é a minha vida”.

Com mais de 70 anos, Geraldo José da Silva, do Assentamento Timboré, em Andradina (SP), foi pedreiro antes de entrar no movimento há 35 anos. Ele considera a feira uma forma de mostrar a luta. “Essa feira é para gente demonstrar para aquele povo que chamava a gente de vagabundo, quando nós estávamos acampados na beira da estrada, que eles estavam mentindo”, relembra o assentado. “Porque hoje nós provamos que nós temos competência para produzir, para comercializar, para industrializar e para administrar tudo isso. Então, nós somos mão de obra muito bem qualificada”.

“Eu venho de uma família muito pobre que morava em fazenda”, conta Maria Aparecida Pereira da Silva, da direção nacional do MST, por Pernambuco. “Já morei embaixo de ponte, embaixo de árvores. Então, quando chega a reforma agrária na minha vida, eu vi uma expectativa de vida”.

PROGRAMA APOSTA EM REPORTAGENS DURANTE A TEMPORADA

De 2021 até hoje, o De Olho na Resistência vem produzindo reportagens abordando a luta de quilombolas, indígenas e camponeses em seus vários aspectos e diferenças. Dos pescadores do Sergipe atingidos por petrolíferas aos dos camponeses paraibanos ameaçados por barragem, do uso da tecnologia em defesa do território às brigadas de incêndio indígenas. Nos últimos dois programas, a equipe esteve na Feira Nacional da Reforma Agrária e no Acampamento Terra Livre. Procurando ir além dos eventos em si, os programas discutem a importância do território para os povos do campo.

Nas eleições de 2022, De Olho na Resistência, sob a direção do jornalista Alceu Luís Castilho, apresentou as propostas e candidaturas indígenasquilombolas e camponesas alinhadas com as lutas e políticas para os povos do campo. No início deste ano, nossa equipe ouviu os representantes dos movimentos que começam a ocupar cargas na nova gestão.

Do seu formato inicial, a nova temporada manteve a seção De Olho na Cultura, onde são apresentados aspectos da cultura de quilombolas, indígenas e camponeses e o trabalho dos mais diferentes artistas relacionadas às culturas desses povos e suas histórias de resistência. A viola de buriti, tradição dos quilombolas do Jalapão; o regaste da confecção do manto Tupinambá, cuja técnica havia se perdido ao longo do tempo; ou a história de resistência camponesa das arpilleras chilenas, que reverberam no campesinato brasileiro, foram alguns dos temas abordados. Festas como Carnaval, Boi Bumbá e a Folia de Reis, tema da primeira reportagem dessa temporada, estão no cardápio.

A versão 2023 do programa trouxe como novidade a seção Brasil no Mapa, onde são apresentadas cartografias sobre os povos do campo, alimentação saudável e temas ambientais. A seção mostrou em sua estreia o mapa multilíngue da exposição “Nhẽ’e porã: memória e transformação”, com curadoria de Daiara Tukano, exibida no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo (SP).  O segundo programa destacou o mapa produzido para o projeto Brasil Sem Veneno, um levantamento inédito do De Olho nos Ruralistas em parceria com O Joio e o Trigo, que identificou 542 iniciativas de resistência aos agrotóxicos pelo Brasil.

Para assistir a todos os episódios do De Olho na Resistência, clique na nossa playlist no YouTube.

Imagem principal (De Olho nos Ruralistas/MST): A Feira Nacional da Reforma Agrária trouxe camponeses de 23 estados e o Distrito Federal para vender e divulgar suas produções. 

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.

um × cinco =