Neste ano de 2023 completa 6 anos do chamado Massacre de Pau D’arco, o maior crime no campo nos últimos 20 anos, desde Eldorado dos Carajás. Diversas organizações pedem justiça. Confira a nota a seguir.
O MASSACRE DE PAU D’ARCO E A SEDE POR JUSTIÇA
No dia 24 de maio de 2017, 10 trabalhadores rurais foram brutalmente torturados e assassinados por policiais civis e militares do Estado do Pará, no interior da Fazenda Santa Lúcia, localizada no município de Pau D’arco. O triste episódio ficou conhecido como Massacre de Pau D’arco que hoje completa seis anos.
A polícia alega que naquele dia teria ido até o local para dar cumprimento à 14 mandados de prisão temporária, porém, os relatos das testemunhas sobreviventes e a investigação revelaram que o que aconteceu de fato foi um verdadeiro ataque aos trabalhadores.
Os mandantes do massacre não foram identificados, mesmo tendo sido objeto de investigação pela Polícia Federal. Os 17 policiais, entre civis e militares, acusados de serem os autores dos crimes, respondem em liberdade exercendo suas funções normalmente na região, enquanto se aguarda a realização do Tribunal do Júri.
Os sobreviventes e testemunhas do Massacre, convivem constantemente com as tristes lembranças daquele dia e com o medo constante de novas ameaças. Os trabalhadores que naquela terra permanecem lutando pelo direito de produzir (200 famílias atualmente) estão ameaçados de despejo por decisão da Vara Agrária de Redenção.
Fernando dos Santos Araújo, sobrevivente e principal testemunha do massacre, teve de conviver a partir daquele dia. Fernando teve que se afastar de seu lote na Fazenda Santa Lúcia por mais de uma vez, e o motivo principal era o risco de ser assassinado, o que tristemente ocorreu na noite de 26 de janeiro de 2021. Onze meses de investigação revelou somente o executor do homicídio.
A violência no campo fez dez vítimas fatais naquele 24 de maio de 2017 e continua a fazer vítimas todos os dias àqueles que têm seu direito à terra e pão negado. Segundo os dados da CPT, em 2022 foram registrados no Brasil 2.018 ocorrências de conflitos no campo, envolvendo 909.450 pessoas, o que aponta que o país teve em média um conflito no campo a cada 04 horas.
Neste 24 de maio de 2023 a certeza que temos é que a nossa sede de justiça ainda não pode ser saciada. Somos violentados e temos sede de justiça quando nos deparamos com a impunidade após seis anos do Massacre de Pau D’arco, impunidade que gera medo às testemunhas e familiares das vítimas. Somos violentados e temos sede de justiça quando 200 famílias, que atualmente são responsáveis pela maior parte da produção de alimentos naquele município e região, têm seus direitos de plantar e produzir ameaçados por um despejo forçado. Somos, mais uma vez, violentados e temos sede de justiça quando os movimentos sociais, os trabalhadores/as rurais sem-terra, os defensores/as e entidades de direitos humanos são vítimas da criminalização pelo Estado. Somos violentados e temos sede de justiça a cada árvore derrubada ilegalmente na Amazônia, a cada vez que o garimpo invade terras indígenas, e ainda, a cada vez que a voz de um de nossos companheiros ou companheiras de luta é covardemente interrompida.
Por isso é que neste dia, em memória às vítimas do Massacre de Pau D’arco, pelo fim da impunidade e pelo direito à terra e a reforma agrária é que a acreditamos que a nossa sede de justiça ainda é uma forma de devolver a esperança aos que dela necessitam e de fortalecer o grito de basta a violência no campo!
“Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.” (Mt 5,6).
Comissão Pastoral da Terra – Regional Pará
Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Nova Vitória
Comissão de Direitos Humanos da subseção da OAB Xinguara/PA
Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos – SDDH
Instituto Zé Claudio e Maria – IZM
Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento Sem-Terra regional Pará
Foto: Mário Campagnani