Segundo Estadão, há uma disputa entre Ministério da Defesa e setores do governo brasileiro no que tange à política externa do país
O jornal Estado de São Paulo relatou, em reportagem publicada na segunda-feira (22/25), a existência de uma disputa entre o Ministério da Defesa e setores do governo brasileiro no que tange à política externa do Brasil. A informação é do jornalista Marcelo Godoy, que afirma que deputados petistas e o Itamaraty “pressionam” o presidente Lula para “enquadrar” os militares.
Segundo a reportagem, a cobrança vem principalmente após o Comando de Operações Terrestres (Coter) organizar o 1º Seminário Internacional de Doutrina Militar Terrestre do Exército Brasileiro, que acontece entre 30 de maio e 1 de junho, com representantes de diversos países, em especial os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas também do Mercosul, Brics, países árabes e outros, deixando de fora Rússia e China.
Além do evento em si, anunciado pelo general Theophilo Gaspar de Oliveira, que, de acordo com o Estadão, é considerado pelos petistas como “o mais bolsonarista dos generais do Alto-Comando”, o jornal afirma que o seminário, na visão dos petistas, explicitava o “comprometimento político dos convidados nas operações de multidomínio do exército dos Estados Unidos”.
O periódico conta que a demanda chegou ao presidente quando Celso Amorim, assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, mostrou a Lula um artigo do professor Manuel Domingos com o título: “Quo vadis, Lula?”. O texto de Domingos pede que o mandatário cumpra “sua tarefa diante de militares”.
Segundo o jornal, essa não foi a primeira queixa que Lula ouviu sobre as movimentações dos militares no que tange a política externa do país. A matéria de Godoy aponta que a possibilidade de que os militares “teriam uma política externa própria, em conflito com aquela que a diplomacia do governo do PT pretende exercer, é recorrente”, afirmando que essa ala governista acusa a Defesa de “alinhamento com os EUA e a Otan em detrimento da neutralidade pretendida por Amorim”.
Isso porque, durante a viagem do assessor especial a Kiev, no começo de maio, Amorim tomou conhecimento de que a pasta recebeu, em 27 de abril, uma nova solicitação da Ucrânia para a venda de 450 veículos do tipo blindado Guarani para serem usados como ambulância no conflito, e que a Defesa estava “analisando o tema”.
O Estadão destaca que, para os petistas, uma possível venda de blindados, ainda que fosse utilizado como ambulância, seria uma medida contrária à política de neutralidade, enquanto os militares, ouvidos pela reportagem, consideram importante a venda para a indústria nacional, e que nada impediria que o blindado também fosse negociado com a Rússia.
A reportagem aponta que os militares se surpreenderam com a atenção dada ao seminário. E que no dia 17 de maio, durante a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) manifestou o posicionamento dos petistas, dizendo: “uma estratégia nacional de defesa precisa ser aproximada da diplomacia”.
Zarattini também declarou na ocasião que, apesar da posição de neutralidade que o governo brasileiro tem tomado diante do conflito europeu, as forças militares estão interagindo com apenas um lado [Ucrânia], apoiado pela Otan.
Além de Zarattini, Arlindo Chinaglia, também do PT, usou o momento para criticar a “participação do Brasil no Comando Sul, com os Estados Unidos de fato no comando”. Ainda segundo o Estadão, as falas ocorreram diante do ministro da Defesa, José Múcio, e dos comandantes das Forças: Marcos Olsen, da Marinha, Tomás Paiva, do Exército, e Marcelo Damasceno, Força Aérea.
O artigo de Godoy aponta que poucos dos que estavam presentes na Comissão compreenderam os recados dos deputados, ou ainda que as queixas haviam chegado ao presidente Lula.
–
Wikicommons
Jornal ‘O Estado de S.Paulo’ aponta que Defesa do Brasil não tem praticado neutralidade sugerida pelo Ministério das Relações Exteriores