Por Giovanna Carneiro, Marco Zero Conteúdo
O Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, em parceria com a Casa Mulher do Nordeste e a organização não governamental Fase, realizou o Seminário Agricultura Urbana – Produzindo Comida de Verdade e Gerando Qualidade de Vida. O encontro reuniu mais de 50 agricultoras da Região Metropolitana do Recife para promover uma troca de experiências e celebrar a finalização do projeto de fomento à produção alimentar em hortas comunitárias e quintais produtivos em 15 comunidades.
Com o objetivo de incentivar as famílias a produzirem seus próprios alimentos em terrenos antes inutilizados e, assim, criar hortas comunitárias que possam fortalecer uma economia criativa e o acesso a alimentos de qualidade, o projeto atendeu 280 pessoas em 15 comunidades da Região Metropolitana do Recife.
A iniciativa de fomento à agricultura comunitária teve início em julho de 2022 e é fruto da emenda parlamentar do deputado federal Túlio Gadelha (Rede), aprovada por meio do Termo de Fomento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O projeto também tem apoio da organização Misereor.
De acordo com a assessora técnica do Centro Sabiá, Simone Arimatéia, o projeto possibilitou a criação de espaços agricultáveis dentro da cidade. “Locais que eram de confinamento de lixo ou áreas de aterro ganharam vida e começaram a produzir alimentos. Em um ano de projeto a ação implantou diversas hortas comunitárias e realizou o acompanhamento em lugares onde não se pensou que era possível produzir comida com qualidade”, disse a assessora.
Mulheres são protagonistas
Chama a atenção a forte presença feminina no encontro da agricultura urbana responsável pela criação das hortas comunitárias e quintais produtivos. A iniciativa do Centro Sabiá é composta por uma maioria de mulheres, que representam mais de 80% dos beneficiários do projeto, sendo 36% de mulheres negras.
“Nesses territórios onde estamos atuando o perfil majoritariamente encontrado é de mulheres. Mulheres mais velhas, maduras e algumas já idosas. Muitas delas são mulheres pretas, periféricas e em situação de vulnerabilidade social. Pessoas que já passaram pelo mercado de trabalho, mas que perderam o emprego e não conseguiram mais voltar ou pessoas que nunca nem estiveram no mercado de trabalho. Essas condições faz com que essas mulheres procurem espaços de acolhimento para conseguir tocar suas vidas e se envolvam em ações como essa, que proporcionam uma independência para elas produzirem o próprio alimento e de suas famílias”, declarou Simone Arimatéia.
A agricultora Dianira Lima, moradora da Vila Independência, no bairro Vasco da Gama, zona norte do Recife, é uma das beneficiárias do projeto e integrante da horta comunitária “Resistir é preciso”.
“Quando recebi o convite para participar da horta comunitária urbana foi um grande desafio, mas também uma oportunidade de adquirir muito conhecimento. E está valendo muito a pena porque lidar com a terra, aprender a plantar, a colher, cuidar e preparar a horta é de grande importância e nos proporciona a colheita da alimentação orgânica e saudável”, declarou Dianira.
Marleide Monteiro, moradora do bairro de Passarinho, no Recife, também integra o projeto e afirma que, graças à iniciativa, é uma agricultora em formação: “Eu me sinto, sim, uma agricultora porque mesmo em um espaço pequeno, um quintal, através das minhas mãos e do aprendizado com outras mulheres, eu também criei uma horta na minha comunidade e isso é maravilhoso”.
Articulação política da agricultura urbana
Além do processo de aprendizado da agroecologia e da doação de equipamentos para viabilizar a agricultura nas hortas comunitárias, as integrantes do projeto participaram de diversas atividades e encontros para tratar de temas variados como medicina popular e comercialização de produtos. A conexão entre as agricultoras resultou no fortalecimento da Articulação de Agroecologia e Agricultura Urbana e Periurbana da RMR.
“Um dos nossos objetivos neste encontro de encerramento do projeto é construir uma incidência política para poder pautar políticas públicas para a agricultura urbana na Região Metropolitana do Recife”, afirmou a coordenadora técnica pedagógica do Centro Sabiá, Anierica Almeida.
As agricultoras presentes no encontro avaliaram o Plano de Agricultura Urbana e Periurbana Agroecológica e Pesca Artesanal Urbana para a Segurança Alimentar na RMR, que foi produzido em formato de carta-compromisso nas últimas eleições e entregue a agentes políticos de Pernambuco. As reformulações apontadas pelas agricultoras, – como a garantia de acesso à água e um melhor mapeamento dos territórios – , serão incorporadas ao documento que deve ser aprimorado e apresentado aos políticos nas eleições municipais de 2024.
“Nosso objetivo com esse documento é procurar as prefeituras municipais para pressionar e buscar apoio na criação de leis e também na dotação orçamentária de políticas públicas para os agricultores familiares e também pescadores artesanais”, disse Simone Arimatéia.
Confira quais foram as hortas beneficiadas pelo projeto:
Horta Guerreiras da Palha – Comunidade Palha de Arroz, Recife
Horta Semeando Resistência – Comunidade Caranguejo Tabaiares, Recife
Horta Macambira – Comunidade Lab Macambira, Jaboatão dos Guararapes
Horta da Comunidade Vale da Paz – Maranguape I, Paulista
Horta Resistir é Preciso – Vila Independência, Recife
Horta Carolina de Jesus – Ocupação Carolina de Jesus, Recife
Quintais produtivos – Comunidade do Totó, Recife
Horta Creuza Maria – Tiúma, São Lourenço da Mata
Sementeira Esperança – Comunidade XV de Novembro, Paulista
Horta das Margaridas – Ocupação Aliança com Cristo, Recife
Quintais produtivos – Comunidade Passarinho, Recife
Horta Aeweossain – Sítio de Pai Adão, Recife
Ocupação Sítio dos Pescadores – Comunidade do Bode, Recife
Horta Popular Agroecológica Dandara – Peixinhos, Recife
Horta 8 de Março – Ocupação 8 de Março, Recife
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Crédito imagem: divulgação / Centro Sabiá