Funcionário do Derecha Diario acompanhou Eduardo em visita à Argentina “patrocinada” pelo dono do site durante campanha
Por Alice Maciel, Juliana Dal Piva, Laura Scofield, em Agência Pública
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) contratou um funcionário do consultor político Fernando Cerimedo para sua campanha de reeleição à Câmara dos Deputados, segundo a prestação de contas à Justiça Eleitoral. O funcionário também o acompanhou quando este esteve em Buenos Aires no dia 12 de outubro de 2022, em meio ao disputado segundo turno das eleições presidenciais, em viagem “patrocinada” por Cerimedo, segundo seu site, La Derecha Diario.
Menos de três semanas depois, após a derrota de Jair Bolsonaro (PL), Cerimedo fez um vídeo no YouTube com informações falsas sobre as urnas eletrônicas, que ajudou a inflamar o clima pós-eleitoral no Brasil. O argentino diz que sua atitude foi independente e que não recebeu nada por isso.
Eduardo escondeu que foi ao país vizinho em missão oficial, mas, em vez de exercer funções parlamentares, usou seu tempo para fazer campanha para o pai, o que, na avaliação de advogados ouvidos pela reportagem, pode configurar abuso de poder político.
É o que revela a investigação “Mercenários Digitais”, que busca rastrear o negócio da desinformação na América Latina. O projeto, feito em uma aliança entre a Agência Pública, o UOL e outros 22 veículos latino-americanos, além de quatro organizações especializadas em investigação digital sob a liderança do Centro Latino-Americano de Investigação Jornalística (Clip), detalha o papel de Fernando Cerimedo na disseminação de notícias falsas em campanhas da ultradireita no continente.
Eduardo Bolsonaro viajou a Buenos Aires acompanhado de Giovanni Larosa, que pouco antes havia atuado na sua campanha de reeleição. Segundo a prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele recebeu R$ 3.900 pelo serviço.
Larosa é correspondente no Brasil do site de Cerimedo, o La Derecha Diario, ao menos desde 2021. O portal, inclusive, fez a cobertura da viagem de Eduardo à Argentina. Além disso, de acordo com matéria do site, Larosa é “assessor do deputado para assuntos internacionais”.
Vinte dias depois, Cerimedo usou o canal do YouTube do La Derecha Diario para fazer uma live na qual divulgou um dossiê com dados mentirosos sobre as eleições. A live foi acompanhada por mais de 400 mil pessoas. O vídeo, desmentido pelo TSE e por agências de checagem, reforçava o discurso golpista de Jair Bolsonaro, que ao longo de todo o seu mandato tentou descredibilizar o sistema eleitoral brasileiro.
“Sou um herói para metade do país. Eles me chamam de argentino mais querido do Brasil”, afirmou Cerimedo orgulhosamente durante entrevista de duas horas concedida ao Clip por videochamada. O consultor político negou aos jornalistas do consórcio que tenha sido contratado pela campanha de Bolsonaro para fazer a live.
Ele disse que foi procurado por um amigo “que é um estudioso do Brasil e fanático por Bolsonaro”, que teria desconfiado de erros na contagem da votação. “Nem os militares nem ninguém do partido entrou em contato comigo antes da live. Eu não conseguia nem falar com Eduardo”, ressaltou, mesmo que semanas antes eles estivessem juntos.
De acordo com documentos obtidos pela Pública por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI), a ida de Eduardo Bolsonaro para a Argentina contou com apoio institucional do Itamaraty e da Câmara dos Deputados. Mas o parlamentar nunca informou publicamente o caráter oficial da viagem nem quem foi encontrar no país vizinho.
Esses dados não constam também em sua prestação de contas no portal da transparência da Câmara. Segundo a assessoria de imprensa, a viagem não foi paga pela Casa e teria como objetivo “fortalecer os laços para alcançar um crescimento econômico sustentado na Região”.
De acordo com as regras do Legislativo federal, os deputados viajam em missão oficial “para o cumprimento de deveres inerentes ao mandato”. No entanto, a agenda de Eduardo Bolsonaro na capital argentina, organizada pela equipe de Fernando Cerimedo, cumpriu objetivos estritamente eleitoreiros, tendo se reunido com figuras da extrema direita argentina e produzido vídeos a favor do seu pai para postar nas redes.
Para a presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-MG, Isabela Damasceno, o episódio pode configurar abuso de poder político, “tendo em vista que o cargo eletivo fora utilizado, inclusive com comunicado oficial que o deputado/agente público estava em missão institucional”, ressaltou. “Quando manifestamente não são localizados o evento e os atos a serviço do país que o deputado deveria ter realizado, se mostra ficcional a missão institucional, sendo nítido o desvio de finalidade”, acrescentou.
De acordo com o advogado Marcelo Weick, membro da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep), além de abuso de poder político, o caso pode configurar improbidade administrativa, uma vez que houve uso da máquina pública.
Disseminador de fake news
Disseminar fake news faz parte do trabalho de Fernando Cerimedo, segundo apurou o consórcio de veículos. E, para tal, o site de notícias La Derecha Diario, seu principal canal, é um caminho.
Além do La Derecha Diario, Cerimedo diz possuir outros 35 pequenos meios digitais. Em quatro anos, ele teve uma carreira meteórica: montou um grupo empresarial com sede em Buenos Aires, integrado por uma empresa de segurança privada, uma academia que oferece cursos sobre marketing digital – que diz ter parcerias com TikTok, Google, Meta e Twitter – e uma agência de publicidade, a Numen Publicidad.
Porém, em retorno, o Tiktok afirmou que “não existe parceria com essa empresa” e o Google disse que não encontrou “registro da empresa mencionada em nosso diretório de Google Partners”. Twitter e Meta não responderam.
Em seu site, a Numen Publicidad informa que utiliza “recursos tecnológicos exclusivos para posicionamento e comunicação de candidatos e governos, gestão e leitura da opinião pública”, e Cerimedo admitiu em entrevista ao consórcio que possui “um monte de trolls”. De acordo com ele, as contas falsas nas redes sociais não são utilizadas para atacar adversários, mas para enganar algoritmos e, assim, dar um melhor posicionamento às mensagens de seus clientes.
Porém, isso também é proibido pelas redes. Tanto os termos de uso do Twitter quanto os do Facebook banem “comportamento coordenado inautêntico” para amplificar ou suprimir informações artificialmente.
Ainda de acordo com o site da Numen Publicidad, a empresa já prestou consultoria política para 50 campanhas eleitorais na América Latina e Estados Unidos e possui escritórios em Buenos Aires, Santiago (Chile) e São Paulo. Entretanto, Cerimedo disse em entrevista que não possui escritório nem clientes no Brasil e que sua relação com Eduardo Bolsonaro é apenas de amizade.
A investigação transnacional identificou que o consultor político utilizou na Argentina e no Chile estratégias semelhantes às usadas no Brasil.
No Chile, por exemplo, Cerimedo atuou pela rejeição da nova Constituição proposta pelo governo de Gabriel Boric. Sua agência de publicidade publicou dados apontando uma menor diferença entre as pessoas que aprovavam e rejeitavam a realização de um plebiscito do que outros estudos – que se mostraram corretos.
Após a derrota da consulta sobre o novo texto constitucional dois anos depois, o La Derecha Diario divulgou uma reportagem alegando que Boric teve um “colapso nervoso”. Uma análise das redes sociais detectou que a hashtag #Boricinternado já estava em movimento minutos antes de a notícia ter sido publicada no site, o que pode ser um indício do uso de trolls.
O veículo de Cerimedo espalhou também informações falsas sobre o atentado ocorrido em 1o de setembro do ano passado contra a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner.
Apesar de as mentiras publicadas no La Derecha Diario terem sido desbancadas por diversos sites de checagem, o consultor nega ser um produtor de fake news. “Chamar-nos de desinformadores em série por duas ou três bobagens é a única maneira que eles têm de nos atingir. Sou contra as fake news”, afirmou. “La Derecha Diario é o único dos meus veículos que faz travessuras”, ameniza.
Viagem “patrocinada” por Cerimedo
O consultor político argentino foi o anfitrião de Eduardo Bolsonaro em Buenos Aires, às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais.
O deputado desembarcou na capital argentina em 12 de outubro, onde ficou até o dia 15, duas semanas antes do pleito. Durante esse período, Eduardo se encontrou com lideranças da extrema direita do país, deu entrevistas para veículos locais e gravou quatro vídeos para a campanha do pai. Tudo foi registrado pelo La Derecha Diario.
As imagens gravadas em Buenos Aires mostram Eduardo Bolsonaro entrevistando pessoas nas ruas da cidade, que reclamam da inflação e mandam mensagens a favor da reeleição de Jair Bolsonaro. O objetivo era convencer eleitores indecisos de que, se Lula fosse eleito, o Brasil entraria numa crise econômica semelhante à da Argentina, país que fechou 2022 com 94,8% de inflação. O presidente do país vizinho, Alberto Fernández, é aliado do petista.
“Como seria no Brasil se o presidente fosse do PT? Seria semelhante à Argentina”, escreveu o deputado na legenda de um dos registros da viagem, compartilhado em seu Instagram em 27 de outubro. Outros vídeos com teor semelhante já haviam sido compartilhados pelo parlamentar em suas redes sociais nos dias 13, 15 e 16, assim como nas redes do La Derecha Diario.
A viagem de Eduardo Bolsonaro foi comunicada em um ofício enviado em 10 de outubro pela Secretaria de Estado das Relações Exteriores (Sere) à embaixada do Brasil na Argentina. Ainda de acordo com a Sere, a viagem havia sido informada pela Secretaria de Relações Internacionais da Câmara. Publicamente, porém, a informação sobre a “missão oficial” foi omitida. Classificado como “urgentíssimo”, o documento informava a missão oficial do filho do então presidente Jair Bolsonaro a Buenos Aires “para participar do evento Ciclo de Atividades para Difusão das Ideias de Liberdade”, no período de 12 a 15 de outubro.
A agenda do parlamentar na cidade foi amplamente divulgada no La Derecha Diario. O portal noticiou que Eduardo Bolsonaro se reuniu na noite de 13 de outubro com lideranças de direita argentina, “com o objetivo de consolidar os diferentes espaços da direita e conseguir apoio comum para o líder máximo da direita na região: Jair Bolsonaro”. O encontro foi organizado por Fernando Cerimedo e sua esposa, Natalia Basil, diretora do Madero Media, segundo o portal.
Em seu último dia na Argentina, o parlamentar tomou um café da manhã privado com o deputado e atual candidato à presidência do país, Javier Milei, a deputada Victoria Villarruel e com Giovanni Larosa. Segundo o La Derecha Diario, “eles falaram sobre a importância de a direita estar conectada a nível regional e como é vital que Bolsonaro seja reeleito”.
Ainda de acordo com a notícia titulada “La Derecha Diario e Agencia Numen trouxeram Eduardo Bolsonaro à Argentina: os motivos e a agenda do filho do presidente”, foi Cerimedo quem “patrocinou” a ida de Eduardo ao país vizinho. Mas, em entrevista ao consórcio, ele negou: “Ninguém nos pagou nem nós pagamos nada”, disse.
O editor do portal e diretor executivo da Numen Publicidad, Ezequiel Acuña, ficou encarregado de acompanhar e coordenar a agenda do político brasileiro, segundo o portal. Em seu currículo, Acuña diz que é especialista em marketing político digital com experiência na Argentina, Chile e Brasil.
Acuña e Cerimedo aparecem em um dos vídeos publicados por Eduardo Bolsonaro em Buenos Aires a favor da campanha de seu pai. A imagem, compartilhada em 13 de outubro nas redes do parlamentar, mostra os três andando pelas ruas de Buenos Aires acompanhados de uma equipe de filmagem.
Na ocasião, Eduardo cumprimenta apoiadores de Jair Bolsonaro e em dado momento abre uma geladeira vazia em um supermercado e diz: “É o que faz o socialismo”.
Dois dias depois, Eduardo Bolsonaro postou outro vídeo da Argentina, em que ele aparece contando várias notas de dinheiro em um restaurante. Na legenda, escreveu: “Pagando almoço na Argentina. Se você não quer isso para o Brasil, vote Bolsonaro 22 e peça mais votos”.
Em todas as postagens que fez em Buenos Aires, ele marcou os perfis de Giovanni Larosa e do La Derecha Diario.
Marqueteiro “imparcial”
Os perfis do La Derecha Diario Brasil no Twitter, Instagram e Telegram foram suspensos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por disseminar mentiras sobre a segurança das eleições brasileiras.
A live “Brazil Was Stolen” (O Brasil foi roubado, em português), de 4 de novembro, foi repercutida por políticos e influenciadores bolsonaristas para inflamar o clima pós-eleitoral no Brasil, que resultou nos ataques golpistas de 8 de janeiro. Nela, Cerimedo apresenta a tese de que houve uma diferença de votos favorecendo Lula entre as urnas que teriam sido auditadas e as mais antigas, que, segundo ele, não passaram pela auditoria. Mas isso não é verdade: todas as urnas eletrônicas usadas nas eleições de 2022 passaram por auditoria e fiscalização.
Fernando Cerimedo fez ainda outras três transmissões com o mesmo teor nos dias 6 e 8 de novembro e 11 de dezembro. As gravações continuam disponíveis na plataforma Rumble, seja no canal de Cerimedo ou no de outros usuários. Uma das lives continua acessível no Facebook.
“Foi comprovado judicialmente que não espalhei desinformação. Minhas contas foram suspensas em novembro e eles me desbloquearam quando aconteceu o que aconteceu em 8 de janeiro, porque eles descobriram que eu não era o responsável”, disse Cerimedo em entrevista ao Clip. “Eu nunca disse que houve fraude no Brasil, mas que tinha que ser investigada”, argumentou, embora seus vídeos e postagens repitam que houve fraude. Além disso, as contas do La Derecha Diario continuam suspensas no Brasil por decisão do TSE.
A Justiça Eleitoral publicou duas notas desmentindo o consultor político, nos dias 9 de novembro e 20 de dezembro. A primeira resposta se refere à live de Cerimedo, em 4 de novembro. O TSE afirma que “todos os equipamentos utilizados nas Eleições Gerais de 2022 passaram por auditoria”. Já a segunda nota foi feita em resposta à live de 11 de dezembro: “Todas as alegações feitas pelo apresentador da transmissão são mentirosas ou estão gravemente distorcidas”, responde o tribunal.
Quando a live foi ao ar, o Brasil registrava dezenas de pontos de bloqueios nas estradas, iniciados após o resultado do pleito, em 31 de outubro. A fake news ajudou a manter os militantes bolsonaristas nas ruas e incentivou mais pessoas a se juntarem aos atos antidemocráticos que pediam intervenção federal, como foi o caso da dona de casa Luísa*, que conversou com a reportagem da Pública em 5 de novembro, sob a condição de anonimato.
Após assistir à live do consultor político argentino, ela vestiu sua camisa da seleção brasileira e foi para a beira da estrada, em Barra Velha, Santa Catarina, protestar contra o resultado das eleições.
“Não acredito em tudo que chega em meu WhatsApp. Eu e meus vizinhos nos reunimos e ficamos ontem até tarde da noite analisando os dados que ele [Fernando Cerimedo] apresentou”, justificou.
Motivada pela fake news, Luísa saiu de casa com suas três filhas quando o sol ainda despontava no céu, levou cadeiras, comida e água suficientes para passar o dia no ato.
Diante das câmeras, Fernando Cerimedo se apresentou como um sujeito imparcial, omitindo sua relação com Eduardo Bolsonaro e com a campanha do ex-presidente. Ele disse que havia recebido as informações que embasaram as mentiras “de entidades privadas”. “É importante esclarecer que esta informação não tem nada a ver com a campanha de Bolsonaro nem do governo. Essa informação chegou às nossas mãos por parte de entidades privadas”, ressaltou.
As mesmas mentiras foram repetidas em sua fala durante uma audiência pública no Senado, convocada pelo senador aliado do ex-presidente Eduardo Girão (Podemos), em 30 de novembro de 2022.
No evento, Cerimedo disse que o resultado eleitoral que deu a vitória a Lula era “matematicamente impossível de acontecer” e que “a paz do Brasil só acontecerá com uma auditoria e um voto de papel” – proposta que fora rejeitada em votação na Câmara dos Deputados.
Ao fim de sua apresentação, o consultor político defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro e pediu que a população brasileira fosse às ruas para “salvar o país”.
“Você pode até ter votado na esquerda ou se omitido por estar magoado com o presidente Bolsonaro, mas ele luta pela sua liberdade e pelo seu direito de se expressar”, disse. “Façam algo, agora, nesse momento, levantem de seus sofás, saiam para as ruas, lutem pelo futuro das próximas gerações e entrem para história. O Brasil é lindo e merece um povo que o mereça de verdade. Lembrem-se: o único supremo é o povo”, finalizou, repetindo o lema de protestos bolsonaristas.
Campanha de Eduardo contratou funcionário de Cerimedo
Um dos funcionários de Fernando Cerimedo que atua no Brasil é o brasileiro Giovanni Larosa, que recebeu ao menos R$ 3.900 para coordenar a campanha de reeleição de Eduardo Bolsonaro nas cidades do oeste de São Paulo, sob a rubrica “divulgação de propaganda eleitoral e apoio à campanha”, no período de 12 a 30 de setembro, de acordo com dados da Justiça Eleitoral.
Além de correspondente do La Derecha Diario Brasil, ele é apresentado no portal como assessor de Eduardo para assuntos internacionais. Em entrevista ao Cip, no entanto, Cerimedo diz: “[Esses serviços] não foram prestados nem para La Derecha Diario nem para Eduardo. É o brasileiro que viaja muito e faz vídeos. Ficou amigo de Eduardo e o leva para todo lado. De nossa parte, só pagamos diárias para ele fazer notas sobre a campanha”.
Em um vídeo postado por Eduardo Bolsonaro no dia 7 de outubro, Larosa aparece acompanhando o parlamentar em uma viagem a São Paulo. Eles entram no avião presidencial da Força Aérea Brasileira (FAB), onde também estavam Jair Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
A relação da família Bolsonaro com Larosa é anterior ao período eleitoral. Em 2021, ele divulgou sua visita ao Palácio da Alvorada quando levou o típico doce argentino, alfajor, para o então presidente. No mesmo ano, Larosa cobriu pelo La Derecha Diario o CPAC – autointitulado o “maior evento conservador do país”. Na ocasião, ele fez uma entrevista exclusiva com Jair Bolsonaro.
Com 77,5 mil seguidores no Instagram, 26 mil no Twitter e 39 mil no TikTok, Larosa gravou vários vídeos com os Bolsonaros durante a campanha e reproduziu ataques a Luiz Inácio Lula da Silva. Ele também ajudou a espalhar fake news sobre as urnas. Em 10 de novembro do ano passado, por exemplo, escreveu no Twitter: “Se não é possível garantir que as eleições no Brasil foram limpas, deve haver outra com maior transparência”.
Larosa compartilhou imagens da invasão de 8 de janeiro aos prédios dos três poderes em Brasília e escreveu notícias favoráveis ao ex-presidente para o La Derecha Diario ao longo de 2022.
Em 2021, Giovanni Larosa fez parte da equipe de Cerimedo contratada para a campanha da argentina Patricia Bullrich, presidente do partido de direita Proposta Republicana. A mesma equipe hoje trabalha para Javier Milei, candidato da ultradireita à presidência na Argentina e aliado político da família Bolsonaro. Repetindo a estratégia bolsonarista, Cerimedo solicitou informações ao governo argentino sobre o sistema eleitoral, para supostamente evitar irregularidades nas eleições.
Paralelamente, o consultor flerta com a campanha de Donald Trump. Em 22 de março, ele postou uma foto no Twitter tomando café da manhã com pessoas ligadas a Trump: “Grande café da manhã de trabalho esta manhã com Carlos Diaz Rosillo, principal assessor do Secretário de Defesa em Assuntos de Segurança Internacional do governo de @realDonaldTrump”, escreveu em espanhol.
Ao ser questionado se vai trabalhar com Trump nas próximas eleições, ele deixou o mistério no ar: “não posso compartilhar essa informação”.
Esta reportagem pertence ao Especial Mercenários Digitais, que revela empresas de marketing político ligadas à extrema direita. Mercenários Digitais é uma colaboração transnacional que reúne vários veículos da América Latina liderados pelo Centro Latinoamericano de Investigación Periodística (CLIP).
*Alice Maciel e Laura Scofield (Agência Pública), Juliana Dal Piva (UOL).
Três dias após o desbloqueio das rodovias em novembro do ano passado, manifestantes pediam intervenção federal nas margens da BR 101, próximo a Havan de Barra Velha (SC) (Clarissa Levy/Agência Pública)