O Ministério das Relações Exteriores pretende propor aos demais países amazônicos a criação de metas comuns de combate ao desmatamento durante a Cúpula de Belém.
A ideia é que os países da Amazônia articulem uma resposta conjunta à principal ameaça à sobrevivência da maior floresta tropical do planeta.
Em briefing para imprensa na última 3ª feira (1/8), representantes do Itamaraty abordaram as expectativas do governo brasileiro para o encontro da próxima semana na capital paraense. De acordo com a ministra Maria Angélica Ikeda, que dirige o departamento de meio ambiente da pasta, o Brasil quer costurar uma proposta com os vizinhos amazônicos para viabilizar um objetivo de desmatamento zero para toda a região. “Nós somos anfitriões dessa cúpula, ouvimos muito a posição de cada país a respeito. [Temos um] ideal de chegar a esse desmatamento zero na região, que acho que seria de interesse de todos”, disse.
O desmatamento zero na Amazônia é um dos principais objetivos de política ambiental e política externa assumidos pelo governo Lula. É a partir dele que o presidente vem atraindo novos financiadores internacionais para o Fundo Amazônia. Agora, com a Cúpula de Belém, a ideia do governo é revitalizar a cooperação entre os países amazônicos para fortalecer sua posição nas negociações internacionais sobre meio ambiente e clima.
“Obviamente, os temas amazônicos não podem ser resolvidos apenas por um país. Desde os anos 1970, quando se negociou o Tratado [de Cooperação Amazônica, TCA], se reconheceu que é necessário haver uma articulação entre os oito países que detêm o bioma”, disse a embaixadora Gisela Padovan, secretária de América Latina e Caribe do Itamaraty. “Estamos falando que os países se coordenem, se articulem e reforcem sua soberania pelos temas relativos à Amazônia”.
Em outro evento para a imprensa organizado ontem pelo Observatório do Clima, a cientista Luciana Gatti, do INPE, afirmou que a ideia de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030 pode estar chegando tarde demais e ser pouco ambiciosa demais, já que em algumas regiões da floresta sinais do colapso do bioma já são evidentes. Ela deu como exemplo o leste amazônico, que já se encontram mais árvores morrendo do que crescendo. “A gente tinha que estar determinando hoje um estado de emergência na Amazônia: é proibido desmatar e multa alta para quem tacar fogo de julho a outubro (…) As coisas estão muito piores e esse objetivo que a gente tinha lá atrás não serve mais. Não é só parar de desmatar, precisa recuperar floresta perdida.”
Gatti falou em evento de lançamento de uma proposta para a Cúpula da Amazônia, elaborada por um grupo de 52 organizações da sociedade civil, que os governos da Pan-Amazônia construam um protocolo ao TCA (Tratado de Cooperação da Amazônia) visando à adoção de medidas conjuntas para evitar que o bioma atinja o ponto de não-retorno, a partir do qual a floresta morre e se converte num ecossistema empobrecido, agravando ainda mais o aquecimento da Terra.
De acordo com a Folha, ainda não há clareza sobre como os temas mais espinhosos da agenda serão abordados pelos líderes dos países amazônicos em Belém – em especial, a exploração de combustíveis fósseis na região. Enquanto o Brasil ainda vislumbra a perfuração de poços petrolíferos na foz do rio Amazonas, a Colômbia defende o fim de novos projetos fósseis na região. Espera-se que o presidente colombiado Gustavo Petro reafirme essa proposta durante a cúpula.
CNN Brasil e O Globo também abordaram os principais pontos do briefing do Itamaraty sobre a Cúpula da Amazônia.
Em tempo: Ao Guardian, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima, comemorou a queda expressiva no desmatamento da Amazônia em julho na comparação com o mesmo período no ano passado. Os dados ainda são parciais, mas nos primeiros 21 dias do mês, o sistema DETER/INPE registrou alertas de desmate que somam 232km2; para comparação, em julho de 2022, a taxa de desmate foi de 1.487 km2. A redução registrada no mês passado reforça a queda acentuada do desmatamento amazônico desde o começo do governo Lula, em janeiro, com a retomada das ações antidesmate. “O principal motivo [para a melhoria dos números do desmatamento] é a decisão de Lula de buscar o desmatamento zero”, destacou Marina. “Precisamos agora caminhar para um novo modelo de prosperidade, menos predatório, menos danoso para as populações locais e para a floresta”.
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Bruno Cecim / Ag.Pará