Carta política da ASA reforça pauta das mulheres do Semiárido na Marcha das Margaridas

Centenas de caravanas do Semiárido estão neste momento na estrada e vão se juntar a mulheres de todo Brasil

Na ASA Nacional

Nestes dias 15 e 16 de agosto, Brasília sedia a 7ª Marcha das Margaridas. Centenas de caravanas do Semiárido estão neste momento na estrada e vão se juntar a mulheres de todo Brasil numa manifestação popular por direitos das mulheres camponesas, especialmente.

Confira a carta da ASA nesta edição, que traz como tema “Pela reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver!”

Mulheres do Semiárido em marcha pela reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver

Nós, mulheres do Semiárido, estaremos com toda nossa força e diversidade entre as cerca de 100 mil mulheres que devem ocupar Brasília na 7ª Marcha das Margaridas.

Mais uma vez, marchamos pelo direito de permanecer vivas e livres, acessando direitos e condições dignas para viver e ocupar nossos lugares. Antes e depois de Margarida Alves, assassinada em 1983, muitas outras companheiras tombaram e se tornaram sementes, dando origem a tantas outras que arregaçam as mangas e lutam contra o machismo, a misoginia, o racismo, a desigualdade social e falta de políticas públicas.

Não podemos mais conviver com o aumento do feminicídio, violência doméstica, perseguição ou violência política. Precisamos de amparo legal e políticas efetivas de combate à violência contra as mulheres, especialmente no campo, onde os instrumentos legais e rede de proteção social ainda são ineficazes.

Entendendo que o Bem Viver na nossa região é sinônimo de Convivência com o Semiárido, defendemos a garantia dos nossos territórios e o cuidado com os bens comuns. É preciso ter como prioridade a proteção dos biomas Caatinga e Cerrado, inclusive reconhecendo-os como patrimônios nacionais, e ações de enfrentamento à desertificação. A retomada de programas de acesso à água com garantia do processo pedagógico, pautando a participação social, a segurança hídrica, a segurança alimentar e nutricional, devem também está no centro de uma ação política no Semiárido.

O saneamento básico é outro ponto importante e que está diretamente ligada à vida das mulheres. Quando se trata do campo, sabemos que a ausência de acesso a água e à sanidade tem impacto direto na saúde das mulheres, pois estas tendem a serem responsabilizadas pelo cuidado da família. Defendemos a urgência em construir um Programa de Saneamento Rural apropriado a região semiárida, tendo como ponto de partida experiências que vem sendo realizadas por instituições de pesquisas e organizações sociais. Porém, esta ação precisa de fato minimizar o trabalho das mulheres, não sendo mais uma tarefa na rotina.

A pandemia afetou drasticamente a sociedade e mais ainda as mulheres. No campo, a saúde mental de meninas, jovens, adultas e idosas é hoje uma preocupação que deve perpassar a luta feminista e comunitária. Para reverter isso, é preciso garantir direitos, mas prioritariamente, a saúde de forma integral, o que requer esforços individuais, mas também exige investimento público. Sem saúde, as lutas se enfraquecem.

Ficamos felizes com a nomeação de mulheres, especialmente as negras, periféricas, nordestinas, no atual Governo Lula, mas desejamos que estas possam ter autonomia política e orçamento para fazerem chegar ações que contribuam com a efetividade de justiça social, especialmente para as mulheres.

Por fim, reforçamos os 13 eixos temáticos da Marcha das Margaridas, cujas propostas foram entregues em junho aos poderes executivos e legislativo federal, apontando a necessidade de assegurar: Democracia participativa e soberania popular; Poder e participação política das mulheres; Vida livre de todas as formas de violência, sem racismo e sem sexismo; Autonomia e liberdade das mulheres sobre o seu corpo e a sua sexualidade; Proteção da Natureza com justiça ambiental e climática; Autodeterminação dos povos, com soberania alimentar, hídrica e energética; Democratização do acesso à terra e garantia dos direitos territoriais e dos maretórios; Direito de acesso e uso da biodiversidade, defesa dos bens comuns; Vida saudável com agroecologia e segurança alimentar e nutricional; Autonomia econômica, inclusão produtiva, trabalho e renda; Saúde, Previdência e Assistência Social pública, universal e solidária; Educação Pública não sexista e antirracista e direito à educação do e no campo; e Universalização do acesso à internet e inclusão digital.

Nessa caminhada, nos encontraremos em Brasília com nossa alegria, nossa ousadia, nossa sede de direitos garantidos e liberdade. Queremos respostas concretas às nossas pautas! Faremos mais uma potente marcha e fortalecemos a Margarida Alves que está em cada uma de nós.

Agosto de 2023
Articulação Semiárido Brasileiro (ASA)

Arte: Lunna Farbis

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