Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) recorre a informações distorcidas e fake news para defender a tese do marco temporal em posts impulsionados nas redes sociais.
Para surpresa de zero pessoas, a bancada ruralista no Congresso Nacional mobilizou sua máquina de desinformação para distorcer o debate público sobre o marco temporal nas redes sociais. Por meio de postagens impulsionadas, a FPA espalhou informações de origem duvidosa e mentiras deslavadas para defender a tese que restringe o direito dos Povos Indígenas à demarcação de suas terras no Brasil.
Na Agência Pública, Giovana Girardi mostrou alguns exemplos da “campanha de medo” promovida pelos ruralistas. No post mais absurdo (e essa é uma disputa acirrada), o material da FPA fala de uma jovem mulher negra que conseguiu conquistar o “sonho da casa própria”, mas que perdeu tudo porque o bairro onde ela mora, no meio de uma cidade grande, virou território indígena. A FPA gastou quase R$ 800 nesse anúncio, que obteve ao menos 100 mil impressões. Meghie Rodrigues também escreveu sobre este absurdo na revista Piauí.
A desinformação aconteceu principalmente em maio, durante a tramitação do projeto de lei que legaliza a tese do marco temporal na Câmara dos Deputados. A proposta acabou sendo aprovada e atualmente está em discussão no Senado. Mais recentemente, as fake news voltaram a inundar as redes sociais com a retomada do julgamento do Supremo Tribunal Federal sobre a constitucionalidade da tese.
Por falar no STF, o julgamento sobre o marco temporal deve ser retomado no próximo dia 20, informou a Agência Brasil. Na semana passada, a Corte reiniciou a análise do caso, com os ministros Cristiano Zanin e Luís Roberto Barroso votando contra a tese, e o ministro André Mendonça, a favor. O julgamento foi interrompido com o placar de 4×2 contra o marco temporal.
Já no Senado, o relator do projeto de lei, Marcos Rogério (PL-RO), reconheceu que a votação da proposta só deve acontecer depois do julgamento sobre o marco temporal no Senado. De acordo com o Valor, o senador resiste a modificar o texto aprovado pela Câmara, mas diz estar aberto a eventuais vetos do presidente Lula a trechos da proposta.
Enquanto isso, o Estadão mostrou a opinião de gente que acompanha de perto o assunto sobre os reflexos de uma eventual aprovação do marco temporal em projetos comerciais entre empresas e populações indígenas. De acordo com a análise, o marco temporal pode enfraquecer os interesses indígenas e tornar essas comunidades ainda mais vulneráveis. “[A aprovação] pode incentivar ações de grilagem e violência, além de prejudicar os direitos conquistados dos Povos Indígenas”, afirmou Virgílio Viana, da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).
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Dark Stream / Agência Pública