Enquanto a ministra defende que o Brasil supere sua dependência de exportações de commodities, o governo segue pressionando a Europa contra as restrições comerciais antidesmatamento.
O Brasil precisa abandonar a pretensão de viver apenas do boom comercial de matérias-primas no mercado internacional, defendeu a ministra Marina Silva (Meio Ambiente e Mudança do Clima) em entrevista à Bloomberg. O avanço do agronegócio sobre a floresta é um dos principais fatores por trás da alta do desmatamento na Amazônia.
“Tem coisas que temos que abandonar, como a ideia de que o Brasil é uma potência agrícola porque tem muitas áreas e de que se pode converter a floresta em área agricultável. Essa ideia tem que ser abandonada. O desmatamento zero implica a atividade econômica somente nas áreas que legalmente podem ser usadas para aumento de produção por ganho de produtividade”, disse a ministra.
Enquanto Marina defende a superação do paradigma comercial baseado nas commodities, o Brasil segue jogando duro com a União Europeia para barrar a aplicação das novas regras antidesmatamento que podem prejudicar as exportações de produtos primários brasileiros ao mercado europeu.
A Deutsche Welle destacou a participação do Brasil na carta de países produtores encaminhada à UE no começo do mês. O texto condena o “caráter punitivo e discriminatório” da nova norma e pede mais diálogo com os países exportadores de commodities.
A pressão também acontece no âmbito das negociações do acordo comercial entre Mercosul e UE. De acordo com Assis Moreira no Valor, o bloco sul-americano encaminhou uma contraproposta aos países europeus na qual rejeita a imposição de regras unilaterais na área ambiental. O documento indica que o Mercosul está disposto a negociar um instrumento conjunto de comércio e desenvolvimento sustentável, “levando em conta a legislação interna das Partes e à luz das diferentes circunstâncias nacionais”.
Para a UE, a contraproposta do Mercosul – tida como genérica, de apenas duas páginas – pode servir como base para a retomada das negociações em torno do acordo comercial. A ideia dos dois lados ainda é finalizar as discussões antes do final do ano.
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Nádia Pontes