Último dia do encontro dos povos, teve oficina de fotografia e vitória dos povos originários
Por Cláudia Pereira, por Articulação das Pastorais do Campo / CPT
“Vamos minha gente que uma noite não é nada, vamos minha gente que uma noite não é nada, oi quem chegou foi as pastorais no romper da madrugada…”. Ao som do maracá e dança circular entre as árvores e os raios de sol da manhã começou o último dia do Encontro Nacional da Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais, realizado no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO), entre os dias 19 e 21 de setembro. A manhã do dia 21 foi dedicada à oficina de fotografia. Os comunicadores da Articulação das Pastorais do Campo apresentaram uma memória fotográfica do que marcou o contexto histórico das lutas populares no Brasil. O objetivo da oficina é incentivar a comunicação nos territórios utilizando os recursos das lentes fotográficas dos aparelhos celulares.
Após as orientações, os participantes se dividiram em grupos e vivenciaram a arte da fotografia na prática. Com seus aparelhos exploraram os espaços da chácara do Cimi e buscaram um tema para apresentar um painel fotográfico. “Foi bom esse momento porque eu precisava saber um pouco mais como tirar as fotos com mais qualidade. Eu sempre dependo da minha filha pra ajudar, mas agora acho que consigo fazer muitas coisas”. Disse Luzia Bezerra da Silva, camponesa de Itatuba (PB). Ao final da oficina, os participantes avaliaram o encontro e animaram os novos integrantes da coordenação executiva da Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Nestes dias de encontro os povos debateram a importância dos Protocolos de Consulta, que potencializa os processos de formação dentro das comunidades, refletiram sobre o fortalecimento das redes de articulações, pensaram sobre os processos de incidências a nível nacional e discutiram sobre as possibilidades de ampliar a formação para as lideranças. O debate sobre o Protocolo de Consulta foi o ponto alto do encontro, Vanusa Cardozo, uma das lideranças do Território Quilombola de Abacatal, Ananindeua (PA), compartilhou a experiência de construção do protocolo que a comunidade utiliza há seis anos.
Fortalecendo a luta dos povos indígenas a derrubada do marco temporal
No dia 20/09, os participantes do encontro se juntaram aos mais de 600 povos indígenas reunidos em Brasília (DF) que aguardavam o Supremo Tribunal Federal (STF), retomar o julgamento sobre o marco temporal. Momento fundamental para todos os povos acompanharem a decisão sobre os direitos constitucionais indígenas. Junto aos povos e sob uma tenda, os participantes do encontro acompanharam a votação por meio de um telão instalado ao lado do Supremo.
“Nós estamos aqui como Articulação dos Povos e Comunidades Tradicionais, para acompanhar esse momento importante e manifestar que somos contra essa tese que tenta nos inviabilizar. Por isso, estamos somando forças com outros povos indígenas de todo o Brasil para garantir o direito à nossa existência e direito à demarcação dos nossos territórios porque nós sempre existimos, somos povos originários e os nossos direitos são originais”. Manifestou Rosa Tremembé, do estado do Maranhão.
Naquele dia o placar do julgamento terminou em 5 a 2 contra o marco temporal e foi de grande a repercussão com o voto do ministro Dias Toffoli, que se posicionou contrário à tese do marco temporal.
“É muito importante para todos nós estarmos aqui neste dia, vamos fazer força para os nossos companheiros que sempre foram os primeiros donos dessa Terra, os indígenas. Hoje que retoma a votação precisamos fortalecer essa luta em nome do direito à vida”. Disse Adalgisa de Jesus, liderança tradicional da Bahia.
A força dos Povos e Comunidades Tradicionais fortaleceu a luta, os povos indígenas venceram. O Supremo Tribunal Federal encerrou a votação (21/09) e a tese foi derrotada por 9 a 2 pela Suprema Corte, portanto foi reafirmado o direito originário dos povos indígenas às suas terras. Uma vitória para todos os povos, porém a vigília continua diante das definições de propostas dos ministros e o enfrentamento ao PL 2903 que tramita no Senado Federal.
“A luta em defesa da vida
É uma batalha insistente
Tem espinhos, pedras, vitórias.
Mas o desafio é persistente
Não desanimemos por nada
Fé em nossa caminhada
Deus caminha com a gente.”
Daiane Carvalho, missionária do Cimi que atua com o povo Xakriabá no norte de Minas, encerrou o encontro recitando a poesia Resistir de Nilton Seixas do Cimi Regional Leste. Para ela, o encontro contribui para o fortalecimento de outras lutas através do intercâmbio que a Articulação das Pastorais do Campo proporciona.