Depois do gás, da internet e da TV por assinatura, milicianos cobram mensalidades de empresas do segmento solar e exigem contratação de serviços com eles.
Os tentáculos do crime organizado dominado pelas milícias no Rio de Janeiro agora avançam sobre a energia solar. Um representante da ABSOLAR, que preferiu não ter o nome divulgado por segurança, disse que, à medida que o setor cresce, mais relatos de problemas com milícias têm chegado ao conhecimento da associação.
No ano passado, uma companhia do segmento desobedeceu à ordem de contratar serviço de milicianos e, depois da terceira visita dos credores, recebeu uma caixa com uma cabeça dentro. Por isso, empresas estão evitando a região e até mesmo saindo do estado, informa O Globo.
“O Rio tem uma vocação natural grande para energia solar, mas com esse problema recorrente. Nossa sensação é que essa realidade acontece também no setor de habitação, telefonia, distribuição de energia. É um problema que todo mundo sabe, mas ninguém consegue atuar”, afirmou o representante da ABSOLAR.
Um engenheiro de outra empresa conta que liderou um projeto no Estado do Rio em seu emprego anterior. Tentou mais de dez terrenos para implantar uma usina, mas em todos havia a presença da milícia. Numa das investidas, o dono de uma área com potencial disse estar de acordo com o arrendamento, mas que o engenheiro precisava alinhar com “fulano”. Os empecilhos foram tantos que inviabilizaram o projeto e a empresa optou por se desfazer da área.
“O Rio adotou desde 2021, como outros estados, a isenção do ICMS para a aquisição de sistemas fotovoltaicos solares. Tal medida tem feito a demanda crescer. Mas, ao contrário de outros estados que promoveram a mesma medida, por exemplo, Minas Gerais, a curva de crescimento das plantas tem sido menor, tímida até. Em outras palavras, a transição energética, a conservação do nosso patrimônio ambiental estão ameaçados por um novo poder: o das milícias”, sentencia Samyra Crespo, ex-presidente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no Eco21.
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Fernando Frazão / Agência Brasil