Mesmo alertado sobre risco reputacional, diretor da instituição teria defendido crédito à AgroSB, de Daniel Dantas; apesar de embargos e multas ambientais, empresa conseguiu recursos.
Em gravações obtidas por O Joio e O Trigo e Repórter Brasil, falas atribuídas a um executivo do Itaú Unibanco revelam que o diretor de agronegócio da instituição, Pedro Barros, teria atuado para autorizar um financiamento de R$ 25 milhões à AgroSB, autuada diversas vezes por desmatamento na Amazônia e que tem um histórico de infrações ambientais. A empresa é o braço agropecuário do Grupo Opportunity, fundado pelo banqueiro Daniel Dantas.
Atualmente, a AgroSB tem 13 fazendas na região amazônica. Nessas propriedades há produção de soja, milho e cacau, além de pastagens para um rebanho de 110 mil cabeças de gado. Nos últimos 15 anos, a AgroSB recebeu R$ 344 milhões em multas ambientais, segundo o IBAMA, que mantém duas áreas da empresa embargadas.
Num áudio atribuído a Guilherme Treu, coordenador de estratégia ESG do Itaú, ele afirma que Barros insistiu pela aprovação do financiamento, mesmo após o time de análise socioambiental do banco classificar a AgroSB como de “risco alto”. A gravação teria ocorrido em reunião de Treu com sua equipe em 24 de maio de 2022.
Na reunião, integrantes do time de sustentabilidade falavam sobre um encontro, realizado dias antes, do Comitê de Risco Social, Ambiental e Climático (CRSAC) do Itaú Unibanco. O CRSAC tem a função de avaliar o histórico dos clientes, entre outras atribuições.
Na fala atribuída a Treu, ele define a AgroSB como “um cliente que Pedro Barros [diretor de agronegócio] está tentando aprovar”. Também no áudio, o diretor de risco do Itaú, Matias Granata, teria chancelado a concessão do empréstimo, mas com a seguinte ressalva a Barros: “Só não esquece que você me trouxe um caso de 91 autuações.”
A modalidade do crédito de R$ 25 milhões aprovada pelo Itaú no ano passado para a AgroSB – Cédula de Produto Rural (CPR), uma espécie de adiantamento recebido pelo produtor rural com base na projeção da sua produção – não contradiz as normas do Banco Central para questões socioambientais. Mesmo assim, especialistas afirmam que o empréstimo coloca em xeque a política de sustentabilidade do banco e de outras instituições financeiras brasileiras.
Em tempo: Enquanto Exército, Força Nacional, Polícia Federal e outros órgãos públicos federais realizam, desde segunda passada (2/10), uma operação de guerra para retirar invasores da Terra Indígena Apyterewa, no Pará, autoridades locais tentam brecar a operação em Brasília. Segundo a Repórter Brasil, é a segunda tentativa do governador do Pará, Helder Barbalho, do prefeito de São Félix do Xingu, João Cleber de Souza Torres, e do seu irmão, o deputado estadual Torrinho (Podemos), de suspender a desintrusão. A TI Apyterewa foi a Terra Indígena mais desmatada do país nos últimos quatro anos. O território é alvo de madeireiros, grileiros, pecuaristas e garimpeiros ilegais e já perdeu 106.000 hectares de floresta desde a sua criação em 2007, segundo dados do INPE. Para piorar o cenário, equipes responsáveis pela desintrusão detectaram um desmatamento de 1.125 hectares de floresta que pode ter sido feito por uma das técnicas mais agressivas e danosas para o meio ambiente e comunidades do entorno: o arremesso aéreo de agrotóxicos. O caso foi identificado na 5ª feira (5/10), num sobrevoo feito por agentes do IBAMA e da FUNAI, com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), detalha a Folha.
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o joio e o trigo