PPaulo Jordão, no Ver-O-Fato
O índio Agnaldo, da etnia Turiwara, foi assassinado a tiros ao amanhecer desta sexta-feira (10), dentro das terras que a empresa Agropalma diz ser dona, na divisa dos municípios do Acará com Tailândia, na região do Baixo Tocantins, nordeste paraense. Outro índio, Jonas, escapou de morrer por pouco, mas foi ferido na cabeça, perto de um dos olhos.
Um terceiro índio, José Luís, levou um tiro no peito, mas foi salvo pelo medalhão do cordão que usava, que amorteceu o impacto da bala. Os três faziam parte de um grupo de indígenas que sofreu uma emboscada no Vale do Acará, onde a Agropalma tem plantações de dendê, por volta de 5 horas da manhã de sexta.
A comunicação social do Ministério Público Federal (MPF) no Pará informou ao Ver-o-Fato que assim que tomou conhecimento da morte e baleamento dos indígenas, a procuradora da República, Meliza Alves Barbosa Pessoa requisitou à Polícia Federal a abertura de inquérito para apurar o caso.
Os índios seguiam em suas motos por uma antiga trilha, na direção da floresta, em busca de alimentos, como caça e pesca. As informações foram repassadas ao Ver-o-Fato por um líder indígena que testemunhou o ataque.
“Depois que a Agropalma proibiu a caça e a pesca que serviam para o nosso sustento, dizendo ser dona das terras onde nós vivemos, reunimos um grupo de cerca de 50 indígenas e seguimos por uma antiga trilha, a caminho da mata, em busca de comida”
“No meio da estrada – prossegue o indígena – apareceu uma caminhonete com cinco seguranças, que disseram ser policiais, desceram armados e jogaram gás lacrimogêneo. No meio da confusão que se formou, eles começaram a atirar em cima da gente, matando o Agnaldo e ferindo o Jonas e o Zé Luís”, disse o líder indígena ao Ver-o-Fato.
Segundo o líder, os seguranças danificaram as motos dos índios e ainda roubaram o telefone celular do indígena morto. Depois do ataque, outros seguranças chegaram e fecharam a estrada, deixando o grupo indígena encurralado até o anoitecer, sem socorro, comida ou água, afirmou.
“Somente quando anoiteceu é que eu consegui sair do cerco feito pelos seguranças e andei pela mata até chegar na vila Forquilha, por volta de 23 horas, onde pedi ajuda. Mandaram uma ambulância para o local, mas os seguranças da Agropalma não deixaram entrar e disseram que não havia ninguém ferido ou morto”, disse o líder.
Da vila Forquilha, o líder indígena seguiu de carona para a vila Palmares, onde procurou a unidade da Polícia Militar. Uma viatura seguiu para o local apontado, mas novamente os seguranças disseram que não havia ocorrido nada de anormal e a PM desistiu de entrar na área.
Na Delegacia da Polícia Civil local, depois de muita insistência, a autoridade policial providenciou a remoção do corpo do índio Agnaldo para o Instituto Médico Legal de Tucuruí. A liderança indígena disse por último que não sabe se foi aberto inquérito para apurar os fatos.
Com a palavra, a Agropalma
O Ver-o-Fato procurou a Agropalma – assessoria da empresa em São Paulo – para ouvir a versão da empresa sobre os crimes denunciados pelos indígenas. Ainda não obtivemos contato. O espaço está aberto à manifestação.
Atualização às 8h02
A assessoria de imprensa da Agropalma enviou ao Ver-o-Fato a seguinte nota:
“COMUNICADO À IMPRENSA: A Agropalma está aguardando a investigação dos fatos pelos órgãos competentes. A empresa se coloca à disposição das autoridades e irá colaborar com a elucidação dos acontecimentos”.
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Clemente Souza, mais conhecido como Quelé, ao lado de dois mausoléus que ficam às margens do rio Acará; empresa Agropalma ocupa a área e diz que no local não há cemitérios. Foto: Catarina Barbosa /Brasil de Fato