Por que existem mulheres e crianças palestinas presas em Israel

A troca de 50 reféns israelenses do Hamas por 150 mulheres e crianças palestinas presas por Israel revelam violações de direitos humanos anteriores à guerra.

A reportagem é de Marcelo Menna Barreto, publicada por ExtraClasse / IHU

A troca de 50 reféns capturados pelo Hamas durante o massacre de civis durante o dia 7 de outubro pela libertação 150 mulheres e crianças palestinas presas em Israel levanta uma questão que merece um olhar mais atento. Afinal, por que mulheres e crianças são mantidas em cárcere na maior democracia do Oriente Médio? Boa parte do mundo ocidental desconhece o assunto ou pouco repercute.

Essas mulheres e crianças que serão trocadas por reféns se encontram encarceradas por conta chamadas prisões administrativas, que permitem ao estado judeu deter quem considera necessário sem uma acusação formal e por períodos indefinidos.

“As prisões administrativas não requerem provas, tampouco acusações claras; na maioria das vezes não há acusação alguma”, afirmou ao Extra Classe o professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Bruno Huberman.

Segundo o professor – ele próprio judeu e crítico das políticas praticadas por Israel – não são poupadas mulheres, crianças ou idosos.

Pelo menos 350 pessoas foram presas desta forma em 5 de abril passado quando a polícia de Israel invadiu a Mesquita de al-Aqsa, em Jerusalém, durante o mês sagrado do Ramadã para os muçulmanos.

Na ocasião, as prisões foram condenadas por líderes de todo o mundo árabe e muçulmano e ocorreram durante a dispersão de protestos que estavam sendo realizados para impedir que grupos extremistas judeus realizassem o abate de cabras no complexo da mesquita, um antigo ritual do feriado da Páscoa que já não já vem mais sendo praticado pela imensa maioria dos judeus israelenses. O episódio teve ampla cobertura da imprensa local e internacional, tendo repercutido no mundo inteiro via Reuters, France-Presse e CNN.

Basta se indignar para ser preso
Para a jornalista Soraya Misleh, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino, o sistema de encarceramento por parte de Israel é intrínseco ao projeto que denomina de colonização e apartheid sionistas.

“Palestinos e palestinas são presos políticos e encarcerados pelo simples fato de existirem enquanto palestinos, o que também é resistência”, afirma ela que é filha de palestinos, mas nasceu no Brasil.

Tanto o professor Huberman quanto Soraya dizem que a várias crianças palestinas são presas por se revoltar e atirar pedras em tanques ou nas forças de ocupação israelense.

“Podem ficar até 20 anos nos cárceres, enfrentando tortura, maus tratos, negligência médica”, registra Soraya ao lembrar que não é de hoje que existem relatos de violações dos direitos humanos de palestinos sob detenção de Israel.

“No caso das mulheres e meninas, intimidação e ameaça de agressão sexual e estupro são parte das terríveis torturas, como muitos relatos demonstram”, completa a jornalista.

Na realidade, denuncia Soraya, “protestar contra a ocupação, denunciar a limpeza étnica e o genocídio nas redes sociais, simplesmente mandar uma mensagem sobre a situação brutal, ser familiar ou amigo de alguém estão entre as ‘razões’ para que (palestinos) sejam presas e presos”.

Presos administrativos são os reféns de Israel
Para Huberman, se de um lado muito se fala dos “reféns do Hamas”, de outro, é similar a situação dos presos administrativos de Israel.

“Prisão administrativa dá a ‘legitimidade’ de algo que é ilegal e é semelhante a sequestrar um refém”, entende.

Dados de organismos internacionais dão conta de que o número de palestinos detidos administrativamente quase que dobrou desde o ataque feito pelo Hamas em 7 de outubro.

Assim, informa Soraya, já seriam algo como 250 crianças e 95 mulheres nessa condição.

“Até então eram 5.200 (presos), incluindo 170 crianças e 33 mulheres. Vale observar que há dados de que em média 700 crianças são presas todos os anos pela ocupação israelense”, revela.

Ela vê a libertação das 150 mulheres e crianças como algo importante, mas não suficiente.

Lembrando que se trata de um acordo de pausa nos bombardeios, Soraya afirma: “Deve-se ampliar a pressão e mobilização pelo fim do apartheid, colonização, limpeza étnica e genocídio, o que se combina com a demanda pela libertação de todos os presos políticos palestinos”.

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