Ministra Anielle Franco é massacrada ao apontar o racismo ambiental nas tempestades no Rio, mas especialistas e imprensa saem em sua defesa e evidenciam temática
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, foi massacrada nas redes sociais após o forte temporal que atingiu o Rio de Janeiro e outras cidades da região metropolitana no fim de semana passado. A tragédia deixou 12 mortos, e uma pessoa permanecia desaparecida até ontem (16/1). Em municípios da Baixada Fluminense, como Duque de Caxias e Belford Roxo, ruas continuavam inundadas, e milhares de pessoas permaneciam ilhadas em suas casas ou desalojadas.
O ataque à ministra ocorreu quando ela disse o óbvio: as chuvas no Grande Rio evidenciaram o racismo ambiental e climático porque as áreas mais atingidas são sempre aquelas onde majoritariamente a população é preta e pobre. Ninguém morreu em Ipanema, no Leblon ou em Copacabana, na Zona Sul – aliás, ninguém morre por causa de chuvas nesses bairros “nobres”, a não ser em suas favelas, onde [surpresa!] a maioria dos moradores são pretos e pobres. Mas 12 pessoas perderam suas vidas nos subúrbios mais pobres, onde milhares tiveram suas casas invadidas pela água.
O racismo ambiental e climático destacado por Franco é um conceito que vem sendo abordado há cerca de 40 anos. Se houve algo positivo no ataque à Anielle foi o fato de vários veículos de imprensa, como Carta Capital, Estadão, O Globo, Metrópoles, Veja, Agência Brasil e Nexo, terem se preocupado em trazer o tema à tona de forma didática.
Diante da repercussão, a própria Anielle Franco retornou às suas redes sociais para explicar o que é o racismo ambiental e climático e como ele atua no Rio, destaca a Revista Fórum: “Quando a gente olha os bairros e municípios mais atingidos, a gente vê algo que eles todos têm em comum, que são áreas mais vulneráveis. Qual é a cor da maioria das pessoas que vivem nesses lugares, e que mais uma vez estão ali perdendo suas casas, seus comércios, seus empregos, seus sonhos, sua esperança e sua vida como um todo, lutas e lutas sendo perdidas? Qual é a cor da maioria das pessoas que moram nos bairros da periferia que não tem árvores, com sistema de escoamento de chuva e saneamento precário, com moradia que não é digna?”.
A própria ministra respondeu: “Quando a gente para pra pensar sobre isso, a gente sabe que não é coincidência quando dizem que favelas e periferias são quinze vezes mais atingidas que outros bairros. Não é natural que alguns municípios, bairros, periferias e favelas sofram com consequências mais graves da chuva do que outros. Isso acontece porque uma parte da cidade, do estado, não tem a mesma condição de moradia, de saneamento, de estrutura urbana, do que a outra. Também não é natural que esses lugares tenham a maioria da sua população negra. Isso faz parte do que a gente chama e define de racismo ambiental e os seus efeitos nas grandes cidades. Esse termo já vem sendo usado desde a década de 1980, quando ganha força nos Estados Unidos, mas muitos ativistas brasileiros sempre têm falado sobre as vulnerabilidades de certas pessoas e onde essas pessoas moram”.
No Correio Braziliense, o codiretor executivo do Observatório da Branquitude, Thales Vieira, reforçou que o que aconteceu no Rio é uma tragédia anunciada, pois medidas não são tomadas e “essa população é deixada para morrer”. “Por isso que a gente fala que o racismo ambiental é produto de uma intenção efetiva de não produção de políticas para essas populações. A omissão é uma forma de fazer política”, acusa.
O coordenador de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos, também criticou a atuação dos governos, ressaltando que as vítimas são, na maioria, pessoas negras e periféricas. “Fica cada vez mais perceptível que não estamos lidando somente com o despreparo dos governos no enfrentamento à emergência climática, mas com uma escolha política que viola o direito constitucional à vida.”
–
Fernando Frazão / Agência Brasil