Edições críticas da Bíblia da Septuaginta, a LXX. Por frei Gilvander Moreira

Partilhamos aqui mais “argumentos” indiretos que demonstram que a interpretação liberal e fundamentalista da Biblia, a que faz “os catadores de versículos bíblicos”, “não tem pé nem cabeça”, não passa de projeção de pré-compreensões de quem busca ser referendado nas suas opiniões de senso comum preconceituoso e contaminado pela ideologia dominante, por textos bíblicos, considerados inspirados.

Os manuscritos originais da Biblia se perderam. Temos uma série de manuscritos posteriores aos manuscritos originais. Primeiro, a Bíblia Hebraica foi traduzida para o Grego, na tradução chamada Setenta (LXX). Em seguida, foram feitas várias edições críticas da Bíblia da Septuaginta (Setenta, LXX), baseadas em manuscritos mais importantes como o Alexandrino, o Vaticano e o Sinaítico.

Existem conservados Códigos maiúsculos mais importantes do Texto Bíblico grego. Os manuscritos dos textos bíblicos antigos receberam o nome de Código, ou Códigos no plural. Códigos são escritos em pergaminho, em letras maiúsculas. Eles são feitos de pele de animais. A partir do século IV da Era Cristã se difunde sempre mais o uso do pergaminho. São escritos tanto em grego quanto em latim e datam do século IV ao XII da Era Cristã. Os que eram destinados a servirem como modelos para serem copiados eram escritos em letra maiúscula.

Os Códigos maiúsculos mais importantes[2] que trazem todo o Primeiro Testamento Bíblico com a tradução da Setenta (LXX) e o Segundo Testamento com algumas lacunas são: 1) O Código do Vaticano (B=03), identificado também com a letra maiúscula B e o número 03. Leva esse nome porque se encontra na Biblioteca do Vaticano. Ele é do século IV da E.C. Aparece no inventário do Vaticano desde 1475. Este é o Código mais importante; 2) O Código Sinaítico (S=01)pode ser identificado também pela letra S maiúscula ou a letra alef (= a do alfabeto hebraico) e o número 01. Foi descoberto em 1859 por Constantin von Tischendorf, no Mosteiro de Santa Catarina, no deserto do Sinai. Contém toda a Bíblia. Ele é do século IV da E.C. e, atualmente, encontra-se no British Museum de Londres; 3) O Código Alexandrino (A=02) é identificado com a letra A maiúscula e o número 02. Traz o Primeiro e o Segundo Testamentos. É do V século da Era Cristã. É conservado no British Museu de Londres; 4) O Código de Efrém (C=04) reescrito é identificado com a letra C maiúscula e o número 04. Contém o Primeiro e o Segundo Testamentos. É do século V da Era Cristã. Recebe este nome porque no século XII o texto bíblico foi raspado e em seu lugar escreveu-se em grego, as obras de Santo Efrém. Traz o Primeiro e o Segundo Testamentos com lacunas. Hoje se encontra na Biblioteca Nacional de Paris.

Códigos importantes que trazem parte dos escritos bíblicos: 1) O Código de Beza (D=06) é identificado com a letra D maiúsculo e o número 05. Beza é o nome de quem doou o Código para a biblioteca da Universidade de Cambrige, em 1581, motivo pelo qual é conhecido também por Cantabrigiensis. Contém os Evangelhos, os Atos dos Apóstolos nesta disposição: em latim na página esquerda, e em grego na página direita. Este Código é do século V da Era Cristã; 2) O Código Claromontano (D=06) é igualmente identificado com a letra D maiúscula e o número 06. Chama-se assim porque permaneceu por muito tempo no Mosteiro de Clermont. Traz as Cartas de Paulo na versão grega e latina. É do século V da Era Cristã. Encontra-se na Biblioteca Nacional de Paris; 3) O Código de Washington (W=032) é identificado com a letra maiúscula W e o número 032. O Códice é do século VI da Era Cristã. Contém os Evangelhos na ordem preferida pelos antigos do Ocidente: Mt, Jo, Lc, Mc. Encontra-se em Washington, nos Estados Unidos; 4) O Código de Koridethi (T=038) é identificado com o Teta grego maiúsculo e os números 038. Leva este nome por causa do nome do Mosteiro, situado sobre o mar Negro e conservado em Tíflis, capital da Geórgia. Traz os Evangelhos com lacunas. É do século VIII da Era Cristã.

Há ainda os códigos menores que não têm o valor que é atribuído aos Códigos maiores mencionados acima, mas contribuem muito para os estudos bíblicos: 1) O Código Freer de Washington, que traz os livros do Deuteronômio e Josué do séc. V da E.C.; 2) O Código Marchaliano Q, que traz os livros dos profetas. É do século VII da Era Cristã, e é conservado na Biblioteca do Vaticano, em Roma. Ele é importante pelo grande número de notas marginais que ele traz da Esapla de Orígenes; 3) O Código Chisiano 88. É do século X da Era Cristã, também é conservado na Biblioteca do Vaticano. Apresenta o texto dos profetas da Esapla, com os sinais diacríticos de Orígenes.

Notas:

[1] Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Exegese Bíblica pelo Pontifício Instituto Bíblico, em Roma, Itália; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG.

[2] ASSOCIAÇÃO LAICAL DE CULTURA BÍBLICA. Vademecum para o Estudo da Bíblia. São Paulo: Paulinas, 2005, p. 173-174.

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