Projeto contou com o apoio do Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Marabá/PA
Do blog Furo na Geografia (Rogério Almeida) / CPT
“Neste acampamento tem
Produção de alimento
E uma escola que ensina
A arte do movimento,
Para enfrentar o governo
Pra produzir seu sustento.
Enfrentando o latifúndio
Pra conquistar nossa terra
Numa luta desigual
Parece até uma guerra
Tem morrido no conflito
Trabalhadores sem-terra.”
(Trecho do cordel “As pelejas territoriais em Carajás
– A Saga Do Bicho Homem Contra Com O Capital”)
O trecho do poema acima faz parte do livro “A Destruição da Amazônia pela besta fera do capital e outros cordéis”, do dirigente sindical e ambientalista Francisco Valter Pinheiro Gomes, o Ceará do Pará. O livro será lançado em dois momentos no mês de março.
O primeiro lançamento será na próxima sexta-feira (01) às 09 h, na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), em Marabá/PA, e o segundo em Santarém/PA, no dia 07, no espaço cultural Quintal Sapucaia, a partir das 19 h, como parte do evento coletivo denominado de “Puxirum de Ideias”, que contará com lançamentos de obras de professores/as da Ufopa.
A obra reúne quatro livretos de cordel produzidos pelo escritor desde os anos iniciais da década de 2000. Além do que já citamos (“As pelejas territoriais em Carajás”) e o que dá nome ao título do livro (“A Destruição da Amazônia pela besta fera do capital”), ainda constam os cordéis “O Dragão da Mineração em Carajás” e “Acampamento de camponeses em Marabá de 2001 – a peleja construída e contada pelo trabalhador rural.”
No conjunto da obra, Ceará registra as formas de r-existência dos seus iguais, a exemplo do cordel que recupera a ação direta dos camponeses no início da década de 2000. Os grandes acampamentos de Marabá, como a ação ficou reconhecida, aglutinava perto de 20 mil pessoas na frente da sede do INCRA. O ato demonstra a enorme capacidade de organização do conjunto dos movimentos sociais ligados à luta pela terra, em plena conjuntura do avanço de políticas neoliberais.
As políticas públicas desenvolvimentistas impostas para a Amazônia também inquietam o cordelista. Nele, Ceará alumeia os sujeitos das pelejas das disputas pela terra, trata das violências, dos crimes contra os camponeses e camponesas e responsabiliza o Estado autoritário pelo avanço do capital sobre a fronteira.
Para além da pecuária, em outra obra, o migrante e sindicalista trata do poder da mineradora Vale, na região sudeste do estado, onde Ceará reside e r-existe. Por conta da hipertrofia do poder da mineradora, ela é considerada uma empresa maior que o estado do Pará. A mineradora expropria, proíbe acesso à terra, à floresta e ao rio. Vigia e processa os que ousam denunciar os seus abusos.
O livro conta com prefácio, apresentação, os dois artigos produzidos no projeto de extensão da UFOPA “Luta pela Terra na Amazônia”, uma entrevista com o autor e os respectivos cordéis. Presença marcante na cultura popular, os cordéis de Ceará do Pará alertam a todos de que a mão que lavra a terra, afronta as cercas do latifúndio e de terras griladas, também se indispõe com as palavras, antes, monopólio de poucos.
Para a impressão da obra, o projeto contou com o apoio da Cese (Coordenadoria Ecumênica de Serviço) e a Cafod, uma agência internacional de desenvolvimento ligada à Igreja Católica. O projeto de extensão “Luta pela Terra na Amazônia” é coordenado pelo prof. Rogério Almeida, do curso de Gestão Pública, com a contribuição das extensionistas Glenda Flávia Guimarães Cunha, Luana Vitória de Sousa Brito, Bianca Emanuelle Bezerra da Silva e Yasmin de Souza Corrêa.
Para a produção do livro, o projeto estabeleceu diálogo com o escritor, educadores da Faculdade de Educação do Campo da Unifesspa, em particular com o professor Haroldo de Souza, com o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Marabá.
Na jornada, os professores e pesquisadores Airton Pereira (Uepa) e Fabíola Pinheiro doutoranda da Unir (Universidade Federal de Rondônia) colaboraram em debates sobre as disputas territoriais no sudeste paraense e sobre escrita científica. O artista Rildo Brasil, de Marabá, assina a capa e outras ilustrações do livro, assim como Thulla Christina.
O autor – Ceara do Pará nasceu Francisco Valter Pinheiro Gomes, em Quixadá, Ceará, na década de 1960, mas aportou em terras paraoaras entre os anos 1980-1990, em contexto marcado pela agenda neoliberal e recrudescimento da luta pela terra, quando sucedeu os massacres de Corumbiara (RO) em 1995 e Eldorado dos Carajás (PA), em 1996. Ceará acompanhou os grandes acampamentos de camponeses em Marabá, neste período, fato que deu origem ao seu primeiro livreto de cordel.
Foi militante do Sindicato dos Trabalhadores e da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do Pará (Fetagri). Atualmente é dirigente do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores) e estudante do Curso de Educação do Campo, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Campus Marabá.
–
Imagem: Divulgação