Nildo Ouriques, novo diretor da EdUFSC, recusou pressão da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade da Universidade Federal de Santa Catarina, que recomendou retirada de apoio ao evento
por Duda Blumer, em Opera Mundi
A Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) decidiu manter seu apoio ao lançamento do livro Contra o Sionismo: breve história de uma doutrina colonial e racista (Alameda), do jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, após censura da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade (Proafe) da universidade.
O evento ocorrerá em Florianópolis, no próximo dia 3 de abril, no auditório Garapuvu, o maior da universidade.
O diretor da EdUFSC, Nildo Ouriques, que assumiu posse do cargo nesta quarta-feira (27/03), confirmou o apoio ao debate e ao lançamento “sem qualquer limitação”, bem como o debate sobre a resistência palestina que contará com a participação de Altman, do cartunista Carlos Latuff e do embaixador da Palestina no México, Fawzi El-Mashini.
A Proafe, na quinta-feira passada, pediu à editora que retirasse o apoio à atividade. Em nota, a pró-reitoria afirmou que Altman e Latuff são acusados de antissemitismo e podem, em suas intervenções, “trazerem novamente elementos de xenofobia, antissemitismo e discursos de ódio”.
“Essa manifestação tem por objetivo, não o de cancelar o evento, mas alertar a quanto a conduta anterior destes conferencistas. Por isso sinalizamos recomendações, tendo em vista que há apoio institucional ao evento”, disse o documento.
Na mesma quinta-feira (21/03), a Cátedra Antonieta de Barros, ligada à pró-reitoria, também emitiu um nota de protesto em relação ao evento de lançamento do livro. Segundo o documento, a escolha da Apfusc e a EdUFSC em eleger Altman e Latuff para o debate causou “estranhamento” porque são “dois atores que têm sido apontados pelas organizações antirracistas como percursores de ódio e antissemitismo”.
Breno Altman tem sido alvo de diversas ações judiciais promovidas pela Conib e pela Stand With Us, entidades pró-Israel. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) ingressaram como “amicus curiae” em uma reclamação constitucional ao Supremo Tribunal Federal (STF) encabeçada pela defesa do jornalista e fundador de Opera Mundi, Breno Altman, que visa impedir a censura a suas posições.
Latuff foi acusado, em 2012, de ser uma das figuras mais antissemitas do mundo pelo Centro Simon Wiesenthal por conta das charges que publicou em defesa dos palestinos. Na imagem usada para ilustrar a acusação, não há nenhuma alusão à religião ou à etnia judaica, mas apenas o então premiê, Benjamin Netanyahu, “torcendo” uma mulher palestina para coletar votos.
Na última terça-feira (26/03), a reitoria emitiu nova nota sobre o caso, que não questiona a posição de sua pró-reitoria, sem impor o cancelamento ou o adiamento: “Ponderou-se com a direção da Editora a conveniência e a oportunidade de realização do evento, bem como questionou-se sobre o apoio institucional da Edufsc, contudo sem imposições de cancelamento ou adiamento”.
“Veto a Breno Altman é vergonhoso”
A direção da Associação dos Professores da UFSC (Apufsc) criticou os posicionamentos da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade e da Cátedra Antonieta de Barros, no entanto. A Apufsc afirma que apoia o debate e o lançamento porque acredita que hoje na Faixa de Gaza há um genocídio. “Por Genocídio entendemos o desejo, o projeto e/ou plano de eliminar fisicamente um povo, um grupo étnico, uma nação”, afirmou a diretoria.
Respondendo aos argumentos contra Carlos Latuff, o sindicato de professores lembra que todos os sites que atacaram Latuff como antissemita são ligados a grupos sionistas. Quanto aos ataques a Altman, a Apufsc classifica-os como “um vergonhoso ataque ao direito à palavra e à opinião dissidente e não há nada em suas produções como jornalista que justifique isso”, declarou por escrito, a Opera Mundi.
Além disto, a diretoria lembrou as críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao genocídio em curso em Gaza: “Quando o presidente da República vem reiteradamente a público denunciar um genocídio do povo palestino, consideramos premente que a Universidade discuta este assunto. Lamentamos profundamente esse veto. Acreditamos que o debate precisa ocorrer, e quem quiser se contrapor às ideias dos debatedores, que peça a palavra e se junte ao debate.”
O sindicato também classificou os argumentos como “primários”, vindos de um “posicionamento estranho” de pessoas combativas na área de afirmação social e racial, que se consideram de esquerda.
Até o fechamento desta reportagem, a Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade, a Cátedra Antonieta de Barros, e a Reitoria da UFSC foram contatadas para esclarecerem seus lados no caso e obterem espaço para suas versões, mas não retornaram às perguntas enviadas. Caso respondam, Opera Mundi atualizará a matéria com suas respostas.
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Evento de lançamento de ‘Contra o Sionismo’ em Florianópolis acontece no próximo dia 3 de abril, no auditório Garapuvu