Ministro de Minas e Energia insiste em associar produção de petróleo e gás fóssil a desenvolvimento, ignorando cidades e estados produtores com graves problemas socioeconômicos.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, não se deu por satisfeito em tentar rebater – e não conseguir – a afirmação da secretária de Mudança do Clima do Ministério do Meio Ambiente, Ana Toni, de que o Brasil não tem qualquer plano de investir os recursos dos combustíveis fósseis em transição energética. Defensor declarado da exploração de petróleo “até a última gota”, inclusive na foz do Amazonas, Silveira ainda tenta associar petróleo a desenvolvimento econômico e social. E novamente se dá mal. Sem falar na sua eterna ignorância quanto à necessidade urgente de eliminação dos combustíveis fósseis para tentar conter as mudanças climáticas.
O ministro tentou incluir os investimentos em transição energética no Fundo Social do Pré-sal (FSPS), criado pelo governo de Dilma Rousseff em 2010 com recursos oriundos da produção de petróleo e gás fóssil, relata a Folha. Segundo Silveira, o fundo contaria atualmente com uma verba de R$ 33,8 bilhões e tem no seu escopo financiar iniciativas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. No entanto, o que ele não contou é que o mecanismo tem como prioridades investimentos em saúde e educação, e a transição é apenas uma possibilidade – o que comprova que não há plano, como disse Ana Toni.
Ainda à Folha, e também repercutido por Poder 360 e Brasil 247, Silveira disse que o Brasil deve produzir combustíveis fósseis até “conseguir alcançar IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) à altura dos países industrializados”. E completou: “O petróleo é uma fonte energética importante para combater desigualdade”.
Antes de associar combustíveis fósseis e desenvolvimento econômico e social, o ministro poderia ter consultado o mais recente Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU. Assim, veria que o Iraque, o 5º maior produtor mundial de petróleo em 2023, segundo a Administração das Informações de Energia dos Estados Unidos (EIA, sigla em Inglês) tem um IDH médio, de 0,673. A Nigéria, que faz parte do “Top 20” da produção mundial, registrou no ano passado um índice de 0,548, considerado baixo pela ONU.
O ministro nem precisa ir tão longe para verificar que petróleo e gás fóssil não são sinônimo de desenvolvimento. Macaé e Maricá, no Rio de Janeiro, Silves e Coari, no Amazonas, e Santo Antônio dos Lopes e Capinzal do Norte, no Maranhão, são cidades com grande produção de combustíveis fósseis. No entanto, o que se vê são desigualdades sociais e concentração de renda – uma característica global da indústria de petróleo e gás fóssil.
Em tempo: Em se falando de Alexandre Silveira, nada é tão ruim que não possa piorar. Também em entrevista à Folha, o ministro de Minas e Energia defende que o país “discuta” a exploração de gás fóssil por fracking, ou fraturamento hidráulico – técnica que usa água com areia e químicos para quebrar rochas profundas, em terra, e extrair o combustível. Para Silveira, tudo pode ser resolvido com “compensações ambientais”. O ministro também deveria escutar o relato de indígenas Mapuche, da Argentina, que estiveram no Maranhão no ano passado para fazer um alerta sobre os imensos impactos ambientais do fracking, prática permitida em seu país. Há uma tremenda pressão no estado para que se libere a poluente técnica para exploração de gás.
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Tauan Alencar/gov.br