Lula diz que vai explorar combustíveis fósseis na foz do Amazonas

Presidente adota estratégia de chamar exploração de “medição” e fala da distância entre bloco da Petrobras e foz, como se Amapá não fosse na Amazônia.

ClimaInfo

O presidente Lula insiste na exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas. Agora, resolveu adotar uma estratégia que a Petrobras usou após ter tido a licença para perfurar um poço no bloco FZA-M-59 negada pelo IBAMA: tentar renomear a atividade petrolífera. Como se isso fosse mudar seu fim, que é achar e produzir petróleo e gás fóssil.

Em entrevista à rádio Mirante News, do Maranhão, na 6ª feira (21/6), Lula foi categórico ao dizer: “Vamos explorar a margem [equatorial, região litorânea do Rio Grande do Norte ao Amapá que inclui a bacia da foz do Amazonas]”. Logo depois, emendou: “Por enquanto não é explorar, queremos fazer uma medição para saber se tem e qual a quantidade de riqueza que tem lá embaixo. E, se tiver, temos a Petrobras, a empresa de maior competência tecnológica para explorar petróleo em águas profundas”.

Outra fala de Lula, já mencionada em outras ocasiões, é tentar desvincular o FZA-M-59 e a região amazônica. O argumento – falho – é o mesmo: que o bloco está a quase 600 km da foz do rio propriamente dita.

“O pessoal fala: ‘mas é perto da Amazônia’. É o seguinte: é a 575 km da margem do Amazonas. Uma distância enorme e a gente vai fazer isso, primeiro certificar como vai explorar e quais são os cuidados que temos que ter”, disse.

O que Lula agora chama de “medição” e que a Petrobras chamou de “pesquisa” é o que a indústria petrolífera chama de “exploração”. A não ser que quisesse rasgar dinheiro, nenhuma petroleira no planeta faria isso se não fosse com esse objetivo: encontrar combustíveis fósseis. Perfurar um poço no FZA-M-59 para “medir” ou “pesquisar” é explorar petróleo e gás fóssil.

Lula ainda mencionou que a Petrobras não registrou nenhum acidente grave no pré-sal. Mas se esqueceu de que a petroleira abandonou um poço que começou a perfurar em uma área próxima ao atual FZA-M-59 por causa das fortes correntes da região da foz do Amazonas.

Assim, alegar a distância da foz é ignorar o alto risco que é perfurar um poço na região, como o IBAMA e a própria Petrobras constataram. E oculta também o fato de que o bloco está a 160 km de Oiapoque, no norte do Amapá, região que abriga Terras Indígenas e Comunidades Tradicionais e também é coberta pela Floresta Amazônica. Isso sem falar nos manguezais: Amapá, Pará e Maranhão respondem por 80% da cobertura de manguezais do país. Tudo isso pode ser severamente impactado pela atividade petrolífera, seja pelo risco de vazamentos de óleo, seja pela movimentação de pessoas, barcos e aeronaves.

Tentar contemporizar esse risco com a distância da foz do rio, ou mesmo achar que mudar o nome da bacia acaba com os percalços, como sugeriu o senador Marcelo Castro (MDB-PI), não vai diminuir os impactos locais e globais de se explorar petróleo e gás fóssil na Amazônia. Nem irá mudar a urgência do planeta em eliminar os combustíveis fósseis para conter as mudanças climáticas.

A defesa da exploração da foz do Amazonas por Lula foi repercutida por CNNValorPoder360InfoMoneyInvesting.com , epbrVejaTerraEstadãoCorreio BrazilienseRádio Itatiaia e Brasil 247.

Ricardo Stuckert

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