Com a ampliação do conceito de saúde, percebe-se ainda mais a necessidade dessas profissionais não apenas na cura. Na área esportiva, são essenciais para a preparação do corpo dos atletas – em especial os de alto rendimento
Por Solange Caetano, colunista do Outra Saúde
A cada quatro anos, a realização dos Jogos Olímpicos provoca uma onda de emoções pelo mundo, com bilhões de televisores e outros equipamentos ligados em todos os cantos. Ao vermos os recordes sendo batidos em cada edição dos Jogos, louvamos os atletas, eles merecem. Mas nem sempre nos damos conta de toda a estrutura e profissionais envolvidos para garantir a alta performance dos atletas.
A compreensão sobre a importância dessa equipe multidisciplinar é ainda recente no Brasil; ou pelo menos a aplicação desse conceito. Desde os anos 2000 e mais especificamente na preparação para os Jogos do Rio de Janeiro, em 2016, o Brasil começou a desenvolver políticas públicas como o programa Bolsa Atleta. Com esse financiamento, os desportistas passaram a ter condições de contratar psicológicos, nutricionistas, fisioterapeutas e outros profissionais; e isso resultou em mais medalhas para o Brasil em diversos esportes ou uma maior presença em finais de modalidades diversas.
O que muita gente desconhece é o papel da enfermagem esportiva, até porque é uma especialidade recente, reconhecida pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) desde 2019.
A enfermagem desportiva é uma especialidade que possibilita atuação do profissional em academias de ginástica, locais de treinamento desportivo, esportes olímpicos e paraolímpicos, entre outros. O profissional desenvolve ações de enfermagem buscando prevenção, promoção e reabilitação do atleta assim como o atleta de alto rendimento.
A relação da enfermagem com o esporte, historicamente, ficou restrita ao resgate em situações emergenciais de cuidado. Mas hoje, com a ampliação do debate sobre o conceito de saúde e as necessidades da população, atrelado à dinâmica formação do profissional de enfermagem, abre-se mais um campo de trabalho. A compreensão de corpo que prevalece hoje na sociedade e a divulgação de informações pela mídia sobre seus cuidados na relação com uma saúde melhor, contribui para entender a importância do enfermeiro esportivo.
No Brasil, há profissionais de enfermagem em diversos esportes, como futebol, vôlei, rugby, artes marciais. Enfermeiros podem ter funções de organização dos departamentos médicos dos clubes e funções administrativas. A previsão e a provisão de materiais mudam de acordo com o esporte, pois cada um tem suas especificidades.
Na área propriamente da saúde, há necessidade de que enfermeiros desempenhem manobras de APH e de ressuscitação em virtude de casos de morte súbita de atletas; atue também nos aspectos preventivos de lesões, acompanhamento da saúde, de condições de doping para evitar que os atletas ingiram substâncias consideradas ilegais.
Enfermeiros também podem atuar de forma imediata, mas não emergencial, em lesões esportivas, que geralmente são lesões do aparelho musculoesquelético e traumáticas nos esportes de maior impacto físico. Nossa atuação nessa área é muito diversificada.
Nestes dias em que o Brasil respirou os Jogos Olímpicos de Paris, destaco a atleta brasileira Nicole Silveira, dona do segundo melhor resultado nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, em Pequim. Ela ficou em 13º lugar no Skeleton (descida de trenó sobre o gelo). Ela mora no Canadá e conseguiu esse resultado apenas três anos e quatro meses após começar a praticar o esporte.
Após o evento, Nicole retornou ao seu trabalho como enfermeira, mas continua treinando para a nova edição dos Jogos de Inverno, dessa vez em Milão-Cortino, 2026.
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Créditos: ISMI