Mais de 50 lideranças participam do I Encontro de Mulheres Apanjêkra-Canela, no Maranhão

A formação organizada pelo Cimi Regional Maranhão foi realizada na TI Porquinhos; objetivo é fortalecer os quintais produtivos e os saberes

Por Andressa Algave, do Cimi Regional Maranhão

Mais de 50 lideranças participaram do I Encontro de Mulheres Apanjêkra-Canela realizado entre os dias 29 de julho a 1 de agosto na Terra Indígena (TI) Porquinhos, Aldeia Porquinhos, localizada no município de Fernando Falcão, no Maranhão. A formação faz parte de um programa realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão junto com os povos Canela desde 2022, anteriormente com o povo Memortumré, e agora com o povo Apanjêkra.

Durante os quatro dias, representantes do Cimi Regional Maranhão estiveram com as mulheres indígenas na Escola Indígena Moisés Canela, onde realizaram rodas de conversa sobre os saberes ancestrais do Ritual da Laranja, a Agroecologia, e as lutas pelos territórios livres e pelos Povos Sem Fome.

“A formação faz parte de um programa realizado pelo Cimi Regional Maranhão junto com os povos Canela, desde 2022”

O fortalecimento dos quintais produtivos foi o tema central da formação, que contou com uma palestra de introdução às práticas agroecológicas ministrada por Madalena Borges, indigenista do Cimi. Além da palestra, as mulheres aprenderam a produzir adubo orgânico com ingredientes acessíveis e receberam 100 mudas de laranja totalmente orgânicas, sem agrotóxicos. Após a distribuição, a equipe acompanhou o plantio das mudas nos quintais das mulheres.

“A formação foi uma oportunidade para destacar a voz feminina e revelar necessidades coletivas”, conta Rosana Diniz, da coordenação do Cimi Regional Maranhão. “Há uma necessidade de organização própria entre as mulheres, mas o encontro revelou necessidades nas áreas da educação, acesso à saúde e moradia, água e alimentação saudável. Elas também reivindicaram fortemente o apoio aos rituais, principalmente ao Ritual da Laranja”, explica Rosana.

“A formação foi uma oportunidade para destacar a voz feminina e revelar necessidades coletivas”

Temas como o machismo foram identificados desafios pelas participantes do encontro. “Outras necessidades foram evidenciadas, como o machismo e a pouca participação das mulheres nas decisões políticas, entre elas as ações relacionadas ao território. Elas observaram sobre a venda de madeira por alguns homens, comércio que segundo elas traz muitos prejuízos, seja na alimentação delas e das crianças, como também na matéria prima da natureza usada na construção de casas e artesanatos”, apontou a missionário do Cimi Regional Maranhão.

A barreira da língua e a falta de acesso ao letramento, mesmo na língua materna dos Apanjêkra, são reflexos da precariedade no acesso à educação. Apesar do desafio na escrita, as mulheres não deixaram de participar das dinâmicas de grupo. Apresentaram cartazes com desenhos de seus quintais atuais e dos quintais que querem ter, destacando a vontade de maior diversidade nas árvores frutíferas, e a criação de aves e suínos.

“A barreira da língua e a falta de acesso ao letramento, mesmo na língua materna dos Apanjêkra, são reflexos da precariedade no acesso à educação”

A alimentação e a segurança nos territórios foram alguns dos temas mais levantados pelas participantes. Nas rodas de conversa, elas relataram o aumento dos casos de doenças, a exemplo da diabetes e hipertensão, condições que integram o grupo das Doenças Crônicas Não-Transmissíveis (DCNT) ligadas à insegurança alimentar, e a necessidade da demarcação da TI Porquinhos como forma de garantir o Bem Viver.

Maria José Pahxity Kanela, da Organização das Mulheres Indígenas do Maranhão (AMIMA), destacou o sonho da demarcação da terra. “Eu queria que a terra fosse demarcada. A população está crescendo, as gerações estão crescendo, e onde vamos morar? Queremos a demarcação, queremos manter nosso Ritual da Laranja. Os nossos bisavôs deixaram essa cultura para nós, e o Cimi nos trouxe as mudas de laranja para apoiar. Vamos distribuir as mudas e fortalecer nosso Ritual e nosso território”, assegura a indígena.

“Eu queria que a terra fosse demarcada. A população está crescendo, as gerações estão crescendo, e onde vamos morar?”

O I Encontro das Mulheres Apanjêkra-Canela foi finalizado com uma demonstração do Ritual da Laranja. As mulheres se aprontaram com as cores do urucum e do jenipapo, foi feita a distribuição de laranjas, e os cantos foram auxiliados pelo cantador da aldeia, Luiz Otaviano. O encerramento contou com dança e cantoria, e um vídeo desse momento está disponível nas redes do Cimi Regional Maranhão, com a cobertura completa da formação.

“As mulheres se aprontaram com as cores do urucum e do jenipapo, foi feita a distribuição de laranjas”

Imagem: Mais de 50 lideranças participaram do I Encontro de Mulheres Apanjêkra-Canela realizado entre os dias 29 de julho a 1 de agosto na Terra Indígena Porquinho. Foto: Andressa Algave | Cimi Regional Maranhão

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