Foi um dos pensadores mais influentes do nosso tempo, conhecido pela sua análise crítica do pós-modernismo e pela sua firme adesão ao marxismo. A sua influência perdurará, alimentando novas gerações de críticos, pensadores e ativistas que procuram desmascarar as estruturas de poder na nossa cultura contemporânea.
A 22 de setembro de 2024, Fredric R. Jameson, um dos pensadores mais influentes do nosso tempo, conhecido pela sua análise crítica do pós-modernismo e pela sua firme adesão ao marxismo, faleceu aos 90 anos de idade. Jameson, cujas ideias remodelaram profundamente a teoria cultural contemporânea, deixou um legado que continuará a ressoar entre filósofos, críticos culturais e académicos empenhados em compreender a cultura no contexto do capitalismo tardio.
Vida e obra
Ao longo da sua carreira, Jameson explorou as ligações entre economia, política e cultura, publicando mais de uma dúzia de livros importantes, incluindo The Political Unconscious (1981), Signatures of the Visible (1992) e The Antinomies of Realism (2013). Além disso, como ilustre professor da Universidade de Duke, Jameson formou gerações de académicos que continuam a ampliar o âmbito da sua visão crítica.
Conceitos-chave
Um dos conceitos mais importantes de Fredric Jameson é a sua famosa injunção: “Historizar sempre!”, que resume a sua insistência em contextualizar todos os fenómenos culturais e sociais numa perspectiva histórica materialista. Para Jameson, a análise cultural deve revelar as contradições do capitalismo, mostrando como as formas culturais refletem e participam na dinâmica histórica do poder económico e político.
Em Postmodernism, or, The Cultural Logic of Late Capitalism, Jameson desenvolveu uma das suas ideias mais influentes: o pós-modernismo como um estado cultural intimamente ligado ao capitalismo avançado. Na sua opinião, o pós-modernismo não é apenas uma estética, mas um regime cultural que fragmenta a história, a identidade e a representação, eliminando as grandes narrativas e substituindo-as pela repetição vazia e pela superficialidade.
Outro dos seus conceitos-chave é o “inconsciente político”, que propõe que todas as obras culturais, mesmo as aparentemente apolíticas, contêm traços da luta de classes e dos conflitos sociais latentes na estrutura do capitalismo.
Na mesma obra, ele diria:
“…a história não é um texto, uma narrativa, mestra ou de outra espécie, mas, como causa ausente, é-nos inacessível a exceto sob forma textual (…) a nossa abordagem a ela e ao próprio Real passa necessariamente pela sua textualização prévia, pela sua narrativização no inconsciente político.” [1]
Legado
O legado de Fredric Jameson é inegável. A sua capacidade de integrar a teoria marxista na análise cultural permitiu-lhe abordar fenómenos complexos com um rigor inigualável. Ao analisar as manifestações culturais numa perspectiva dialética, Jameson não só contribuiu para repensar a relação entre ideologia e arte, como também revitalizou o pensamento crítico marxista no meio académico ocidental. O seu trabalho não se limitou ao diagnóstico do presente, mas esteve sempre orientado para o futuro, para a possibilidade utópica de transformação social e cultural.
Jameson será recordado como um pensador que, longe de cair no dogmatismo, soube manter um equilíbrio entre o rigor teórico e uma visão estética empenhada. A sua morte marca o fim de uma era na crítica cultural, mas a sua influência perdurará, alimentando novas gerações de críticos, pensadores e ativistas que procuram, tal como ele, desmascarar as estruturas de poder na nossa cultura contemporânea.
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Referências:
[1] The Politics Unconscious: Narrative as Socially Symbolic Act. Ithaca: Cornell University Press. Tradução: Documentos de cultura, documentos de barbarie: La narrativa como ato socialmente simbólico. Madrid: Visor, 1989. Tomás Segovia, trans.
Jameson no Salão de São Paulo em 2000. Foto de Fronteiras do Pensamento/wikimedia commons