Aurora Furtado faz parte do grupo dos 33 estudantes da Universidade que foram vítimas do regime militar e agora são homenageados pelo projeto Diplomação da Resistência
por Erika Yamamoto, em Jornal da Usp
“Estudante de psicologia assassinada pela ditadura militar em 10 de novembro de 1972, aos 26 anos, Aurora ou Lola, como era chamada, lutou corajosamente contra a ditadura que trouxe danos irreparáveis à sociedade brasileira. Nós nos movemos e respiramos nos espaços que Aurora ajudou a construir e é nossa responsabilidade continuar sua luta buscando um Brasil mais justo e inclusivo”, afirmou a diretora do Instituto de Psicologia (IP), Ianni Regia Scarcelli, na abertura da cerimônia de diplomação honorífica de Aurora Furtado, realizada no dia 30 de outubro.
A solenidade integra o projeto Diplomação da Resistência, iniciativa da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP) e da Pró-Reitoria de Graduação (PRG), e foi organizada em parceria com a diretoria do Instituto de Psicologia e o grupo Teia – Memória e Patrimônio Cultural do IP.
“Um momento como esse é tão fundamental quanto perturbador. As solenidades de entrega dos diplomas honoríficos aos estudantes da USP que foram brutalmente assassinados pela ditadura são uma tentativa de reparar o irreparável. São momentos fundamentais para reconhecermos a barbárie, para nos lembrarmos de que devemos enfrentar e lutar contra essas situações irreparáveis”, afirmou a vice-reitora Maria Arminda do Nascimento Arruda.
A pró-reitora de Inclusão e Pertencimento, Ana Lúcia Duarte Lanna, ressaltou que “essa não é apenas uma homenagem. É muito mais do que isso, é uma sessão solene da Universidade em que reconhecemos esses estudantes mortos como profissionais que não se formaram, mas que deveriam ter se formado. É exercer o lembrar como uma política de inclusão, de defesa das instituições democráticas, da construção da Universidade como uma instituição pública comprometida com o enfrentamento das políticas de desigualdade na sociedade brasileira”.
“Aurora Furtado teve seus sonhos e projetos de vida prematuramente interrompidos, vítima da arbitrariedade perpetrada pelo regime ditatorial iniciado no Brasil há 60 anos. A violência que resultou, de forma extrema, na perda prematura da vida de Aurora e de outros 32 jovens estudantes da USP, em decorrência de suas convicções políticas e da militância no movimento estudantil da Universidade, é inaceitável”, afirmou o pró-reitor de Graduação, Aluísio Segurado.
A cerimônia também contou com a participação do estudante André Carreiro Kohan, representante do Diretório Central dos Estudantes (DCE); da estudante Diana Badaró Marques, representante do Centro Acadêmico Iara Iavelberg; do diretor de Direitos Humanos e Políticas de Reparação, Memória e Justiça da PRIP, Renato Cymbalista; além de amigos, familiares e da comunidade do instituto.
Lola
Aurora Maria Nascimento Furtado, conhecida como Lola, era estudante de Psicologia da USP e participava do movimento estudantil entre os anos de 1968 e 1969.
Integrante da Ação Libertadora Nacional (ALN), passou a viver na clandestinidade quando entrou em vigor o Ato Institucional nº 5, até ser presa, torturada e morta por agentes da repressão, em novembro de 1972.
A versão divulgada à época pelos órgãos oficiais do Estado dizia que Aurora havia sido atingida por disparo de arma de fogo e morrido em confronto armado com agentes militares. Entretanto, investigações empreendidas ao longo dos anos identificaram evidências de que Aurora morreu em razão das torturas a que foi submetida.
“O Brasil tem uma história marcada pela violência, mas também marcada pela resistência popular. Multiplicar atos e marcos de memória e verdade sobre essas ditaduras é justamente o que renova a cada geração a defesa dos direitos humanos para todo ser humano, sem discriminação de credo, religião, cor da pele, identidade étnico-racial, de gênero ou sexual. Luto para nós é luta”, defendeu a professora do Departamento de Psicologia Social, Vera Silvia Facciolla Paiva, em seu discurso.
Vera é filha de Eunice Paiva e Rubens Paiva, deputado federal desaparecido político. Ela também é integrante da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Diplomação da Resistência