Participando sem medo de ser mulher: Coletivo de Mulheres da CPT se reúne em Hidrolândia (GO)

O encontro contou com momentos de mística, memória das mulheres que fizeram e fazem parte da história da CPT, partilha de experiências, cuidado coletivo e oficina de Arpillaria 

Por Heloisa Sousa, em CPT Nacional

Entre os dias 21 e 24 de outubro, o Coletivo de Mulheres da Comissão Pastoral da Terra (CPT) reuniu cerca de 37 agentes e coordenadoras da Pastoral em uma atividade no município de Hidrolândia, Goiás. Na noite de chegada, foi realizada uma dinâmica de acolhimento e cuidado coletivo.

No dia 22, as participantes da atividade puderam rememorar a trajetória dos 50 anos da CPT, trazendo a história e olhar das mulheres na luta por terra e território. Pela manhã, agentes de várias regionais que fizeram parte dos primeiros anos dessa caminhada fizeram relatos de suas experiências. Pompéa Bernasconi, agente histórica da CPT, contou sobre a formação da Pastoral e a luta à luz do evangelho contra a repressão na época. Em seguida, Ivaneide Minozzo, falou sobre as lutas no Mato Grosso do Sul, onde ela é agente, nesses primeiros anos de CPT.

 “Se o povo soubesse a força que tem, ninguém os dominaria” – Pompéa Bernasconi

Marina Rocha (CPT Bahia), Sônia Martins (CPT Rio de Janeiro) e Antônia Calixto (CPT Maranhão), por meio de vídeo, trouxeram seus depoimentos sobre a atuação, desafios enfrentados pela CPT e também por elas e a presença marcante das mulheres na caminhada, a exemplo de Irmã Dorothy Stang.

“A gente está indo para 50 anos, para o Congresso da CPT, e é impossível pensar os 50 anos da CPT sem revisitar a história das mulheres. Sejam as mulheres agentes da CPT ou as mulheres que estão longe, no processo de ocupar a terra, que resistem e que estão reconstruindo um novo jeito de ser, de saber e de fazer a CPT aqui e no Brasil”, destacou Sônia, que também apresentou sua perspectiva enquanto mulher negra na luta por terra no Rio de Janeiro.

Falou também Isabel Diniz, coordenadora da CPT Paraná, que foi a primeira mulher coordenadora nacional da CPT, no final da década de 90. Nesse período, ocorreu a reestruturação da instituição, das linhas de ação da Pastoral – que inclui o eixo temático das águas – e a realização do I Congresso da CPT, em 2001, que contou com forte presença das trabalhadoras e trabalhadores do campo e das florestas.

“A gente não pode cantar ‘pra mudar a sociedade do jeito que a gente quer’ e ter medo de realmente fazer isso.” – Maria Mendonça, coordenadora CPT Roraima

Dando continuidade, Amélia Romano, secretária executiva do Centro de Estudos Bíblicos do Mato Grosso do Sul (Cebi MS), trouxe a reflexão sobre a prática da CPT a partir da palavra de Deus e a presença da mulher no evangelho. “Precisamos fazer a leitura da Bíblia com os pés no chão da realidade, porque só assim vamos entender onde as mulheres estão na Bíblia”.

Bordando direitos

Ainda no dia 22, na parte da tarde, Elisa Estronioli, integrante da coordenação do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), apresentou o contexto histórico em que surge a arte das “Arpilleras”, prática chilena em que mulheres bordavam mensagens de resistência no tecido da juta. A prática, que funciona como ferramenta de organização e denúncia, é hoje muito utilizada pelas mulheres no MAB, que inspiraram as companheiras no encontro a contar suas próprias histórias por meio da arpillaria.

A partir da explicação de Elisa, as participantes se dividiram em grupos para partilhar sobre quem são, de onde vêm, suas trajetórias, desafios e realizações dentro da CPT. O momento, que se dividiu entre os dias 22 e 23, foi de aproximação e inspiração para que os grupos pudessem elaborar seus próprios bordados.

A oficina também contou com a escrita das cartas que acompanharam os bordados, onde questões como ancestralidade, acolhimento entre as mulheres, assédios, machismo, a construção de espaços seguros dentro dos movimentos e pastorais e a esperança de um futuro mais acolhedor foram levantadas. Além disso, a criação e fortalecimento dos espaços para contar as histórias femininas nas lutas, reafirmando as memórias das mulheres da CPT, foram reivindicados. “É preciso rasgar caminhos e romper as ideias de dominação”, destacou uma das participantes.

As cartas e artes produzidas durante o encontro serão publicadas nas redes da CPT Nacional. Fique de olho!

Foto: Heloisa Sousa

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