Aquecimento global pode levar o semiárido brasileiro à seca extrema

Falta de estratégias de adaptação ao aquecimento global na gestão de recursos hídricos pode levar à seca extrema.

Gabriel Valery, na TVT News

A negligência na incorporação de estratégias de adaptação ao aquecimento global na gestão de recursos hídricos pode levar à seca extrema o semiárido brasileiro. É o que indica um estudo recente publicado na revista Diálogos Socioambientais. A pesquisa, conduzida por membros do Laboratório Interdisciplinar Sociedades, Ambientes e Territórios (LISAT) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), destaca que, embora as políticas de gestão hídrica tenham avançado na convivência com o clima semiárido, elas ainda ignoram os riscos adicionais trazidos pelas mudanças climáticas.

O estudo, intitulado “A emergência da incorporação das Mudanças Climáticas na gestão de bacias hidrográficas do Semiárido Nordestino”, integra o dossiê Desastres e Adaptação da revista. Focado nas duas principais bacias hidrográficas da região – Rio Piancó-Piranhas-Açu e Rio São Francisco –, o artigo expõe a necessidade urgente de incluir medidas de adaptação climática nos planos de gestão. Enquanto o Rio Piancó-Piranhas-Açu banha os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte, o Rio São Francisco atravessa Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, sendo crucial para a sustentação de várias atividades econômicas e sociais.

O semiárido brasileiro, que abrange mais de 85% do território nordestino e parte de Minas Gerais, sofre com uma das maiores vulnerabilidades hídricas do país. A baixa precipitação anual e o planejamento deficiente acentuam as dificuldades da população local, refletidas em desafios econômicos, sociais e ambientais. Os pesquisadores alertam que, com as mudanças climáticas, esses riscos tornam-se ainda maiores. “A gestão nas bacias avançou consideravelmente, possibilitando uma melhor convivência com o clima semiárido, suas variabilidades e com as secas. Contudo, as mudanças climáticas acrescentam novos riscos”, afirmam. Eles enfatizam que, sem ações planejadas, a escassez de água na região pode se tornar mais crítica.

Seca

Durante a análise dos Planos de Recursos Hídricos das bacias hidrográficas, os autores observaram uma abordagem insuficiente das mudanças climáticas. Embora os planos mencionem a questão, falta uma proposta clara e eficiente de adaptação. Segundo os pesquisadores, a ausência de uma política coordenada e integrada para a adaptação climática pode comprometer a segurança hídrica da região, aumentando o risco de desastres naturais e intensificando as dificuldades em períodos de seca.

Essa situação, dizem, impacta especialmente a agricultura familiar e a pecuária, principais fontes de sustento para as comunidades rurais. “A escassez hídrica leva à perda de produção e limita a capacidade de subsistência dessas comunidades, aumentando a vulnerabilidade social e econômica”, pontuam.

Medidas sugeridas

O estudo também sugere medidas concretas para proteger as bacias do Rio Piancó-Piranhas-Açu e do Rio São Francisco, incluindo iniciativas de saneamento básico, recuperação de áreas de mata ciliar e nascentes, além de estratégias para melhorar a qualidade da água. “Se não houver uma resposta eficiente para minimizar esses riscos, a escassez de água se tornará mais crítica, afetando diretamente a segurança hídrica e a sustentabilidade ambiental das principais bacias”, alertam os pesquisadores.

Teixeira, doutor em Estudos Urbanos e Regionais pela UFRN, e Dias, doutorando no mesmo programa, juntamente com Andrade, graduanda em Gestão de Políticas Públicas, ressaltam a importância de ações coordenadas e do compromisso governamental para evitar uma crise de proporções ainda maiores. O apoio que receberam do LISAT reforça o papel da academia em influenciar políticas públicas para uma adaptação climática eficaz.

Foto: Rosenato Barreto

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