Na Saúde, como em toda a cena brasileira, é preciso mais e melhores políticas afirmativas. Avanços decoloniais das últimas décadas são importantes, mas apenas arranham a grossa camada de racismo. Luta das enfermeiras aponta um caminho
Por Solange Caetano, em Outra Saúde
De acordo com o Censo, em 2022, 55.371 pessoas ingressaram em universidades, faculdades e institutos federais pelo critério étnico-racial. Esse recorte de cotistas só é menor que o de 99.866 que estudavam em escola pública. Ao todo, 45.226 tinham renda per capita inferior a um salário mínimo e meio.
Esses dados mostram a importância de políticas públicas de ingresso no ensino superior, mas é preciso ir além; é preciso garantir permanência desses estudantes na universidade, porque muitos acabam deixando de estudar porque precisam trabalhar.
Há um problema concreto, a pouca presença de negros e negras em alguns setores da atividade econômica. E mesmo quando há maior presença, eles acabam ficando em posições menos valorizadas e sem cargos de chefia.Existe larga diferença racial nas atividades econômicas. Negros e pardos têm maior proporção em áreas como serviços domésticos (66,4%), construção (65,1%), agropecuária (62%) e transporte, armazenagem e correio (57%).
Já a proporção de trabalhadores brancos é maior nas categorias de administração pública, educação, saúde e serviços sociais (50,23%) e informação, financeira e outras atividades profissionais (56,6%).
Todos esses números mostram que, apesar de pequenas mudanças, persistem as profundas desigualdades sociais. É um quadro estrutural de desigualdades.
Neste mês da consciência negra reconhecemos os poucos avanços, mas para acabar com as desigualdades sociais, origem da discriminação a que os negros ainda estão submetidos nas diversas áreas da sociedade brasileira, é necessário ampliar as políticas públicas afirmativas, pois não é possível tratar de maneira igual aquilo que é muito diferente.
Aos estudantes negros que ingressam nas universidades é preciso garantir a permanência e trabalho qualificado após se formarem.
O que abordamos aqui é apenas um aspecto da luta que travamos ainda hoje para superar os fortes resquícios da escravidão que ainda hoje permeia a sociedade brasileira. Há outros nas demais camadas sociais que também precisam de atenção e reflexão neste novembro da consciência negra.
–
Mônica Calazans, enfermeira do Hospital Emílio Ribas e primeira pessoa a receber vacina contra Covid no Brasil (Foto: Werther Santana-OESP)