Análise: a realidade do emprego no Brasil

Reflexões sobre os desafios estruturais do mercado de trabalho brasileiro

Da Página do MST*

Nas últimas semanas, têm circulado notícias otimistas sobre o crescimento do emprego no Brasil. Contudo, a análise cuidadosa dos dados mostra um cenário mais complexo do que o apresentado por manchetes e interpretações apressadas.

O professor Carlos Henrique Horn, da Faculdade de Economia da UFRGS, organizou uma tabela com dados extraídos da PNAD/IBGE, que revelam, por si só, importantes questões sobre o mercado de trabalho no país. Em setembro de 2014, havia 70,5 milhões de trabalhadores empregados. Atualmente, apesar do crescimento econômico registrado, esse número está em 69,9 milhões. Ou seja, mesmo após uma década, o total de trabalhadores empregados não acompanhou sequer o crescimento vegetativo da população, que deveria ter gerado um aumento de mais de 20% em relação a 2014.

Além disso, a qualidade do emprego também é preocupante. Do total de 69,9 milhões de trabalhadores, apenas 40,6 milhões possuem carteira assinada, revelando que a precarização das relações de trabalho ainda é um desafio significativo. Entre os trabalhadores domésticos, majoritariamente mulheres, dos 5,7 milhões de profissionais, somente 1,3 milhão possui carteira assinada, o que representa apenas 20%. Essa estatística reflete o impacto limitado das regulamentações criadas durante o governo Dilma Rousseff, frequentemente ignoradas por empregadores.

Outro dado relevante é o índice de ocupação verdadeira da população economicamente ativa, que inclui aqueles que estão desempregados e à procura de trabalho. Este índice é de apenas 58,4%, o que significa que 42% dos brasileiros em idade ativa encontram-se na informalidade, correspondendo a aproximadamente 70 milhões de pessoas.

A situação financeira também acompanha essa vulnerabilidade laboral. Atualmente, cerca de 70 milhões de trabalhadores estão inadimplentes, registrados em serviços de proteção ao crédito. Entre os jovens de 16 a 24 anos, 30% não estudam nem trabalham, representando milhões de brasileiros à margem do sistema produtivo e educacional.

Diante desse quadro, é evidente que o Brasil precisa urgentemente de um projeto de nação que promova a inclusão de milhões de trabalhadores que permanecem à margem da produção, dos direitos trabalhistas e da previdência social. Este grupo, frequentemente negligenciado, representa um enorme potencial para impulsionar o desenvolvimento econômico e social do país. É necessário ir além da retórica e das propagandas para enfrentar os desafios estruturais do mercado de trabalho brasileiro e garantir um futuro mais inclusivo e sustentável.

*Texto escrito com base em pontos levantados por João Pedro Stedile.

Foto: Rafael Stedile

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