Em Conceição do Mato Dentro (MG), comunidades denunciam pressão da Anglo American por reassentamento

Segundo moradores, empresa quer acelerar processo para obter licença ambiental, desconsiderando necessidades locais

Redação Brasil de Fato

Moradores impactados pelo projeto Minas-Rio, da mineradora Anglo American, em Conceição do Mato Dentro (MG), lançaram um vídeo em que denunciam a pressão sofrida para aceitar reassentamentos, uma exigência para o licenciamento ambiental de uma nova fase do empreendimento. O material traz depoimentos de moradores e lideranças locais, revelando práticas coercitivas e falta de diálogo no processo.

De acordo com as comunidades de Passa Sete, Água Quente e São José do Jassém, situadas abaixo da barragem de rejeitos, a mineradora acelera negociações de reassentamento sem garantir qualidade de vida, segurança hídrica e infraestrutura para os moradores.

O receio em relação à expansão da barragem, com capacidade para 167 milhões de metros cúbicos de rejeitos, agrava o clima de insegurança. Estudos indicam que, em caso de rompimento, o tempo para os rejeitos atingirem essas localidades seria de apenas três a 10 minutos.

A rotina dessas comunidades inclui a realização de simulados de emergência, mesmo sabendo que não há salvamento possível em caso de emergência, com acionamento de sirenes, deslocamentos para pontos de encontro e uma série de reuniões, cadastramentos, medições e visitas técnicas.

“A gente não tem mais vizinho, pois os vizinhos foram saindo de qualquer forma. Não temos a sobrevivência como antigamente, não temos lazer”, afirma Darcilia Pires, moradora da comunidade Passa Sete.

Licenciamento vinculado ao reassentamento

A pressão aumenta com a proximidade do pedido de licenciamento para o segundo alteamento da barragem. Uma decisão judicial impede novas licenças até que todas as famílias sejam reassentadas fora da Zona de Autossalvamento (ZAS), mas as comunidades denunciam que a Anglo American desconsidera propostas que respeitem seus modos de vida e produção.

A Anglo American anunciou em 2023 a expansão do projeto Minas-Rio, considerado um dos maiores do mundo na exploração de minério de ferro. O empreendimento tem gerado controvérsias, incluindo deslocamento forçado, escassez de água e riscos de rompimento da barragem, em um estado ainda traumatizado pelos desastres de Mariana (2015) e Brumadinho (2019).

Mobilização popular e ações judiciais

Diante das adversidades, as comunidades decidiram lutar por seus direitos. Uma ação popular foi protocolada contra a empresa, que enfrenta críticas por falta de transparência e por condutas que, segundo os moradores, beiram a intimidação.

Organizações locais e movimentos populares denunciam que a mineradora usa o reassentamento como “moeda de troca” para obter licenças ambientais, desrespeitando acordos prévios e ampliando o sofrimento das populações atingidas.

De acordo com Geraldo Neto, advogado popular e integrante do coletivo de direitos humanos do Movimento Pela Soberania Popular na Mineração (MAM), a mineração chega na região sem consultar as comunidades, o que gera violências e vulnerabilidades.

“A principal vulnerabilidade é a do território, do direito ao território e à terra. As comunidades têm saído forçadamente dos territórios. As pessoas estão saindo forçadas, não porque querem, mas porque a mineradora chegou sem nenhuma consulta, o que gera uma série de danos, inclusive morais”, afirma ele. “Nas discussões do reassentamento, a violação é não reconhecer nenhum tipo de dano moral, focando apenas no dano material, sendo que existe uma série de danos morais relacionados a isso, como a memória e o histórico do local”, completa.

Edição: Ana Carolina Vasconcelos

Imagem: “Não temos a sobrevivência como antigamente, não temos lazer”, afirma moradora – Fotos: Marcelo Cruz (BdF)

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