Pesquisa aborda impacto da comunicação comunitária na promoção da saúde das favelas

Luiza Gomes, Agência Fiocruz de Notícias

Existe relação entre o trabalho dos comunicadores populares e as condições de vida de moradores de favelas? Estudo qualitativo desenvolvido pela Fiocruz em parceria com coletivos de favelas diz que sim. Provocados por experiências da Fundação junto a organizações populares durante a pandemia, a pesquisa aproximou comunicadores das favelas da Maré, Manguinhos, Jacarezinho e Alemão, no Rio de Janeiro, para verificar se as ações comunicacionais realizadas contribuem para a promoção da saúde nos territórios. No próximo sábado (30/11), os resultados serão apresentados no evento Circulando: Diálogo e Comunicação na Favela, na Escola Quilombista Dandara de Palmares, às 10h. O evento é gratuito e aberto ao público.

O projeto de pesquisa Geração cidadã de dados: cartografia de coletivos de comunicação comunitária para promoção da saúde é uma iniciativa da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), da Cooperação Social da Presidência da Fiocruz, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz) – por meio do Dicionário de Favelas Marielle Franco (Wikifavelas) – e de comunicadores da Frente de Mobilização da Maré, do Jornal Fala Manguinhos, do Instituto Decodifica (antigo LabJACA) e do Instituto Raízes em Movimento.

No sábado, a equipe apresentará, entre seus resultados: mapas digital e impresso com dados georreferenciados de coletivos de comunicação do Rio de Janeiro; episódios do podcast Radar Saúde Favela com dados da pesquisa e entrevistas; e verbetes do Dicionário de Favelas Marielle Franco sobre a relação entre a comunicação comunitária e a promoção da saúde.

A apresentação dos dados será feita em um dos territórios que colaborou na pesquisa como forma de romper com o estigma da favela ser vista pela academia como “objeto de pesquisa” – e não como produtora de conhecimento. “Fazer a devolutiva na favela de um trabalho como esse, construído em coletividade, o torna ainda mais potente, se tratando de protagonismo na produção de conhecimentos e dados sobre o que, de fato, entendemos por comunicação popular e comunitária”, declarou David Amen, jornalista, coordenador de comunicação e co-fundador do Instituto Raízes em Movimento.

Mapa da Comunicação Comunitária

O mapa produzido pela pesquisa-intervenção participativa – metodologia que inclui participantes “não-pesquisadores” nas decisões – já está disponível na plataforma ViconSaga. O mapa apresenta iniciativas de comunicação comunitária da Área Programática 3.1 (AP) do Rio de Janeiro e exibe os indicadores desenvolvidos pela instituição em parceria com coletivos locais. A área engloba 28 bairros, entre eles, Cidade Universitária; Penha; Brás de Pina; Olaria; Penha Circular; Cordovil; Vigário Geral; Jardim América; Parada de Lucas; Maré; Complexo do Alemão; Ramos; Manguinhos; e Bonsucesso, entre outros. A Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro possui dois de seus campi na região.

“Ao mapearmos estas organizações e construir com algumas delas esse processo de pesquisa, nós esperávamos fortalecer a capacidade dos coletivos de compreender e ter controle sobre os determinantes da saúde e a promoção da saúde da população e apoiar a construção de redes cooperativas”, explicou Cristiane d’Avila, jornalista e pesquisadora da COC/Fiocruz, coordenadora do projeto.

O mapa foi construído a partir da aplicação de questionário eletrônico distribuído entre os dias 2 de abril e 5 de maio de 2024, com o objetivo de identificar coletivos de comunicação comunitária em atuação na AP 3.1, suas principais ações, forças e fragilidades. Foram identificadas 27 organizações em atividade. Com as perguntas do formulário foram formados os Indicadores da Comunicação Comunitária e Saúde: 1) Autoidentificação do coletivo; 2) Infraestrutura disponível; 3) Recursos humanos; 4) Mídias sociais; 5) Impacto na promoção da saúde; 6) Promoção do acesso e da participação comunitária; 7) Conexões com outros coletivos.

“Ainda que produzam informação de altíssima relevância para o dia a dia da favela e, com isso, contribuam na promoção da saúde desses territórios, a escassez de recursos financeiros e a fragilidade estrutural permanente podem reduzir o impacto social dos coletivos em seus territórios. Considerando que a promoção da saúde é a articulação de saberes técnicos e populares, recursos públicos e privados para o enfrentamento e a resolução de problemas de saúde e seus determinantes, nós acreditamos que ações de comunicação promovem o acesso das pessoas a informações qualificadas sobre saúde (em seu sentido ampliado)”, argumentou o sociólogo Fábio Araujo, da Cooperação Social da Presidência e sub-coordenador do projeto.

Circulando: Diálogo e Comunicação na Favela

O evento anual é promovido pelo Instituto Raízes em Movimento desde 2017 e reúne uma ampla diversidade de atores culturais e produtores de comunicação. As atividades dessa edição vão ocorrer na sede da Escola Quilombista Dandara de Palmares. A proposta do evento é realizar atividades que ressaltem a cultura local e promoção de diálogos fundamentais para a favela. A programação inclui também rodas de diálogo, exposição de artes, dança, batalhas de MC’s com a Roda Cultural da zona Norte. No encerramento, arte e poesia com o já tradicional Sarau da Zilda, dessa vez realizado em parceria com o Leopoldina Hip-Hop.

Serviço:
Apresentação de resultados da pesquisa ‘Geração cidadã de dados: cartografia de coletivos de comunicação comunitária para promoção da saúde’
Atividade: Roda de conversa ‘Comunicação Comunitária é Saúde’;
Horário: 10h às 12h;
Local: Escola Quilombista Dandara de Palmares;
Endereço: Rua Sebastião de Carvalho, 36 – Complexo do Alemão – RJ;
Evento gratuito e aberto ao público.

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