Disparada de incêndios no Pará impulsiona recorde na Amazônia

Enquanto o Pará tenta conter a escalada do fogo, o Amazonas registrou uma queda significativa nos incêndios em novembro; ano deve fechar com recorde histórico.

ClimaInfo

Os dois maiores estados amazônicos vivem situações distintas em relação ao fogo. Enquanto o número de focos diminuiu consideravelmente no Amazonas no mês de novembro, o Pará experimentou uma escalada nos casos de incêndios florestais no último mês. A chegada da temporada chuvosa aliviou a crise causada pela seca no lado amazônida; já a intensificação das queimadas associadas ao agronegócio mantém o céu paraense coberto por uma densa fumaça.

Dados do INPE destacados pelo Poder360 indicam que o Brasil registrou 22.663 focos de calor em novembro, abaixo dos 26.819 focos identificados no mesmo mês no ano passado. A Amazônia concentrou a maior parcela dos registros de fogo, com 14.158 focos (62,5% do total), o que representa uma alta de 1,5% em relação ao mesmo mês no ano passado (13.940).

O Pará foi o estado com o maior número de episódios de fogo no último mês, com 9.555 focos registrados, seguido por Maranhão (4.046) e Ceará (2.475). Já o Amazonas registrou uma queda de 74,3% no número de incêndios, passando de 2.557 em novembro de 2023 para 656 no mesmo mês de 2024; o índice também está abaixo dos 797 focos registrados no mesmo mês no ano passado. O g1 deu mais detalhes.

Os números acumulados do fogo ao longo de 2024 devem colocar o ano entre os mais destrutivos da série histórica brasileira. Nos 11 primeiros meses do ano, a Amazônia experimentou 134.979 focos de incêndio, índice 43,7% superior ao registrado no mesmo período em 2023 (93.938) e abaixo apenas daquele registrado em 2007 (mais de 181 mil).

A situação no Pará é particularmente preocupante. Há semanas, cidades como Santarém estão cobertas por fumaça, o que afeta a saúde da população. O estado registrou mais de 53 mil focos de incêndio neste ano, o maior índice do país. De acordo com o INPE, a fumaça decorrente dos incêndios e queimadas já cobre uma extensão de cerca de 2 milhões de km2, atingindo estados vizinhos, como Amazonas, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.

“É uma infestação de fumaça. O céu está invisível”, disse o médico Luiz Fernando Rocha, da rede pública paraense, ao g1. “Em alguns lugares, por exemplo, não é possível ver o sol, e o cheiro de fumaça e fuligem é constante. As pessoas estão adoecendo, convivendo com essa fumaça sem medidas eficazes para resolver o problema”.

Mas a crise do fogo não é um acaso. Na Amazônia, ela tem origem e culpados bastante conhecidos – grileiros e desmatadores, que recorrem às queimadas para destruir a floresta e abrir terreno para o agronegócio. Aliás, agentes ambientais suspeitam que ao menos parte das queimadas seja uma reação à volta da fiscalização antidesmatamento sob a gestão do presidente Lula, com criminosos se aproveitando da seca para acelerar a devastação.

“Existe uma reação à mudança de chave. A política ambiental voltou a operar. E, obviamente, atividades clandestinas, criminosas, de alguma maneira alimentam as economias locais. Isso vai gerando revolta [dos criminosos]”, observou André Lima, secretário extraordinário do Ministério do Meio Ambiente (MMA) para controle do desmatamento, ao site Sumaúma.

“O desmatamento colabora para o agravamento da crise climática que já nos afeta diretamente com o regime irregular de chuvas, secas históricas, ondas de calor extremas e enchentes. Essa combinação de alteração climática provocada pelo homem com a degradação ambiental criou um cenário favorável ao uso criminoso do fogo para conversão da floresta”, explicou Mariana Napolitano, doWWF-Brasil, ao g1.

Para quem convive com a ameaça da grilagem e dos incendiários, como os Povos Indígenas, a resposta inadequada do poder público contra os verdadeiros responsáveis pelo fogo acaba intensificando seus efeitos. Em entrevista à Repórter Brasil, a ativista Alessandra Munduruku criticou as ações dos governos federal e estadual paraense contra as queimadas no estado.

“Muitas vezes os governos federal e estadual fazem discursos muito bonitos para fora [do país]. E, na realidade, aqui essa fumaça está acontecendo, mesmo com toda a tecnologia de satélite para monitorar onde está o fogo”, disse a ativista. “A gente já está doente com mercúrio, com comida industrializada, e agora, vamos adoecer nossos pulmões por conta das queimadas”.

Mayke Toscano/SECOM-MT

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